25 junho 2013

Uma visão pós - Marxista da Teoria do Valor 8


A inflação explicada à luz da teoria do valor pós-marxista:

Constatação: Verifica-se que em determinadas circunstâncias os governantes têm necessidade de aumentar a quantidade de símbolos do valor (ou dinheiro) circulante para manter a economia de mercado a funcionar, isto é: fazem emissão de moeda. 
Isto tem como como consequência uma alteração de paridade entre os preços das mercadorias com tendência para as mercadorias importadas verem o seu preço aumentado (inflacionado) apenas por essa razão (sem haver a montante alterações nos custos ou nos lucros).

O erro da economia política clássica incluindo a da escola marxista
E porque é que há necessidade de aumentar a quantidade de moeda circulante? A procura da resposta leva-nos a rever a razão da existência do dinheiro, por muitos considerado um tipo especial de mercadoria, inicialmente baseado na crença do valor intrínseco e absoluto dos metais preciosos como o ouro. Karl Marx também comprou essa ideia do dinheiro como uma mercadoria especial, usada como padrão de troca. Em meu entender isso afastou-o do cerne da sua ideia inicial sobre o valor das coisas que considerava o tempo socialmente necessário para a produção como a base da formação do valor e dos preços dos bens e serviços.
Por causa deste erro os economistas ficaram sem ferramentas para explicar dois factos constatados atualmente : pode haver mercadorias com preço de aquisição diferente de zero cujo valor incorporado é nulo e pode haver mercadorias de grande valor incorporado como por exemplo: o alojamento e o software devsuporte a este blog que são transacionadas a custo zero (a Google disponibiliza-os em versão grátis), mas ainda geram lucros para o fornecedor sem gerarem despesas imediatas para o comprador ou recetor.( Neste caso o autor e os leitores)

O dinheiro
O desenvolvimento da sociedade durante último quarto do sec XX e agora no início do sec XXI levou o dinheiro para o seu papel verdadeiro ou seja para o papel de símbolo. Atualmente, o dinheiro como símbolo de troca de titularidade da posse de  mercadorias (bens e serviços) por um título de crédito, já não precisa de existir fisicamente (não são necessárias notas ou moedas nem sequer equivalência em ouro) basta que exista um número registado num registo contabilístico ( uma conta corrente bancária, empresarial ou nacional).
Mas o que é mesmo esse símbolo: o dinheiro? O papel-moeda tem em si algum valor? 
Será que poderíamos queimar todas as notas e derreter todas as moedas sem afetar o funcionamento da economia?
A resposta a esta questão foi dada de forma brilhante por Lazarus Long, um personagem criado pelo escritor Robert A. Heinlein no livro : “Time enough for love” (“Amor sem limites”, em versão portuguesa). No bloco notas onde anotava os seus pensamentos e apontamentos da sua vida, Lazarus Long comentava que:" o dinheiro só tem valor quando está fora do banco emissor e uma vez retornado para o seu interior pode ser queimado que não afeta nada nem ninguém!"
O dinheiro não é o valor. É no máximo um símbolo do valor, mas apenas quando está em circulação fora do banco emissor! O papel moeda representa apenas um certificado de crédito, que faz o saldo de uma dívida, derivada um crédito obtido como emprestimo do banco emissor. Nada mais! 

Então aquilo a que devemos prestar atenção concetualmente e matematicamente é ao crédito e o seu relacionamento com o valor económico e o tempo.
Se o valor está no tempo aplicado em trabalho pelas pessoas e se à medida que a civilização se desenvolve as pessoas aplicam cada vez menos do seu tempo para obterem o necessário para viver condignamente, então pergunta-se como é que isso é possível?
As pessoas evoluíram fisicamente e tornaram-se super trabalhadores ? 
As pessoas aprenderam a organizar melhor o seu tempo e com isso tiveram ganhos de eficiência? 
Ou há outras razões?

