Schrodinger 4
- O Presépio
(conto de Natal em honra dos meus gatos Floco e Cacau recentente falecidos com quase 17 anos)
A noite de Natal,
para mim, é sempre uma noite mágica. Desde menino que ficava
encantado a ver o presépio a representar o nascimento de Jesus, que
na nossa casa ficava usualmente ao lado do pinheiro do Natal,
ornamentado com luzes e neve artificial e encimado com a estrela dos
reis magos.
Contudo, era com
grande tristeza e alguma revolta, que olhava para esta estrela, desde
que há uns anos o meu gato me disse que essa estrela que os reis
magos viram, foi a explosão do sol que destruiu o planeta dos gatos
e matou a sua mãe.
Nunca consegui
entender os desígnios de um Deus que para anunciar o nascimento do
Seu Filho milhares de anos mais tarde, deixou explodir um sol para
queimar uma civilização tão avançada, de seres tão bondosos como
os gatos da espécie do Schrodinger.
Olhava para o
presépio já não com o encantamento da infância mas com o
maravilhar de adolescente cheio de dúvidas.
Porque seria que se
representava sempre Jesus nascido, deitado numa manjedoura com palha
e com uma vaca e um burro ao seu lado? Eu achava que tendo nascido
numa região de pastores na Palestina, o mais natural é que esse curral de animais
fosse de ovelhas. Tinha de perguntar ao Schrodinger o que é que ele
pensava disso, pois o meu gato é um poço de sabedoria.
Como que
adivinhando os meus pensamentos ele apareceu de súbito ao meu lado,
vindo do nada como sempre fazia.
–“Esse presépio representa mal
o nascimento do vosso Deus!”- disse o meu gato Schrodinger. –“Como
assim? Então Jesus não nasceu num curral de animais?” –
Interroguei-o eu admirado por ele antecipar as minhas dúvidas.
– “ Sim, Jesus nasceu num curral de animais, mas a representação que vocês fazem não está correta. Não havia vaca e falta um gato e as ovelhas junto à manjedoura”- respondeu-me ele.
- “ Como sabes?” - interroguei-o eu .
A sua resposta veio após uma pequena pausa. Se Schrodinger fosse humano diria que ficou com a voz embargada.
– “ Sim, Jesus nasceu num curral de animais, mas a representação que vocês fazem não está correta. Não havia vaca e falta um gato e as ovelhas junto à manjedoura”- respondeu-me ele.
- “ Como sabes?” - interroguei-o eu .
A sua resposta veio após uma pequena pausa. Se Schrodinger fosse humano diria que ficou com a voz embargada.
– “Eu
estava lá! “.
A resposta
deixou-me estupefacto. Eu sabia que o Schrodinger tinha vivido muito,
mas não imaginava que tivesse assistido ao nascimento de Jesus.
–“Como sabias que ia nascer ali o Salvador do mundo?”-Perguntei.
Schrodinger
respondeu-me com simplicidade:- “ Nós, os gatos, mantemos
vigilância sobre todos os planetas conhecidos onde haja seres vivos . A vida é
tão rara e tão preciosa, que procuramos impedir circunstâncias que
interrompam qualquer caminho que a vida encontre. E, neste planeta,
além de ter nascido vida, esta já se tornou inteligente, o que
ainda é mais raro. A mim está-me atribuída a vigilância deste
quadrante da galáxia e estou muito orgulhoso de poder seguir a
evolução da humanidade.
Conheço todas as civilizações da Terra e
naquele tempo também já conhecia as crenças e profecias da
religião judaica. Eu sabia que naquela época estaria para nascer o
esperado Messias. Só não tinha relacionado com o facto de esse ser
o tempo da chegada à terra, da luz da supernova que destruiu o
sistema solar dos gatos. Contudo quando vi a supernova, fez-se luz na
minha mente. A luz apontava diretamente o curral de Belém no momento
da sua chega à terra. Era só fazer algumas contas e localizava-se o
curral de forma mais precisa do que vós com o vosso GPS.
Assim cheguei ao curral apenas alguns segundos depois de Jesus ter
nascido. Lá só estavam: eu, o burro que transportava a Nossa
Senhora, as ovelhas, o menino Jesus, Maria e José. Os pastores desse
rebanho estavam a dormir nesse momento. ”
Eu estava
boquiaberto, não tinha palavras para expressar a minha admiração.
Depressa recuperei a presença de espírito e perguntei:
-“Schrodinger! Tu que estás em toda a parte e sabes quase tudo,
diz-me porque é que o Deus menino se fez homem? Sempre pode ser
verdade que veio para salvar a humanidade?”
-“Não sei!”
- respondeu-me o meu gato. “A mim dois mil anos depois, ainda me
parece que Jesus veio a este mundo para transmitir uma informação
importante aos gatos. Só que eu ainda não consegui entendê-la.”
-“Schrodinger!
Será que Jesus veio ao mundo para confirmar que todos somos iguais
perante Deus?”
A resposta do meu
gato foi muito enigmática: - “Não sei! Mesmo para mim, os
desígnios de Deus são insondáveis”
Nesse momento
decidi-me a entrar por um caminho sem retorno. Iria procurar entender a mensagem de Deus durante toda a minha vida.