21 maio 2012

Uma visão pós marxista da Teoria do Valor 3

Enriquecimento global da sociedade: valor,  capital e preço.
 
Os pensadores e economistas modernos demonstraram que se seguirmos uma linha normal de incorporação do valor nos bens e serviços produzidos por uma sociedade com mercado em
funcionamento não interferido ( anárquico, aleatório e não regulado) , temos o preço dos bens e serviços a diminuir no tempo em paralelo com a melhoria tecnológica fomentadora do aumento de
produtividade   Isto está bem descrito em publicações sobre " The Long Tail" ou "Free" .
O enriquecimento da sociedade pode então ser visto como a disponibilidade universal, crescente de mais bens e serviços por um preço tendencialmente decrescente. Mas se nos últimos cinquenta anos podemos apresentar muitos exemplos que confirmam esta ideia, também podemos apresentar factos que parecem apontar em sentido contrário como o fenómeno da inflação.
Estará a sociedade globalmente a enriquecer à medida que o tempo passa, ou não? Ou será o inverso?
Em publicaçãoanterior neste Blog demonstrou-se que o o valor comercial ou preço dos bens e serviços , continha uma série de fatores de custo onde era necessário incorporar trabalho humano
presente ou direto, (trabalho humano remunerado na produção atual) e não presente ou indireto (já  remunerado em produções ou gerações anteriores).
Também se demonstrou que entre esses fatores de custo (todos os fatores que obrigam à existência de trabalho humano para serem obtidos), havia um muito especial que era o “custo da reposição das condições iniciais”, que deverá estar obrigatoriamente pago no fim do ciclo de vida dos bens, ou do ciclo social de uso dos serviços, sob a pena de constituição de uma dívida para o futuro. É a “reposição das condições iniciais” que garante a continuidade social, a continuidade da atividade económica e mesmo a continuidade da vida como a conhecemos.
A contribuição de cada um dos seres humanos e da sociedade no global constituindo um fundo, para o pagamento desse custo, é uma das condições necessárias para a sobrevivência da Humanidade,
enquadrada nos ecossistemas globais que conhecemos.
Ao longo de muitas épocas da história verificou-se que uma parte considerável desse custo foi sistematicamente passada para as gerações futuras, formando uma dívida dessas gerações
descendentes ou sucedâneas da geração consumidora. E então podemos perguntar-nos : isso não comprometeu a solidariedade intergeracional e mesmo a continuidade da organização social?
É compreensível esta dúvida, pois as gerações pagadoras muitas vezes não são usufrutuarias daquilo que pagam, em especial se viverem fora do ciclo de vida dos bens ou do ciclo de uso dos
serviços.
Pode-se demonstrar matematicamente que fazendo transitar sistematicamente custos para o futuro ( fazendo sempre dívidas com maturidade futura ), haverá sempre uma data, em que a geração ativa da altura, não terá condições para o seu pagamento ( por falta de membros em número suficiente ou de capacidade produtiva), produzindo-se então uma rutura na sociedade ou na vida.
Então de que depende a capacidade de pagamento dos custos de uma sociedade numa dada época ?
A resposta intuitiva é: depende da sua capacidade produtiva ou produtividade! A resposta técnica em termos de economia será depende do rácio 1/(Trabalho Humano total - Tabalho Humano ausente) ou seja depende da taxa de produtividade de tal forma que essa produtividade compense a soma dos custos da dívida da reposição das condições iniciais, mais os custos do pagamento do trabalho humano presente nessa época e ainda faça um legado às sociedades futuras de um excedente, economia ou aforro, sob a forma de bens não perecíveis ou de uma taxa de produtividade superior à da sua época. Isto quer dizer que pelo mesmo trabalho qualquer geração futura usufrui de mais bens ou serviços do que a geração anterior, sendo de facto mais rica. Uma taxa de produtividade superior de longo termo, depende actualmente de modo quase exclusivo da taxa de automatização (ou robotização) do trabalho.
Em tempos passados os excedentes, economias ou aforros, eram feitos de stocks de bens duráveis ou seja mercadorias transacionáveis vivas como:
•os animais domésticos
•do stock de escravos (os robots do passado)
ou inanimadas como:
•moeda feita de metais preciosos,
•comestíveis,
•ferramentas,
•casas,
•infraestruturas de comunicação,
•de território para caça,
•de território para exploração agrícola,
•de território para exploração do subsolo,
•e outros
E a transformação do papel moeda e outros símbolos do valor, incluindo os símbolos eletrónicos pode também ser considerada como stock, aforro ou economia correspondente à nossa contribuição para o pagamento da dívida na sua maturidade ou vencimento?
A questão de se saber se o dinheiro pode ser um legado para o futuro, será o tema de um próximo artigo.
De qualquer modo a resposta já foi dada por um chefe aborígene australiano e foi do seguinte teor:
- “ quando desaparecer o último animal, a última planta e a última gota de água própria para beber, o homem branco vai compreender que o dinheiro não se come ”.

