08 abril 2013

António Costa (PS) e a Classe Política

António Costa, em menos de 3 minutos,  na "quadratura do círculo" arrasou a Classe Política Europeia.
Eis o que ele disse:
“A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no têxtil. Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir. E portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável. Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado. E portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer… podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!
A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste. Esta mentira só é ultrapassada por uma outra. A de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados. Colossais fraudes. Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.
Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o orçamento do estado. A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma. A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção. Os exemplos sucederam-se. A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha. E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso. A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas 16 e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público. Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas. Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que renegociar as parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos... Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos.
Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia."

02 abril 2013

A produtividade e os objetivos com que foi criada a crise financeira nos USA e na Europa

Ouvem-se agora amiúde os arautos do liberalismo desregrado tecer hinos de louvor à crise, a quem chamam de oportunidade(s), enaltecendo as suas virtudes na melhoria da produtividade. Recentemente Avelino de Jesus, professor do ISEG, Instituto Superior de Economia e Gestão, no programa Olhos nos Olhos, na TVI24, nesta segunda-feira 01-4-2013, defendeu que na origem da crise portuguesa esteve a produtividade  reduzida dos trabalhadores portugueses, uma das mais baixas da Europa. Defendeu também que essa baixa produtividade era causada pelo tecido económico Português ser maioritariamente constituído por PME, com baixa proporção Capital / Trabalho.
Defendeu ainda que a austeridade traz como benefício o expurgar as pequenas e médias empresas, do tecido produtivo por estas não possuírem a proporção de capital acima de um certo limiar que permitiria uma produtividade idêntica à dos países economicamente mais desenvolvidos.
Esta ideia dos políticos neoliberais que campeia em alguns meios universitários e é até defendida por alguns académicos de peso, é um embuste e a sua justificação um reles exercício de pseudo ciência para enganar os incautos e apanhar os ignorantes das verdadeiras leis de funcionamento da actividade económica.
A definição de "Produtividade" dada por este professor no citado programa é a clássica utilizada nas escolas de economia e que resulta da definição dada pela CE . (citação da Wikipédia pag. visitada em 02-04-2013).
"Em 1950 a Comunidade Económica Europeia apresentou uma definição formal de produtividade como sendo o quociente obtido pela divisão do produzido por um dos fatores de produção. Dessa forma, pode-se falar da produtividade do capital, das matérias-prima, da mão-de-obra, etc.mão-de-obra, materiais, energia, etc.). Por isso, associa-se a produtividade à eficiência e ao tempo: quanto menor for o tempo levado para obter o resultado pretendido, mais produtivo será o sistema " 
De acordo com esta definição pode-se chamar Produtividade Total no processo produtivo ao rácio:  Ptot = Preço de venda / (a.Preço do Capital + b.Preço do Trabalho) em que a e b são coeficientes de ponderação "arbitrariamente" atribuídos.
A fórmula acima pode-se reescrever como  Ptot = (PV/PC)/(a+b(PT/PC)) . Nesta última expressão vê-se claramente que quanto maior for o rácio Capital/Trabalho maior será a produtividade, sendo limitada superiormente pelo quociente: Preço de Venda / Preço do Capital.
Isto que dizer em resumo que a produtividade é máxima se suprimirmos os trabalhadores do processo produtivo, isto é, se a produção for toda automatizada: sem gestores, sem economistas, sem empregados de escritório, sem engenheiros, sem operários ... sem viva alma além das máquinas.
Esta expressão matemática corresponderia à verdade factual se tivéssemos os preços de venda do trabalho e do capital referenciados a uma escala de valor imutável e padrão para toda a actividade económica humana. Mas os preços de venda são manipulados pelos mercados e pelos mercadores e ambos, mercados e mercadores manipulam o preço do trabalho e o mais grave ainda manipulam o preço dos símbolos de valor e meios uniformes de pagamento (vulgo dinheiro).
Deste modo se vê como uma bela fórmula matemática, que se quer que seja expressão do modelo padrão de funcionamento da economia, se torna em coisa inútil para o estudo científico da atividade económica, servindo apenas para apologia dos ideais de opressão e exploração das classes sociais produtivas, pela classe social parasita: a classe política, constituída por governantes e eleitos de todas as espécies nas estruturas de estado e da sociedade.
Se a actividade económica seguisse uma linha não manipulada, dependente apenas dos avanços tecnológicos, a produção tenderia  a ser cada vez mais automatizada e o preço dos bens e serviços tornar-se-ia cada vez menor, tendendo para a gratuitidade à medida que avançava a automatização. Vide estudos sérios feitos por Chris Anderson nos seus estudos sobre economia "The Long Tail - A Cauda Longa" e "Free - Grátis". O Blogger da Google, que aloja este Blog é um exemplo vivo de um produto de alta tecnologia com um investimento de capital altíssimo em permanente aumento de automatização, que nos é oferecido para usufruto a custo ZERO (o mesmo acontece na maioria das redes sociais e demais variados serviços de Internet para TI em todo o mundo) . Neste ramo da economia pagam-se altos salários aos trabalhadores e oferecem-se serviços a custo zero com altíssimos índices de produtividade de capital.
Parece um paradoxo ou uma mentira de um de Abril, mas é uma realidade económica que não acontece por acaso, mas se fundamenta no real funcionamento ciência económica onde se consegue minimizar a interferência da classe política.
O valor comercial das mercadorias (bens e serviços transacionáveis) pode ser expresso por um modelo económico que espelhe a realidade, que assuma que os bens e serviços só têm valor se este se considerar função do trabalho humano necessário para a sua produção. Um diamante não tem valor de mercadoria por ser diamante nem pela frequência com que aparece na natureza (raridade) mas pelo trabalho que é necessário para o colocar na mão de utilizador final.
O preço das mercadorias bens e serviços é : 
PreçoTotalMercadoria=PreçoAquisição+PreçoPosse+PreçoReposiçãoCondiçõesIniciais

As parcelas desta soma muitas vezes não constituem encargo do usufrutuário dos bens e serviços na sua totalidade. Há uma parte que é paga em condomínio por toda a sociedade, nomeadamente na terceira parcela .
Uma fórmula que ilustra o valor de forma realista em função do trabalho humano contado em tempo referente aos três items anteriores é : Ptot=a.TrabalhoHumanoPresente+b.TrabalhoHumanoPassado+-c.OfertaProcura,  em que a , b, c são coeficientes de ponderação.
O rácio TrabalhoHumanoPassado/TrabalhoHumanoPresente representa a automatização .
Como se vê nesta expressão a Lei da Oferta e da Procura tem apenas um efeito de correção modulante para mais ou para menos na atividade económica. A OfertaProcura aparece numa sociedade em que a produção seja feita num sistema de mercado concorrencial auto-regulado (com muitos produtores por cada tipo de bem ou serviço ou seja com muitas PME)
Num sistema produtivo em que não exista concorrência (produção planificada ou produção monopolista) existe uma outra parcela que se torna relevante d.FactorMonopólio e que é o custo adicional tendencialmente crescente com a evolução tecnológica que aparece nos mercados sem concorrência e que foi o responsável pelas grandes crises nos sistemas económicos das sociedades do Sec XX (implosão dos países comunistas e crises sucessivas desde os anos 90 nos países capitalistas).
Analisaremos este fator mais em detalhe noutro artigo.

Continua.....