Teoremas
O Espaço e o Tempo
Todo o mundo é composto de mudança....
Schrodinger 5 – A era da magia
Contto escrito para que os gatos e as crianças, mantenham viva magia e o sonho que " comanda a vida enquanto o mundo pula e avança como bola colorida entre as maos de uma criança ", como escreveu o poeta cientista (Romulo de Carvalho) - Antonio Gedeao : - A Pedra FilosofaL
Enquanto acabava de ler a “ Alice no País das Maravilhas” para a minha priminha mais nova, pela qual tive sempre um carinho especial, apareceu o Schrodinger, mais uma vez vindo do nada .
“-Trouxeste o Cheshire?” – perguntou ela dirigindo-se ao gato que saltou para as minhas pernas e lhe respondeu: “-Está aí mesmo ao teu lado! Ainda não o viste?”
A pequenita gritou: “-Cheshire!” - e continuou: “- Tive tantas saudades tuas! Quero ir contigo para o outro lado do espelho, para ver a Alice!” . O gato pareceu ter compreendido as suas palavras porque no instante seguinte estávamos todos no Pais das Maravilhas. Nesse mundo, o espelho que aí existia, mostrava agora o meu quarto vazio.
“- Schrodinger! Como é que fizeram isto? Estamos num mundo real ou é a realidade virtual de um jogo?” perguntei olhando para todos os lados espantado, enquanto a minha prima brincava despreocupada com o Homem de Lata, sem se importar com o cenário, trocado com “O feiticeiro de Oz”.
Schrodinger olhou-me com ar sério e respondeu:” – Se a realidade é aquilo que tu sentes, então deste lado do espelho, é tudo tão real como no teu mundo!”. Não percebi o que é que ele queria dizer e por isso insisti: “- Mas isto é mesmo real ou é só um jogo mágico em 3D? “ Não obtive resposta e então perguntei: “ -Como é que vocês conseguem fazer isto?”
Schrodinger fez uma pausa e depois falou. Deve ter estado a conferenciar com o Cheshire.
“ – Sabes, nós, os gatos, já vivemos na era da magia. Para nós a maior parte do universo é mágico, embora no teu mundo ainda achem que não”. Continuei sem saber se estávamos ou não dentro de um jogo.
Mas fosse o que fosse, a minha prima estava a divertir-se muito. “ Olha ! Está ali o leão sem coração! Vamos brincar com ele!”. E o gato com o seu eterno sorriso, saltou de imediato para as costas de um leão mais dócil do que qualquer bichano, que não se dava conta de estar na estória errada. Schrodinger imitou-o e chamou-me enquanto a minha priminha voava, qual super-homem, para junto do seu gato.
Fiquei mais uma vez espantado sem saber como ela conseguiu esse feito e comecei a caminhar na direção do leão. Estranhamente parecia que não saía do meu lugar, pois que, por mais que andasse, o leão estava sempre à mesma distância. Assustei-me e gritei: “ – Schrodiiiiinger! Socorro ! Estou preso! Não consigo sair do sítio!” O meu grito foi tão forte que deve ter passado para o mundo real, porque o espelho mostrou a porta do quarto vazio a abrir-se e a minha mãe a entrar e a resmungar: ”Diabo de miúdos! Sempre a esconder-se e a assustar-me com partidas! “ e em seguida mais alto: “ – Meninos! Eu sei que vocês estão por aí escondidos! Não vale pregar sustos! Se não aparecerem já, não vai haver lanche!” Como não obteve resposta fechou a porta a murmurar: “ Danados de miúdos!” sempre a esconder-se debaixo do meu nariz e eu nunca os vejo!” . Sorri perante tal desabafo e apeteceu-me aparecer e assusta-la. Só que não sabia como fazer isso. Estava dentro do lado mágico do espelho e, ainda por cima, preso no mesmo lugar, dentro de uma jaula com paredes invisíveis. O Schrodinger do alto da garupa do leão olhava-me com ar divertido. Comecei a ficar de veras aborrecido com a situação em que me meteram e vociferei: “-Schrodinger isso não se faz! Sequestraste-nos deste lado do espelho e nem sequer consigo ir para junto de ti! Liberta-me faz favor!” .
O meu gato respondeu-me de um modo enigmático: “- A tua prisão só tem muros para o pensamento! Liberta a tua imaginação e voa para as costas do leão!”
Tentei fazer o que ele pedia e saltei para tentar voar, mas caí estatelado no meio do chão, envergonhado perante as gargalhadas da minha prima.
“- Pareces um bébé que não sabe andar!” disse a minha priminha e de seguida voou da garupa do leão até junto de mim, enquanto eu a olhava boquiaberto. Deu-me a mão e, para meu espanto, senti-me levantar suavemente e voar para as costas da dócil fera.
Para mim, o que nos estava a acontecer era um profundo mistério, embora para a minha priminha tudo parecesse natural, a avaliar pelo à-vontade com que encarava todas estas estranhas situações em que nos víamos envolvidos.
“- Cheshire! Ainda não vi a Alice! Onde é que ela está? “ - perguntou a menina com ar muito sério. Como por magia, começamos a ouvir um cantarolar. Ao longe, apareceu a Alice a caminhar no campo de flores, vindo na nossa direção a dançar, com mariposas a esvoaçar à sua volta. No céu, o sol desenhava um arco íris de cores brilhantes que pintava em tons de alegria toda aquela paisagem mágica. Sentia-me leve como o ar e desejei poder agarrar o arco íris para guardar um bocadinho da sua luz como recordação. Pensei então: “- Estou a ficar outra vez menino, com o pensamento livre como o vento”.
E deu-se o milagre! Em resposta ao meu desejo, senti-me levantar suavemente no ar, voando como uma pena impulsionada por um brisa suave, em direção aos cristais multicolores do arco- da-aliança. Lá em baixo, na terra, tudo ficava cada vez mais pequenino. A Alice, o homem de lata, o leão , a minha priminha e os gatos pareciam formigas na paisagem e já nem sequer conseguia distinguir as borboletas.
No instante seguinte a este estranho pensamento, senti-me envolvido por um enxame de mariposas enormes a agitar as asas que brilhavam, arrancando da luz do sol, as cores do arco íris. Senti-me verdadeiramente dentro de um conto mágico e pensei: “ – Quantas serão as crianças da terra que viram que o arco-íris é formado por milhões de mariposas que dançam por cima das nuvens, roubando da luz do sol a poeira de todas as cores, com que polvilham as suas asas e iluminam os nossos sonhos?
Quis partilhar esta maravilha com a menina e os gatos. Neste mundo do espelho os meus desejos eram ordens, no instante seguinte, estavam todos ao meu lado a contemplar a dança das mariposas, que acompanhavam os seus passos com “ A dança das fadas do açúcar “, tocada em instrumentos feitos de cristais de luz.