Continua.......
 

07 maio 2012

Uma visão pós marxista da Teoria do Valor - 2

Na  primeira reflexão sobre este tema (neste blog) apresentou-se o ponto de situação sobre o valor comercial dos bens e serviços  dado pela ciência económica no sec. IXX segundo a corrente de pensamento marxista e mantido pela maioria das correntes científicas durante quase todo o sec. XX.
Uma outra linha de pensamento, mais antiga, mas constantemente renascida e remodelada ao longo do último século e meio - a corrente liberal - não considera o trabalho humano como principal determinante do preço ou valor das mercadorias, mas sim a "lei da oferta e da procura" . Esta teoria, modela a sociedade humana do ponto de vista económico: (os mercados), como conjuntos de jogadores jogando um jogo, que funciona segundo as regras da "teoria dos jogos de Pareto".
Uma das grandes conclusões desta teoria é que os mercados são sistemas que possuem mecanismos intrínsecos de auto-regulação, tendendo pendularmente para o equilíbrio, reagindo a qualquer perturbação que os afaste desse equilíbrio, segundo um percurso cíclico representativo da atividade económica, tipo oscilação amortecida (os ciclos económicos).
Segundo esta escola o valor das mercadorias não tem um fórmula que o determine - é aleatório dependente das oscilações do mercado segundo a lei da oferta e da procura. Para eles o trabalho humano é apenas um fator de custo entre outros. Assim se tentarmos exprimir matematicamente o preço Preço=custo(s)+lucro(s) sendo que o objetivo dos agentes económicos (os jogadores do tabuleiro económico é apenas maximizar o lucro global.
Esta escola económica designa-se por capitalista liberal, pois advoga que a sociedade do ponto de vista económico deve funcionar de modo autónomo com um mínimo de interferência da Lei do Estado, que apenas deve garantir a "livre concorrência"

Pode-se sintetizar o pensamento protagonizado pelas escolas económicas do sec. XX organizando-o em dois grandes grupos em função da fórmula escolhida para o valor.
Estes grupos são:
- O grupo do pensamento liberal
- O grupo do pensamento marxista

É evidente que existiram e existem ainda uma miríade de escolas de pensamento misto, sintético ou centrista, que incorporam na sua filosofia mais ou menos elementos de um ou de outro dos grandes grupos, contudo não acrescentam nada realmente novo ao pensamento económico e são apenas suporte da acção política casuística de grupos ou partidos.

continua .....

06 maio 2012

A educação e o interesse do estado

Um estado que sirva a generalidade dos seus cidadãos e que não sirva apenas para ser coutada ou asilo da classe política, deve ter um funcionamento economicamente eficiente e promover um desenvolvimento sustentável. Para isso precisa de suportar as suas despesas com receitas equivalentes ou superiores e precisa ainda de criar estruturas de acumulação (poupança) de capital que privilegiem a produção global de bens e serviços com custos decrescentes (ou pelo menos mais serviços e mais ou melhores bens pelo mesmo custo)
Isso significa um estado que promova o enriquecimento da população em vez do seu empobrecimento como fez e faz o estado Português sob a orientação dos governos da últimas décadas.
O valor comercial dos bens e serviços depende de forma determinante da proporção entre trabalho humano direto e trabalho humano indireto neles incorporada. Quanto maior for o trabalho humano indireto ( ausente ou não pago à geração produtora atual) menor será o preço dos bens e serviços (vide no meu blog "uma visão pós-marxista da teoria do valor 1 e 2 " e o trabalho nos livros "The long tail" e "Free" do economista norte americano Chris Anderson.
O aumento do trabalho humano indireto consegue-se de três maneiras :
1- Aumentando a automatização ou robotização do processo produtivo
2- Aumentando o volume de conhecimentos científicos e tecnológicos nas gerações produtoras
3- Aumentando a incorporação nacional de produção cientifica e técnica nos produtos consumidos em detrimento da sua importação direta no ato de fabrico ou indireta na importação de bens e serviços tecnologicamente evoluídos

Para o estado ter mais receitas é preciso que a sociedade produza mais valor ou seja que incorpore o máximo de trabalho humano na produção de bens transacionáveis, quer por intermédio da maximização do número de cidadãos empregados quer por intermédio da maximização da qualidade tecnológica do trabalho da geração ativa.
Assim se demonstra que um estado que deseje aumentar as suas receitas tem de promover a educação tecnológica contínua da sua geração ativa e tem igualmente de promover a educação tecnológica o mais elevada possível para a geração pré-ativa.

