28 outubro 2018

Liberdade de Pensamento Liberdade de Expressão e Liberdades Económicas 4

Liberdades económicas
Nos 3 artigos anteriores ficou demonstrado que:
    1. – A liberdade de pensamento não é uma caraterística auto-suficiente intrínseca dos seres humanos e que o pensamento pode ser, e é,  muitas vezes, condicionado.
    2. – A liberdade contratual também não é um valor absoluto em si mesma, depende da liberdade de pensamento e também é muitas vezes coarctada ou distorcida por causa dos contratantes não serem idempotentes.
    3. – As liberdades económicas, ou liberdades de ação económica, sendo dependentes e derivadas das primeiras, são por si mesmas limitadas.

Portanto para discorrermos sobre liberdades económicas, devemos em primeiro lugar identificar cada liberdade concreta que seja o alvo do nosso estudo, caraterizar as suas propriedades e delimitar o seu âmbito.
O estado é quem outorga na lei cada uma das liberdades da esfera económica. É esta entidade quem define os deveres e os direitos e quem concede as respetivas garantias através da máquina da justiça. Por outras palavras o estado é “dono e criador” das liberdades, incluindo as económicas.
As liberdades económicas consideradas pelo "main stream" como essenciais num estado moderno  são:
    1. - Liberdade de empresa
    2. – Liberdade de mercado
    3. – Liberdade de circulação de pessoas enquanto agentes económicos
    4. – Liberdade de circulação de mercadorias (bens e serviços)
    5. – Liberdades de circulação de capitais
       Tal como a liberdade de pensamento, a liberdade de expressão e as demais liberdades tratadas nos 3 primeiros artigos, este conjunto das liberdades económicas, não tem em si mesmo um valor absoluto, nem são auto suficientes, por isso mesmo é exercido com muitas limitações derivadas dos preconceitos e medos da esfera de privacidade pessoal e com as balizas sociais do estado ( lei ) e dos costumes de cada sociedade humana.
....continua

16 outubro 2018

Liberdade de Pensamento, Liberdade de Expressão e Liberdades Económicas -3


Liberdades Económicas

Nas duas partes anteriores deste artigo, demonstrou-se que a Liberdade de Pensamento não era uma autosuficiência intrínseca, do ser humano ou dos outros seres inteligentes. O pensamento pode ser condicionado e é mais vezes condicionado do que espontâneo e livre.
Como o pensamento comanda as nossas ações, quer na esfera da privacidade pessoal, quer na esfera social, condicionar o pensamento significa condicionar a atuação do ser humano, favorecendo um determinado tipo de ações em detrimento das outras possíveis. 
Na esfera da ação económica como caso particular da esfera social, as nossas ações também são condicionadas de muitas formas, das quais a principal é o condicionamento do pensamento com a respetiva limitação da liberdade.
O fundamento da atividade económica do ser humano atual baseia-se num preconceito: o princípio da liberdade contratual entre os indivíduos.
Na civilização atual consideramos que sem liberdade contratual, a organização social e a civilização tecnológica não conseguiriam sobreviver.
Entre os milhões de espécies de seres vivos (os milhões de caminhos da vida) além dos seres humanos (homo sapiens sapiens), na Terra temos algumas centenas de espécies gregárias, que vivem em sociedade organizada (a sociedade é uma espécie de relação simbiótica entre os indivíduos de uma espécie, que pode incluir mesmo seres de outras espécies).
Mas a maioria das sociedades gregárias vivas, não se baseia no princípio da liberdade contratual entre indivíduos. Por exemplo as abelhas no enxame são comandadas pela rainha, mesmo ao nível hormonal, não havendo ações significativas que dependam ou sejam causadas pela liberdade contratual. 
A esse nível somos uma espécie rara e com a importância que a liberdade contratual assume na sobrevivência da espécie e da civilização, somos mesmo únicos neste planeta (pelo menos até agora!)
A liberdade contratual tem um segundo preconceito: de que os contratos obrigam as partes contratantes ao seu cumprimento integral (apesar de que o ser humano está sempre a arranjar maneiras de “furar” os contratos que celebra “livremente”).
Em resumo, a Liberdade Contratual pressupõe o direito do indivíduo contratualizar com outros o que quer que seja, com a contrapartida do dever de respeitar os termos desse contrato.
A Atividade Comercial, que é o suporte da atual atividade económica humana, baseia-se nesse princípio sagrado da Liberdade Contratual.
Contudo, penso que o pressuposto da Liberdade Contratual enferma de um vício original (assim como uma espécie de pecado original judaico-cristão): é que entre os contratantes pode haver quem tenha o seu pensamento condicionado ou quem tente condicionar o pensamento dos outros!
Na realidade os contratos de compra e venda implícitos ou explícitos (documentados) normalmente não são feitos entre partes idempotentes (todas com o mesmo poder) integralmente esclarecidas dos seus objetivos e dos objetivos dos outros, baseadas numa atitude benévola e de salvaguarda mútua. Na apresentação do bem ou serviço objeto do contrato, os vendedores tentam enaltecer as qualidades e elevar o preço, fazendo os compradores o contrário. O contrato de compra e venda não é um “contrato livre feito entre indivíduos livres e bem intencionados”, é um jogo e nem sempre um jogo de soma nula. (Nem sempre o que um perde é aquilo que o outro ganha)
O objetivo desse jogo económico é ganhar, ou seja, conseguir poder (poder económico, polítco, pessoal, etc), para condicionar as ações dos outros.
Por ser um jogo, a atividade comercial precisa de um arbitro, aceite pelas partes, para fiscalizar o seu desenvolvimento e dirimir conflitos. Normalmente esse árbitro é quem detém os poderes do Estado.
Apesar de os agentes económicos estarem constantemente e invocar a liberdade contratual, a liberdade de pensamento e mesmo a liberdade de expressão, esta atividade é tudo menos livre.
Assim a atividade económica fica reduzida a um volumoso conjunto de restrições à Liberdade: "o Código Comercial" (Código das Sociedades Comerciais) e é inteiramente subordinada aos poderes do Estado, que é quem outorga e regulamenta as liberdades específicas dos indivíduos. E o Estado não é um árbitro neutro é parte interessada no resultado do jogo.