Bem, segundo a ciência antropológica, pelo menos nos últimos 20000 anos da humanidade, não houve nenhuma evolução física relevante. O nosso corpo pura e simplesmente não evoluiu, portanto não é esta a razão. 
É um facto que as pessoas com a civilização conseguem organizar melhor o seu tempo, mas isso apenas pode explicar diferenciais locais entre pessoas que vivem na mesma janela temporal. 
E como explicar que as capacidades médias de produção por pessoa sejam milhares de vezes maiores do que há 20 000 anos ou que a produtividade de um rural africano seja centenas de vezes menor do que um rural americano a tratar do mesmo tipo de culturas?
A maioria das pessoas instruídas atuais responderia que a diferença está nos instrumentos usados na produção em si ou na preparação dos fatores de produção, em especial nas máquinas e nos automatismos usados. 
Sim, aqui é que está a verdade!
E o que significa isso em termos da teoria do valor ?
 As máquinas e automatismos significam incorporação de trabalho indireto no processo produtivo. Portanto mais automatismo significa que o rácio (Ti+Td)/Td (tempo de trabalho humano total (direto+indireto )/(trabalho humano direto) a produtividade é muito maior atualmente e muito maior nos USA do que em África.

Trabalho e capital no modo de produção capitalista
Ora é este rácio que nos mede a produtividade e que também mede o capital acumulado usado num processo produtivo do tipo capitalista em que o capital seguinte = capital inicial + capital incorporado presente.

E todo o tempo de trabalho humano fica transformado em capital no modo de produção capitalista?
Claro que não ! Todas as pessoas vivas existentes consomem recursos e mesmo a maquinaria também consome recursos, portanto, só os excedentes podem ser incorporados no capital fazendo-o crescer. 
Ora estes excedentes do consumo das sociedades é que estão disponíveis para circularem na economia como crédito circulante que pode ser titulado como papel moeda ou como qualquer outro símbolo socialmente aceite. Esse crédito pode mesmo ficar titulado pelo direito de uso para transação de bens materiais : aquilo a que chamamos direitos de propriedade.
O crédito em direito transacionável de propriedade de bens materiais (uso no presente ou usufruto de rendimentos futuros em conjunto com os direitos de uso futuro de serviços) ou de uso de serviços, é que constitui o valor que tem de ser titulado pelo dinheiro ou papel moeda.
Vamos analisar então em detalhe o conjunto dos créditos circulantes numa sociedade com economia baseada em mercado (aquela em que o preço de transação dos bens e serviços contém a totalidade das parcelas definidas na formula do valor ) cujos intervenientes são pessoas singulares ou coletivas a quem a lei confere direitos civis.

A propriedade material e o dinheiro
E as propriedades de uso particular que servem para o suporte de vida ou suporte social dos cidadãos, devem ser tituladas por dinheiro? Se não vão ser transacionados, não! O dinheiro titula apenas créditos circulantes gerados por transações de bens e serviços.

A transação gera crédito
É importante esclarecer como é que uma transação de bens e serviços gera o crédito. Numa transação permutam-se títulos de propriedade transacionáveis. O vendedor cede a propriedade, ou seja troca o seu titulo de propriedade de bens ou serviços, por um título credor de uma dívida, enquanto o comprador efetua o inverso, cede um título de dívida de outrem que esteja em sua posse, ou seja um crédito que disponha , e adquire um título de propriedade. Isto significa que um vendedor em abstrato confia que um comprador em abstrato possa em em algum momento liquidar a sua dívida com o produto do seu tempo de trabalho ou seja, concede-lhe um crédito. É esse crédito em abstrato que circula na economia de mercado devidamente titulado por símbolos. Muitas vezes o comprador não tem disponibilidade imediata quer de tempo quer de títulos mas através do deferimento no tempo da obrigação de saldar a sua dívida é-lhe concedido um crédito diferido, mediante uma remuneração adicional o juro.

