09 novembro 2010

Como enfrentar a crise - Crítica a João César das Neves

Vide JOÃO CÉSAR DAS NEVES
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"Guia para a Crise" publicado no DN2010-11-08
A crise dos valores, da economia, da sociedade e do governo em Portugal, não é uma coisa nova, todos sabemos disso. Mas ao contrário do afirmado no artigo publicado por JCN as crises em Portugal, como na maioria dos países do mundo, felizmente não são assim tão frequentes. 
Mais, as crises com C maiúsculo, que não são meras questões de jogos vãos entre elementos da classe política governante ( ou da classe dirigente económica ), mas que afectam a maioria da população em muitas vertentes ao mesmo tempo, felizmente são raras e intervaladas de muitos anos, quando não de gerações.
A crise portuguesa actual não é semelhante a nenhuma das que tivemos no último  século. Apenas é comparável em importância, à crise que teve como consequência a queda da monarquia e a implantação da República. Nessa altura como hoje, as classes dirigentes da política e da economia, em alguns casos por inépcia e incúria, mas principalmente por má fé, puseram em causa os  valores sociais e civilizacionais ( direitos individuais e sociais como por exemplo os direitos ao trabalho, à justiça,  à saúde, à educação e à informação livre e não manipulada), puseram em causa o normal funcionamento da economia, puseram em causa a dignidade e funcionamento das instituições do estado e da sociedade,  em suma puseram em cheque os pilares do estado e demonstraram poder colocar em risco a nossa própria independência e liberdade.   
Perante tal gravidade o que preconiza JCN:
- Primeiro: deixar-se de queixas.
- Segundo: deixar-se de acusações.
- Terceiro: deixar-se de fantasias.
- Quarto: enfrentar a crise.
Todas estas quatro receitas, nos termos em que estão expressas e desenvolvidas no artigo publicado, destinam-se apenas a tentar desviar a atenção dos incautos, para o facto de que todos os problemas que nos estão a afligir, não serem fruto do acaso, mas sim acções premeditadas, cuja solução exige que os causadores culpados, sejam considerados e tratados como os organismo infecciosos que nos causam doenças. Se para uma infecção grave aplicamos antibióticos que em ultima análise se destinam a matar o agente infeccioso, causando o mínimo dano ao paciente, então não deveremos aplicar a essa espécie de má classe dirigente, esta solução muito bem comprovada na medicina ao longo do último século?
É claro que a exigência mínima que se pode fazer é que os culpados, judicialmente comprovados, por gestão danosa dos bens públicos ou dos bens privados que tenham relevância pública ou social ou que tenham desrespeitado o contrato eleitoral ( ou seja burlado os eleitores!), sejam tratados com o máximo rigor nos foros cível e criminal.
E isso tem de ser exigido na praça pública, não só com manifestações de indignação, mas ainda mais, através de um pronunciamento civil, eventualmente seguido de um pronunciamento militar, se estes maus governantes tentarem impedir pela força esse pronunciamento civil. Já foi assim que saímos do pântano em que se converteu o Estado Português nos últimos anos da monarquia e foi também dessa forma que nós restauramos ( sim! digo nós porque eu estava lá!)  as liberdades civis e políticas em 1974.
Portanto ao contrário do que diz JCN, devemos queixar-nos, devemos indignar-nos, devemos indicar os culpados, devemos processa-los, devemos exigir o seu julgamento civil e criminal e devemos criar, (senão existirem) as instituições que nos permitam utilizar os pilares do estado de direito - o poder judicial e poder militar - para curar o poder político e o poder económico (na sua vertente governativa) para renovar os representantes do povo no poder legislativo e para expulsar do poder executivo e económico aqueles que comprovadamente são responsáveis por esta crise.
Eles, classe política e alguns dos seus membros em particular,  têm de responder pelos crimes que cometeram e cometem contra os direitos fundamentais do ser humano, entre os quais destaco o direito a uma pátria livre e independente com instituições governativas e económicas, dignificadas e funcionais.
Assim, além de identificar os males e acusar judicialmente os culpados devemos também deixar-nos de fantasias de espera que o santo nos ajude, se nós não nos ajudarmos a nós mesmos.
Mais, devemos abandonar os sonhos de que estamos numa sociedade em que baste apenas sermos bons ao nível das acções individuais, para curar o mal causado por aqueles que de forma organizada causam as crises, com o primeiro objectivo de obterem benefícios económicos ilegítimos  e com o objectivo complementar de obterem as rédeas do poder para beneficiarem da imunidade de pertencerem aos órgãos do estado.
Enfrentar a crise sim! Devemos enfrentar a crise substituindo o que está mal no estado, por novas soluções pragmáticas que excluam a classe política da solução, porque eles foram e são o problema  Foram eles e apenas alguns maus empresários bancários criminosos, que transformaram a actividade política na pocilga retratada por Rafael Bordalo Pinheiro.
É ao enfrentar organizadamente a crise que restauramos a confiança global nos valores, nas instituições, no funcionamento da economia, em suma naquilo que constitui a identidade de Portugal.
É essa confiança  que faz evoluir a sociedade em direcção a um futuro melhor.