07 outubro 2018

Liberdade de Pensamento, Liberdade de Expressão e Liberdades económicas - 2

continuação...
Na primeira parte deste artigo verificamos que a Liberdade de Pensamento deve ser estudada na esfera de privacidade individual. Eu considero mesmo que esta liberdade é a génese e o fundamento da privacidade e da individualidade.
Em contrapartida a Liberdade de Expressão do pensamento pertence ao conjunto das liberdades da esfera social, pois baliza o relacionamento entre os seres humanos e entre estes e as suas organizações.

Pensamento e raciocínio
Antes de abordarmos a questão da Liberdade de Pensamento devemos definir com clareza os conceitos de pensamento e de raciocínio.

O que dizem os outros

Em lógica, pode-se distinguir três tipos de raciocínio lógico: dedução, indução e abdução. Dada uma premissa, uma conclusão, e uma regra segundo a qual a premissa implica a conclusão, eles podem ser explicados da seguinte forma:
  • Dedução corresponde a determinar a conclusão. Utiliza-se a regra e sua premissa para chegar a uma conclusão. Exemplo: "Quando chove, a grama fica molhada. Choveu hoje. Portanto, a grama está molhada." É comum associar os matemáticos com este tipo de raciocínio.
  • Indução é determinar a regra. É aprender a regra a partir de diversos exemplos de como a conclusão segue da premissa. Exemplo: "A grama ficou molhada todas as vezes em que choveu. Então, se chover amanhã, a grama ficará molhada." É comum associar ocientistas  (investigadores) com este estilo de raciocínio.
  • Abdução significa determinar a premissa. Usa-se a conclusão e a regra para defender que a premissa poderia explicar a conclusão. Exemplo: "Quando chove, a grama fica molhada. A grama está molhada, então pode ter chovido." Associa-se este tipo de raciocínio aos diagnosticistas e detetives, etc
Citação de https://pt.wikipedia.org/wiki/Racioc%C3%ADnio_l%C3%B3gico consultada em 1-10-2018
.... Quando compreendemos isto, verificamos que ser um pensador não é condição suficiente de qualidade; é preciso que os pensamentos desse pensador sejam consequências razoáveis de premissas dadas para que valha a pena estudá-los ou tê-los em consideração. E, em última análise, isto significa que estudar unicamente as conclusões dos filósofos, ignorando os argumentos, os raciocínios, que eles usaram para chegar a essas conclusões, é uma visão redutora da filosofia; é como ler só o desfecho de um romance ou o fim de um filme, sem prestar atenção a tudo o resto que conduziu a esse desfecho.
Paulo Ruas
Citação de https://criticanarede.com/fil_conceitosjuizos.html consultada em 1-10-2018
.... Raciocínio é um substantivo masculino que significa o ato ou maneira de pensar ou raciocinar. É sinônimo de argumentopensamento ou juízo.
Com origem no termo em latim ratiocinatio, um raciocínio também pode ser descrito como uma sequência de juízos ou argumentos usados para chegar a uma determinada conclusão.
Um raciocínio pode ser classificado como um pensamentocálculo,deliberação ou deduçãoEx: Tenho que sair daqui porque este barulho está prejudicando o meu raciocínio.