Créditos circulantes : moeda real e moeda virtual
Na atualidade o conjunto dos símbolos de crédito é constituído por:
  • papel moeda,
  • Moedas digitais Bitcoin e outras)
  • crédito em “cartões” de crédito (conta crédito)
  • crédito comercial (diferimento no pagamento de faturas)
  • Títulos de dívida (obrigações, livranças, letras, cheques e em geral “empréstimos” comerciais de qualquer tipo)
Destes apenas o papel moeda é 100% controlado controlado pelo estado que é a entidade emissora e entidade fiscalizadora e também é o único que tem uma representação real ou material.
O crédito em cartões ou conta crédito, dinheiro digital blockchain é emitido pelos bancos ou entidades similares de forma particular (mesmo quando o banco é de capitais públicos). O controlo público destes créditos é mínimo. A sua equivalência em dinheiro é quase impossível de ser aferida.
O crédito comercial é emitido pelas empresas em benefício dos seus clientes, com prazo de amortização variável, embora seja usual entre empresas conceder-ser pelo menos 30 dias. O controlo público destes créditos é atualmente indeterminado. Do mesmo modo a sua equivalência em dinheiro é quase impossível de ser aferida, embora se possa fazer uma estimativa a partir do volume de faturação entre empresas.
Os títulos de dívida quer estatais quer particulares ( entre cidadãos ou entre cidadãos e empresas ou mesmo nas empresas entre si ) são normalmente registados oficialmente por  documento de registo público. Assim pode-se sempre conhecer o volume desses créditos circulantes. O estado só tem controlo, ou seja só pode determinar o valor dos títulos de dívida dos organismos de estado.
Desde o início da gestão digital de contas há cerca de 50 anos o rácio entre o papel-moeda e os outros símbolos de crédito tem vindo a descer , ou seja cada vez há mais dinheiro virtual, dinheiro esse que está fora do controlo estatal. De igual modo a quantidade de símbolos de crédito (ou seja dinheiro) tem vindo a aumentar desmesuradamente saindo frequentemente fora de paridade com o valor produzido. Isso é equivalente à emissão pelo estado de papel moeda sem controlo e tem como consequência direta o crescimento da inflação

O falso custo dos bens e serviços pago pela geração presente
Os bens e os serviços que têm mais trabalho indireto incorporado e não são produzidos ou comercializados em condições de monopólio, são aqueles que em geral que têm menor custo para a geração presente. Isso acontece porque esse trabalho indireto já foi pago anteriormente (está agora incorporado no capital) e ainda porque o eventual custo da reposição das condições iniciais foi diferido para um futuro fora da janela temporal de vida da geração presente.
E quais são em geral os bens e serviços nessas condições ? São aqueles que são produzidos durante um período mais longo e os que tenham economia de escala associada.
E os novos bens e serviços vulgarmente conhecidos como moda, fabricados em séries muito menores do que o que a respetiva tecnologia permite ? Esses têm mais trabalho direto incorporado (em design, em projeto, em marketing, em geral em tudo o que esteja associado a inovação ) e apenas um mínimo de trabalho indireto.

E onde se consegue incorporar mais trabalho indireto? Será nos bens ou será nos serviços?

A resposta é óbvia . É na produção de bens, pois é nesta classe económica que atualmente temos maior incorporação de automatização e processos de produção em série:
  • fabricação automatizada
  • distribuição com alto nível de automatização ou com um mínimo de mão de obra direta por peça por causa da distribuição em grandes superfícies e do marketing eletrónico maciço
    E nos serviços então não há possibilidades de automatizar ?
  • Claro que há! E até temos exemplos que se multiplicam todos os dias:
  • Os serviços bancários estão com uma taxa de automatização de mais de 95% de todas as operações
  • Os serviços do estado como os serviços tributários na última década aceleraram a sua automatização e já mais de 70% das operações podem ser automáticas
  • O ensino automatizado e remoto ( e-learning) é já uma realidade cimentada e nas próximas décadas atingirá sem dúvida taxas da ordem dos 90%
  • A publicidade e marketing em particular a publicidade endereçada individualmente tem já mais de 90% e automatização.
  • Serviços pessoais e domésticos – Quem não conhece os robôs domésticos?
  • Serviços de monitorização gestão e manutenção das grandes redes de comunicações de de energia com mais de 95% de automatização
  • Até a inovação tecnológica e as invenções (projeto e inventiva) estão neste momento a sofrer um impulso de lançamento com os “algoritmos genéticos” e sistemas de aprendizagem automática profunda (software inventor) que faz com que mais de 10% das novas grandes invenções e inovações tecnológicas já tenha contributo automático