02 novembro 2010

A política segundo Lazarus Long - uma visão galáctica moderna

Os rótulos políticos — tais como monárquico, republicano, democrata, comunista, socialista, populista, fascista, liberal,  conservador e assim por diante — nunca são critérios básicos. A raça humana divide-se politicamente entre aqueles que querem que o povo seja controlado e aqueles que não desejam isso. Os primeiros são idealistas inspirados pelos mais altos motivos, para o maior bem do maior número de pessoas. Os últimos são avarentos grosseiros, desconfiados e destituídos de altruísmo. Mas são vizinhos mais agradáveis do que os da outra espécie.

Os políticos reformistas tendem não só a ser desonestos, como estupidamente desonestos... embora a sua actividade política seja honesta.
Não quero dizer que um qualquer político de carreira não roube. Roubar é o seu negócio. Mas todos os políticos são improdutivos. A única mercadoria que qualquer político tem a oferecer é falar demais.
A sua integridade pessoal...quero dizer, se ele der sua palavra, alguém poderá confiar nela?
Um político de carreira bem-sucedido sabe disto e protege sua reputação mantendo seus compromissos, porque quer continuar no negócio, isto é, continuar a roubar, não só esta semana, como no ano que vem e nos anos seguintes. Assim, se ele for bastante esperto para ser bem sucedido neste comércio muito exigente, pode ter a moral de uma tartaruga mordedora, mas deve comportar-se de maneira a não arriscar a única coisa que tem para vender: sua reputação de manter as promessas.
Um político reformista, porém, não tem nenhum carisma desses. Sua dedicação é ao bem-estar de todas as pessoas... uma abstração muito elevada e, portanto, passível de definições intermináveis, se realmente puder ser definida em termos significativos.
Em conseqüência disso, o político reformista totalmente sincero e incorruptível é capaz de faltar à palavra três vezes antes do café da manhã (não por desonestidade pessoal, porque ele lamenta sinceramente que isso seja necessário, conforme ele lhe diria, mas por dedicação inabalável ao seu ideal).
Tudo de que ele precisa para faltar à sua palavra é alguém chegar-lhe ao ouvido e convencê-lo de que isso é necessário para o bem maior do povo. Ele engolirá isso e após acostumar-se a isso, ele será capaz de roubar até no jogo de paciência.
Felizmente é raro ele ficar no cargo muito tempo... excepto durante a decadência de uma cultura.

Citações do personagem Lazarus Long criado por Robert A Heinlein (nascido nos USA em Butler, 7 de Julho de 1907 — falecido em Carmel, 8 de Maio de 1988) no livro "Time enough for love" editado em1973

Uma visão pós - marxista da Teoria do Valor

Os fundamentos de todo o edifício teórico da escola marxista e das consequências na política e na economia durante todo o Sec. XX derivam da Teoria do Valor estruturada na obra " O Capital " de Karl Marx.
Os fundamentos da teoria do valor de Karl Marx são:
  a) O valor das mercadorias e serviços transaccionáveis é fundamentalmente uma soma:
  • do trabalho humano incorporado na mercadorias, ou seja trabalho socialmente necessário para as produzir. (Outros economistas anteriores a Karl Marx já tinham referido esse facto: Ricardo e Adam Smith)
  • da mais valia adicionada a esse trabalho pelos detentores do capital ( vulgo classe capitalista - os patrões ) também designada vulgarmente por lucro ( no edifício teórico Marxista o lucro e a mais valia são dois factores conceptualmente independentes mas intrinsecamente relacionados) . Para o âmbito deste artigo usaremos os dois termos como semelhantes sem contudo suportar o conceito de semelhança com demonstração formal
c) O valor desse lucro é obtido num jogo jogado no tabuleiro da actividade económica,  num leilão designado de forma corrente pela oferta e procura cuja lei de funcionamento ( Lei da Oferta e da Procura) determina a quantidade e o sinal ( aditivo ou subtractivo ) desse mesmo factor de lucro.

d) A classe capitalista detém o o poder económico,  na cadeia de produção e distribuição dos bens e serviços ( desde os centros de produção até aos consumidores finais), controlando a forma de geração do valor na sociedade e a distribuição desse mesmo valor por todos os membros da sociedade.

O Capital de Karl Marx à época em que foi editado ( 1867 ) representou um verdadeiro avanço no conhecimento do funcionamento da economia dos países com modo de produção capitalista modelo ocidental, ou seja os regimes económicos e políticos derivados da revolução industrial do Sec. IXX, porque introduziu de forma sistematizada o conceito do trabalho humano socialmente necessário na produção de mercadorias (bens e serviços) e por referir a lei da oferta e da procura não como a lei fundamental da formação dos preços mas sim como lei que introduz um factor complementar de correcção, na formação desses mesmos preços, em função da "utilidade" social ou psicológica da mercadoria ( bem transacionável ).

continua.......