20 julho 2023

O fim da linha 2 - Apocalipse anunciado

 O que está para além do horizonte?

"Para lá daqueles montes....

Há outros rios, outras fontes,

Outras guerras, outro Deus,

E outros homens como eu...."

(citação do poema cantado por José Cheta em 1970 ) 

Todo o mundo é composto de mudança (1), mesmo o que fica para além do horizonte.

É esta a nossa fé, que sustenta a esperança sem provas, de que para lá daquilo que conhecemos, existam coisas que estão ao alcance da nossa compreensão ou pelo menos dentro do que podemos sentir quer pelos meios próprios quer por sensores artificiais.

As visões apocaliptícas de abismos cheios de feras, quimeras, demónios, potestades, bojadores, adamastores e outros seres mitológicos cantados pelos poetas, até agora têm sido desmentidas pelas experiências reais e prosaicas, mesmo que perigosas, de intrépidos exploradores, os "homens do leme",(2) que vencendo os seus medos e os dos outros, passam para lá do horizonte, trazendo-nos novas de outros lugares, derrubando os muros no pensamento e dando novos mundos ao mundo.

São estes os heróis do progresso em honra de quem Camões escreveu em "Os Lusíadas" a  frase sempre atual:

"Cesse tudo o que a antiga musa canta porque outro valor mais alto se alevanta !"

As pessoas, a sociedade a que pertencem, a civilização em que estamos inseridos, a nossa espécie, toda a vida na terra, o planeta, todos os astros do firmamento e até mesmo o universo chegam a um ponto em que encontram o fim da linha, em que até a própria mudança não se muda  já como costumava.

Em física e química, esta fronteira costuma chamar-se de "fronteira de mudança de fase" em que deixam de se aplicar as leis de conservação e de mudança conhecidos e passamos a ter em conta as leis de de uma nova física ou química aplicáveis á nova situação.

A mudança atual é tão rápida que " não se muda já como soía". As alterações climáticas, a emergência de saúde pública com as várias pandemias em curso, a emergência económica e social causada pela impossibilidade de manter um consumo crescente exigido  no modo de produção capitalista vigente, sem que haja no nosso horizonte um modo de produção alternativo, aproxima-nos do  abismo  agiganta os nossos medos naturais.

Estamos já a um nível de consumo médio de 1,2 Terras por pessoa, enquanto que o consumo nos países desenvolvidos ultrapassa as 36 Terras. 

Podemos tomar como certo que chegamos ao fim da linha que a natureza nos proporciona e que estamos perante o abismo de  enfrentar a sétima extinção em massa na História do planeta, com os ponteiros do relógio a marcar que falta um minuto para o Dia do Juízo.

A juventude dos países desenvolvidos reclama contra a inércia e inépcia de políticos e demais autoridades governantes, que nada fazem para diminuir a ameaça que pesa sobre a humanidade, mas não abdica dos seus hábitos consumistas , nem dos seus confortos excessivos, nem dos comportamentos promíscuos ou descuidados em termos de saúde.

A continuarmos assim, no fim da linha, para lá do horizonte, temos à nossa espera mesmo, coisas bem piores do as que nos mostram os filmes apocalípticos da mais ousada fantasia. 

E, além do mais não podemos esquecer que a natureza cobra sempre o que lhe devemos

A história mostra-nos que em cada extinção em massa do passado, do meio dos escombros, a vida emergiu vigorosa liderada pelas espécies mais adaptáveis e não as maiores, mais numerosas ou mais fortes.

Devemos fazer tudo para como espécie nos encontrarmos entre os sobreviventes.

(1) Citação do poema de Luís Vaz de Camões: o soneto "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"

(2) canção emblemática da banda Xutos e Pontapés https://www.musica-portuguesa.com/xutos-pontapes-homem-do-leme-letra/


continua....

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