Sendo a automatização omnipresente está contudo incorporada em proporções bem distintas nos bens e nos serviços e também em proporções muito diferentes conforme consideramos um bem ou serviço no lote dos novos (moda ou inovação ) ou no lote dos de uso corrente mais antigos.
Prestemos atenção agora à sociedade atual designada por sociedade de consumo em que a regra é a criação de ciclos tecnológicos artificialmente curtos.
Designamos por ciclo tecnológico o período que vai desde a prova de conceito (fabricação dos primeiros protótipos) até ao último dia da fabricação em série de um bem ou o período que medeia desde a primeira apresentação pública de um serviço até ao final da sua vida económica, ou seja até que o total do valor produzido seja menos de 1% do seu máximo.
Em especial para os bens, a vida útil do bem estende-se muito para além do ciclo tecnológico.
Por exemplo um computador pessoal pode manter-se funcional por mais de cinco anos desempenhando a sua função sem degradação de performance, contudo todos os fabricantes lançam anualmente substitutos e deixam de ter assistência de marca a preços comportáveis após o período de garantia de 2 anos. Um outro exemplo ainda mais gritante é o dos telemóveis cuja vida útil pode ultrapassar 5 anos e os fabricantes e operadores lançam substituições a cada 6 meses. Contudo os campeões dos ciclos tecnológicos artificiais são os produtos de vestuário e calçado cuja funcionalidade pode ser de mais de 2 anos e os fabricantes lançam novas coleções de 3 em 3 meses ou de 6 em seis meses .
Com os ciclos tecnológicos artificialmente curtos, fica prejudicada a economia de escala não deixando o seu valor de aquisição descer até aos níveis que a tecnologia e a dimensão do mercado permitiriam e criando problemas adicionais de reposição das condições iniciais (custos associados à reciclagem, eliminação da pegada de carbono e esgotamento de reservas de matérias primas) .

E o que significam em termos da teoria do valor, ciclos tecnológicos artificialmente curtos ?

Primeiro: significam que nunca se atinge a quantidade de trabalho indireto incorporado que a tecnologia permite ou seja, o rácio (Td+Ti)/TD  para classe de bens ou de serviços não desce. Mais, poderá mesmo implicar uma subida se considerarmos o esforço de marketing necessário para fomentar o consumo. Marketing esse todo feito de novo e à medida, logo caro, que não se destina a criar novos consumidores para a classe de bens ou serviços, mas somente a levar à substituição do bem ou serviço por outro que esteja na moda.
Segundo: Que sendo produzidas pequenas séries (em relação ao que a dimensão do mercado e o estado da tecnologia permitem, o fator do valor dependente do fator de escassez ( oferta/procura) na fórmula do valor assume um valor relevante .
Terceiro: A viabilidade da produção em ciclos tecnológicos curtos depende claramente de em curto período de tempo se conseguir atingir o máximo número de compradores. Ora isto só se consegue em regime de monopólio da cadeia de produção distribuição. Então como vimos a parcela da teoria de valor correspondente ao “fator de monopólio, assume um valor relevante
    Estes três fatores conjugam-se para que o custo de aquisição dos bens e serviços de ciclo tecnologicamente curto se mantenha sempre elevado e se tente adiar o pagamento da reposição das condições iniciais, para um futuro o mais distante possível.
    Se no cenário anterior tivermos os símbolos monetários vinculados ao número de transações, (cada transação gera um crédito e os créditos geram símbolos) caso mais comum na sociedade com o modo de produção capitalista atual, então os símbolos de valor circulantes estão sempre a aumentar. Além disso se em vez de vermos baixar o custo e aumentar a quantidade dos bens e serviços de ciclo tecnológico mais longo por força dos ganhos tecnológicos em produtividade, virmos o seu preço manter-se em paridade com os novos serviços, o que notamos é que o número de unidades de crédito gerados pela sua transação aumenta no tempo ou seja notamos inflação nos preços.
    Mas ainda, temos outra consequência fundamental da sociedade de consumo ( aquela em que está generalizada a produção de bens e serviços de ciclo tecnológico curto): a produção de bens e serviços de ciclo curto é suportada por pessoas oriundas da bolsa de trabalho ativa, deslocadas para esta atividade, que se mantêm consumidoras dos bens e serviços de ciclo longo (o consumo potencial destes bens e serviços mantém-se praticamente inalterado por este movimento social). Como é óbvio se não se der um aumento de produtividade (rácio (Ti+TD)/Td ) que compense a diminuição do trabalho direto disponível, vai haver menos produção (oferta) do que o consumo potencial (procura) fazendo crescer o fator Op na fórmula do valor, levando ao aumento do custo de aquisição desses bens e serviços ou seja fazendo subir a taxa de inflação.