Citação de: https://www.significados.com.br/raciocinio/ consultada em 01-10-2018

Uma abordagem dos cientistas que estudam a implementação da inteligência artificial enquadrada na 4ª revolução Industrial em currso
--- Paradoxalmente, mesmo quando se iam abrindo janelas para a Natureza e para o comportamento humano, os algoritmos de aprendizagem em si permaneceram envoltos em mistério. É raro passar um dia sem que surja uma história nos media que envolva aprendizagem automática, quer se trate do lançamento da assistente pessoal Siri da Apple, ou de o Watson da IBM ter derrotado o campeão humano do concurso Jeopardy., ou de a Target ter descoberto que uma adolescente estava grávida mesmo antes de os pais dela saberem”
Citação de “A revolução do Algoritmo Mestre- Como a aprendizagem automática está a mudar o mundo.” do Professor Doutor Pedro Domingos – Manuscritos editora,2017


Em conclusão podemos dizer também que ao longo da história desde a antiguidade clássica (Aristóteles) até aos filósofos modernos (Kant) e contemporâneos (Peter Singuer que considera que os seres humanos apenas adquirem a qualidade de pessoas a partir do momento em que adquirem a linguagem e o manuseio de conceitos abstratos ) houve muitas dissertações sobre o tema do raciocínio. Podemos ver um resumo das várias escolas no artigo de Paulo Ruas acima citado.

Contudo, em todos os clássicos e modernos o raciocínio é entendido como sendo uma capacidade exclusivamente humana.
Alguns contemporâneos confrontados com os avanços da tecnologia das Inteligências Artificiais tentam usar a lógica para concluir sobre os 3 principais tipos de raciocínio lógico (humano) atrás citados na Wikipédia, como sendo os verdadeiros representantes do conceito.

Neste artigo uso opto por uma definição geral que englobe todos os tipos de raciocínio natural humano e não humano bem como o das inteligências artificiais. Penso que deste modo o conceito fica correta e definitivamente clarificado. Assim, raciocínio define-se como a capacidade dos sistemas materiais cibernéticos (na aceção plasmada no artigo Cibernética, princípios meios e fins neste blog), para processar informações obtidas de sensores ou de memórias internas para o prosseguimento dos seus objetivos. Nesta aceção raciocínio e inteligência são quase equivalentes, pois que inteligência como capacidade para perseguir um objetivo é a resultante dos vários processos de raciocínio nos seres naturais ou artificiais. Para diferenciar as inteligências dos vários seres vivos ou inanimados, devemos classificá-las pelo grau de controle da ação, que for obtido por essas inteligências , que nos dá o nível ou grau cibernético (numa escala de 0 a 9 como está descrito no artigo acima citado).

