31 janeiro 2017

A doença do sr. Trump

Muitos comentadores notáveis ou anónimos, quando confrontados com as declarações e com a prática passadas e presentes do sr. Trump ou com as ameaças que ele faz ao futuro, dizem que o personagem deve estar doente. 

A disfunção mais diagnosticada é a cretinice (burrice ou retardamento mental). Muitas apontam-lhe taras sexuais, alguns atribuem-lhe xenofobia e outras psicoses relacionadas. Poucos lhe diagnosticam ser intrinsecamente mal intencionado e ainda menos o consideram apenas um jogador viciado, que joga com as frustrações de uns contra as expectativas dos demais.

Penso que os diagnósticos peçam por defeito, pois apontam para doenças pouco perigosas, pouco contagiosas, ridículas e mesmo quase benignas .

A mim, pelo contrário,  parece-me que o homem tem problemas sérios, altamente contagiosos e perigosos para ele e para o mundo, com o potencial de gerar a mais grave epidemia dos últimos 100 anos.

Não o vejo como um  pateta alegre semelhante ao J W Bush, que cometia gafe sobre gafe, exibia a sua ignorância saloia e com um copo a mais não passava além da falta de cultura e de sensibilidade de um rancheiro provinciano a quem as cunhas familiares e tricas da política, promoveram a presidente do maior país capitalista do mundo. Não! Eu não vejo assim o sr. Trump!  Estou muito longe de o achar um palhaço caricatura de presidente.                                           

O meu diagnóstico é que o personagem sofre de uma forma grave do síndrome de Ubris (Ubrius em Latim), um complexo messiânico, que afeta uma grande parte da população sénior do mundo, num grau tanto mais elevado quanto maior for a posição hierárquica ou o poder de que dispõe.
https://renovacaomedica.wordpress.com/2012/10/08/sindrome-de-hubris-qualquer-semelhanca-nao-e-mera-coincidencia/

Todos os grandes ditadores da era moderma, como Hitler, Salazar, Perón, Estaline, Kim Il Sung, Sadam  Hussein, Kadafi, ou os imperadores  da antiguidade clássica como Nero e Calígula ou reis de tempos mais recentes como Henrique VIII e Luis XVI  ou mesmo líderes religiosos recentes, apresentavam estádios avançados dessa doença.

O grande perigo desta doença como disse atrás: é ser altamente contagiosa, com uma forma de contágio que não se fazendo por via biológica (bactérias e vírus), não pode ser  combatida com antibióticos nem vacinas.

Esta doença difunde o ideal simples maniqueísta, de que o mundo está dividido em duas classes: os bons e os maus, que se digladiam eternamente, sendo os bons os seguidores do doente e os maus todos os outros.

Os bons, segundo esses doentes, têm a missão messiânica de salvar os escolhidos e de eliminar a maldade do mundo. Às vezes, num raro assomo de misericórdia, lá admitem que por intermédio do arrependimento, da conversão e da pública demonstração da sua submissão, alguns escolhidos de entre os maus, são beneficiados com o prémio da salvação.

Para comprovar o seu merecimento a uma salvação já neste mundo e alcançar as graças do mundo espiritual ou a veneração da História, os bons quais super-heróis, têm de ser os paladinos esforçados dos ideais, práticas e propriedades do doente e do seu séquito, num respeito rígido pela hierarquia social instituída.

Estes ideais simplistas, calam fundo nas sociedades com altos níveis de frustração e com classes médias acossadas materialmente, a perder representatividade económica e ideológica na sociedade  e vazias de projetos para o futuro próximo.

Assim se difundem facilmente o ódio social: de classe ou religioso, a solução dos conflitos pela violência e o  terrorismo maquiavélico, em que a suposta bondade dos fins, justifica o uso de todos os meios, mesmo aqueles que atentam contra os direitos humanos mais básicos, esforçadamente conquistados pela humanidade, ao longo da sua evolução civilizacional.

O verdadeiro perigo desta doença não está em afetar os líderes e uma grande parte da população sénior. A gravidade da doença é que há grandes franjas da população jovem que também podem ser infetadas por este complexo messiânico e por isso são facilmente arregimentadas para atuar e morrer cegamente, como soldados, como heróis ou como mártires, ao serviço de interesses materiais ou ideológicos de classes, hierarquias e eminências pardas, que gravitam na esfera do doente principal. Mas infelizmente não morrem sozinhos. Levam consigo muitos inocentes na voragem das ações motivadas pela sua loucura: basta olhar para a história do  Sec. XX.

O mundo está sob a espada de Damócles e  esses doentes estão a fazer tudo para rebentar o fio que a suspende.

Este problema num mundo globalizado exige uma resposta global. Todos os cidadãos do mundo têm a obrigação defender a sanidade mental da humanidade,  à luz do legado do passado, da vida do presente e da esperança no futuro.

Assim a contestação perseverante e organizada ao Trump, ao “trumpismo” e aos “trumpistas”, assume a maior importância no momento atual.

É muito importante a contestação dos artistas, seja ela direta, seja através do humor, da caricatura, da música ou de opinião nos “ mass media”, escritos ou digitais,  é mesmo a primeira barreira de defesa da liberdade.

A segunda barreira é a contestação pública organizada, especialmente a de rua.

A terceira barreira é também organizada e é a contestação através das organizações profissionais: laborais e patronais.

A quarta barreira é o litígio jurídico, na justiça dos USA e nos tribunais e outras instâncias internacionais sempre que seja infringido o estado de direito ou o direito inter-estados.

A quinta barreira é a dos cientistas especialmente os da medicina e psiquiatria que devem coligir as provas materiais da insanidade mental do personagem, da sua incapacidade para governar e pedir a sua interdição através dos órgãos de justiça, do parlamento e do senado.

A sexta barreira é a solução militar que já foi usada contra personagens anteriores, à custa de sangue suor e lágrimas, mas que neste caso, pela sua extrema perigosidade, tem de ser usada com a máxima prudência, sempre à luz do direito internacional e deve ser liderada pela ONU. E, além disso, exige a adesão de uma larga maioria dos membros das Forças Armadas dos USA, pois atuar no momento errado ou carregar no botão errado, pode desencadear o Apocalipse e extinção da Humanidade.

Estamos à beira do abismo e não podemos dar um passo em falso. Os trumpistas sabem disso e por essa razão vão jogando com as nossas limitações, pois eles não têm nada a perder: são doentes insanos com um complexo messiânico, que pela fidelidade à sua crença, creem ter garantida a salvação.