E quando se esgota a capacidade social de absorver mais novos bens e mais novos serviços ? O que acontece?

Acontece a outra face da inflação que é o desemprego - a crise..
A evolução tecnológica permite produzir e distribuir mais bens e serviços com maior produtividade (rácio Ti+TD)/Td mais elevado), mas não havendo aumento de consumo correspondente, dá-se uma sobre produção , e uma desvalorizaçao do stock ,“a bolha rebenta” , fazendo perecer empresas e criando desemprego.
    Conclusão
A sociedade de consumo como fase final da evolução económica do modo de produção capitalista é uma sociedade naturalmente geradora de inflação:
- pelo aumento de duas das três parcelas que compôem a fatura total a pagar pela sociedade. Custo total = Custo de aquisição (actual) + Custo de posse (dentro do prazo de vida útil) + Custo de reposição das condições iniciais (longo prazo)
- pelo aumento natural dos créditos em circulação e dos correspondentes símbolos monetários

As causas da inflação à luz da teoria do valor
Pelo exposto pode-se concluir que as causas da inflação à luz de uma nova visão da teoria do valor são:
  • de caráter social (movimentação demográfica) : sempre que se verifique uma mudança significativa de pessoas da produção de bens fabricados em grande série para para a produção de novos bens ou serviços de baixa incorporação de trabalho indireto (baixa produtividade)
  • de caráter financeiro: sempre que se verifique a emissão de créditos ou dinheiro virtual sem contrapartida do trabalho direto incorporado nos bens e serviços transacionados
  • Pela sociedade de consumo
  • Pela destruição de bens , serviços e estrutura social causada por guerras ou eventos economicamente estéreis

Uma visão pós-Marxista da Teoria do Valor 7

O que o Marxismo deixou por explicar
- Fórmula geral de cálculo do preço ou valor de mercado expresso em função:
- do trabalho humano incorporado direto e indireto; 
-da abundância ou escassez em relação ao consumo; 
- do número de produtores em competiçao;
- do lucro ou quota de acumulação de capital; 
- do custo da eliminação da pegada ecológica da produção desse bem ou serviço ou seja, da reconstrução ambiental