Tipos de inteligência
Regra geral, os sistemas cibernéticos, nos quais se incluem os seres vivos só têm sensores e atuadores adaptados para cada classe de problemas que têm de enfrentar. Ou seja, os seres vivos são sistemas cibernéticos, por isso são dotados de alguns graus e tipos de inteligência. Têm inteligências específicas em graus diferenciados para cada uma delas. ( As aptidões não têm todas o mesmo desenvolvimento). Assim, podemos considerar que existem vários tipos de inteligências, tanto de âmbito geral, como de âmbito individual, cada uma com os seus nove graus,.
As máquinas artificiais cibernéticas, presentemente são tão evoluídas que já incorporam inteligências artificiais de grau humano (grau 8 de nove graus)
Cada tipo de inteligência está relacionado com um conjunto específico de sensores, processadores e atuadores otimizados para um dado conjunto de funções necessárias para o prosseguimento de um objetivo. Como se disse anteriormente o raciocínio é o processamento de dados que podem ser oriundos de memórias interna do ser, e a ação determinada por esse raciocínio poder ser apenas a de gravar os resultados no sistema de memória interna para uso posterior sem atuar sobre o meio exterior. Este último tipo de inteligência é o que é englobado pelo raciocínio abstrato e pela inteligência emocional. Os seres que possuem processos de inteligência de uso genérico como os processos de consciência e inteligência abstrata são chamados de seres inteligentes como nós os humanos. A partir do momento em que se aparece numa espécie o processo de consciência pode desenvolver-se o relacionamento social e a transmissão de informação entre gerações sem ser por via genética, mas através do conhecimento e memórias partilhados coletivamente
Pensamentos
No estádio evolutivo do final do grau 7 e em todo o grau 8 os processos de raciocínio nos seres complexos incluem processos de representação da ação chamados simuladores ou modelos ativos, como o pensamento ( de qualquer tipo: dedutivo, indutivo ou abdutivo e outros) e a consciência.
Este último processo é o que num sistema material determina o reconhecimento da sua própria individualidade e existência independente dos outros seres. É a este processo que se pode atribuir a constatação de Blaise Pascal: “Penso, logo existo!”
Os processos de pensamento contêm muitas etapas de raciocínio sobre dados recolhidos do ambiente por meio de sensores e também sobre os dados existentes na memória, ou ainda sobre os dados obtidos on-line como resultado de outros raciocínios
À capacidade de produzir pensamentos independentes uns dos outros, mesmo que isso se processe em cadeia (stream) chamo eu a Liberdade de Pensamento. Esta “Liberdade de Pensamento, como conceito abstrato desdobra-se em graus de liberdade concretos, no mínimo tantos quantos os tipos de inteligência existentes no sistema.
Se suprimirmos os dados de um tipo de sensores ou o seu local de armazenamento na memória, limitamos na prática a liberdade de pensamento. Exemplo: Um cego de nascença ou uma pessoa a quem foi retirada a memória visual, não conseguem produzir pensamentos com cores.
De igual modo se nos processos de consciência limitarmos os temas que ficam retidos na memória limitamos de igual modo a Liberdade de Pensamento.
Ainda se na interação social desenvolvermos preconceitos, ou seja rejeições automáticas e incondicionais de dados ou resultados, também limitamos a liberdade de pensamento.
Em termos de interação social os seres vivos superiores (humanidade está incluída) desenvolvem relações de poder e organizam-nas em hierarquias quase sempre sustentadas pelo medo. O medo em si e os sistemas hierárquicos de poder afetam os indivíduos limitando-lhes a liberdade de pensamento em primeiro lugar e como tem como objetivo final limitar a liberdade de ação (que inclui a liberdade de expressão do pensamento). É vantajoso para quem detém o poder, em termos de custos individuais e sociais, a limitação da liberdade de pensamento dos seus subordinados do que impor-se pela força e luta. Por exemplo o rato tem medo do gato o gnu tem medo do leão e em geral as presas fogem dos predadores, mesmo nos casos em que o podem vencer facilmente se atuarem contra eles em conjunto organizado.
Como se demonstrou atrás são os meios mais eficazes e mais usados na limitação da liberdade de pensamento, mas não são os únicos usados pelos seres vivos nas lutas entre individuos ou entre espécies. A produção de informação falsa ( o disfarce) que engana os sensores dos outros é outra forma comum de limitar a liberdade de pensamento. Por exemplo quando uma espécie de inseto caçador assume o aspeto de um ramo seco para assim deixar que as suas presas lhe pousem em cima sem precauções, está a condicionar-lhes o pensamento.
A difusão de informação falsa, truncada, ou desenquadrada por alguns condiciona a liberdade de pensamento dos outros quase sempre para obter vantagens competitivas com um custo mínimo em recursos.
Conclusão
O pensamento e a liberdade de pensamento podem ser condicionadas!

Quod erat demonstrandum!” - Como queríamos demonstrar!


Frase atribuída a Euclides para finalizar uma demonstração matemática muito usada por alguns professores da faculdade.

continua...