A educação não é uma despesa do estado mas sim um investimento. Sendo um investimento com um ROI potencial elevado, deve ser muito cuidado para maximizar os resultados.

Parece que os políticos atuais,  a contas com o pagamento das dívidas sociais criadas por uma política contínua  de desleixo e corrupção,  por uma especulação bancária desenfreada e por uma gestão danosa do sistema financeiro, não vêem ou não querem ver esta evidência.

Ao desinvestir na educação tecnológica e na formação profissional, os políticos, os governantes e os empresários estão impedir o seu uso, como alavanca para um desenvolvimento sustentável do país, governado por um estado com as contas equilibradas.

1)      vide no meu blog "uma visão pós-marxista da teoria do valor 1 e 2 " e a demonstração nos livros "The long tail" e "Free" do economista norte americano Chris Anderson.

Uma Terra sem gelo

O artigo "UM MUNDO SEM GELO" publicado na National Geographic (PT) de Maio de 2012 deixa preocupados, senão estarrecidos, aqueles que ainda têm o hábito de pensar.
O artigo fala de épocas geológicas anteriores ao Homem em que comprovadamente se verificou um período de aquecimento global do nosso planeta, documentando em especial o MTPE ( Máximo Térmico do Paleoceno Eoceno ) que aconteceu há cerca de 56 milhões de anos ( cerca de 10 milhões de anos depois da extinção maciça coincidente com a extinção dos dinosaurios).
Os estudos dos investigadores actuais, apontam para um período de 150 mil anos seguintes a uma injeção maciça de carbono na atmosfera, de que derivou um grande aumento da temperatura média do planeta em terra mar e ar, tendo-se derretido todos os gelos polares, com subida do nível do mar a cerca de 80 m acima do nível actual.
A partir dessa altura a vida nunca mais foi a mesma: extinguiram-se muitas espécies e nasceram outras. A geografia planetária ficou muito diferente em função da subida do nível das águas.
Se fosse na atualidade a maioria das cidades mais populosas e um grande número de países seriam verdadeiramente varridos do mapa. Em seu lugar existiriam apenas mares lagos ou pântanos.
 A civilização humana provavelmente não sobreviveria tal como a conhecemos. A nossa espécie e as espécies diretamente dependentes de nós ( os animais domésticos e as plantas que usamos na alimentação em particular as gramíneas como o trigo arroz ou o milho ) veriam o seu número e importância drasticamente reduzidos ou enfrentariam mesmo a extinção.
E tudo por causa do aquecimento global.
No tempo do MTPE não foi a queima de combustíveis fósseis que foi responsável por essa catástrofe. Suspeita-se que foi a libertação generalizada do metano que estava armazenado há milhões e milhões de anos nos fundos marinhos sob a forma de hidrato de metano. Esse hidrato de metano existe de forma natural no fundo do oceano, sob uma forma de metano congelado mais conhecida como "gelo que queima".
 Foi libertada para a atmosfera uma quantidade de carbono equivalente à que corresponde ao consumo de combustíveis fósseis pela humanidade mais o que ainda está armazenado nas reservas conhecidas.
O hidrato de metano só é estável numa faixa de temperaturas muito baixas cerca de 5º C  e basta uma subida da temperatura de menos de 2º para o metano se libertar e borbulhar em cachão até à superfície. Como o metano tem um poder de "efeito de estufa" cerca de 20 vezes superior ao do CO2, facilmente se deduz que uma vez iniciada a sua libertação generalizada se forma um ciclo vicioso que só termina com o esgotamento do hidrato de metano dos fundos marinhos tendo como consequência direta, um estado do clima do planeta semelhante ao ocorrido no MTPE.
As reservas marinhas estimadas para o hidrato de metano são superiores à reservas conhecidas de petróleo mais gás natural (vide http://www.sorryaboutthat.net/methane_hydrate.html ) e já despertam a gula de companhias petrolíferas e de países como os USA para serem usadas como combustível barato em substituição do petróleo.
No MTPE o gatilho parecem ter sido os vulcões da espinha dorsal atlântica norte. Vide http://www.livescience.com/1481-volcanoes-triggered-ancient-warming-event.html
E o aquecimento global atual?....
Será que a Humanidade também já carregou no gatilho?
Se for verdade, com o nível de conhecimentos e tecnologia atuais nem a "água seca" nos poderá salvar...