P = (Td/(1+Ti)) (Op+Fm) + L + Ra <----> (P-L-Ra)(1+Ti)/Td= Op+Fm

P é o preço de aquisição em mercado.
O que nos diz está fórmula:
1 - O fator de escassez Op e o fator de monopólio Fm não dependem da produtividade. Ou seja, não dependem do nível civilizacional ou tecnológico de uma sociedade, mas dependem do comportamento dos agentes económicos e de causas ambientais.
(P-L) – Em economia de mercado é o preço de custo para o comerciante seja ele produtor, grossista ou retalhista.
Ao quociente (1+Ti)/Td chama-se PRODUTIVIDADE.
A produtividade costuma exprimir-se em termos do racio quantidade de bens ou serviços produzidos por unidade de tempo ou do racio unidades monetárias extra obtidas sobre unidades monetárias investidas ( valor acrescentado sobre valor investido. ) 
Consideremos o racio (1+Ti)/Td
Quando a produção é totalmente automática Td tende para zero, logo a produtividade no limite é infinita. Quando a produção não incorpora nenhum trabalho indireto Ti=0 a produtividade é dada pelo inverso do ptempo de trabalho direto.
Ambas as situações anteriores são cenários idealizados que não se verificam na realidade social. Por exemplo: no primeiro caso tem de existir, no mínimo, o trabalho do produtor para conceber o produto; no segundo caso existe no mínimo trabalho indireto sob a forma de capital condensado no conhecimento público civilizacional (ciênca e tecnologia) incorporados no conhecimento e tecnologia de domínio público e  na estrutura social organizada em termos de funcionamento económico.
Por esta fórmula pode-se verificar que à medida que aumenta a produtividade o preço fica mais dependente do lucro pois os fatores dependentes dos custos de mercado - OP e a situação da empresa na estrutura económica - Fm são afetados pelo inverso da produtividade.
Se tivermos um modo de produção não capitalista em que não exista apropriação privada do lucro pelo capitalista para seu consumo pessoal e em que a produção tenha alta eficiência (sem desperdícios de monopólio ou outros) os preços dos bens e serviços tenderão a diminuir no tempo (no limite até ZERO) com o aumento da produtividade. (Tendência da CAUDA LONGA - curva de Pareto - conseguida pela economia de escala da produção de grandes séries, conforme a tese de Chris Anderson).(2)
Quando a produtividade aumenta no tempo e os preços não diminuem na mesma proporção, dizemos que há inflação, pois o aumenta o lucro ou ou os fatores OP e Fm para compensar o aumento da produtividade.
A inflação manifesta-se por um aumento ou não diminuição temporal dos preços em função do aumento da produtividade, contudo não tem apenas causa nos fatores económicos da produção, pode quase sempre ter origem em fatores sociais que afetem a escassez (OP), como o aumento da população não ativa, o desperdício, a guerra ou as catástrofes naturais que destroem valor. O estudo da inflação é abordado em capítulo autónomo mais à frente neste ensaio.
Em geral no modo de produção capitalista há escassez, ou seja produção inferior ao potencial de consumo, tendo o fator OP um valor positivo tanto maior quanto maior for a escassez.
Por outro lado se no modo de produção capitalista houver uma sobre produção, os custos de armazenamento e ou obsolescência podem tornar o fator OP negativo (o produtor paga para se ver livre do stock) e o preço final pode ser ele mesmo negativo.

O preço no modo de produção capitalista é dado pelo produto do inverso da produtividade por uma função de retroação (regulação) constituída por duas parcelas (OP – Índice de escasez Oferta e Procura e Fm – Fator de monopólio) ao qual se adiciona a parte de acumulação do valor (CAPITAL) : o Lucro mais a parte da Reconstrução Ambiental ou seja minimizar a Pegada Ecológica
O preço de aquisição em mercado é função de vários fatores ou  custos parcelares
Caq=f(Td,Ti,Op,Fm,Ra,L) 

temos de comparar os diversos fatores de ponderação das parcelas que são para ser usadas na construção de um modelo matemático de funcionamento da economia, que responda acertadamente aos casos conhecidos do presente e passado e por isso nos dê uma razoável confiança de poder fazer previsões para o futuro.
No princípio desta dissertação disse que procuraria construir um modelo do valor baseado em parâmetros físicos mensuráveis da atividade humana. O tempo é a grandeza que se pode usar porque, a natureza atribui a todos os homens de qualquer época, a mesma quantidade de tempo. Uma hora de um rico é igual à de um pobre , que por sua vez é igual à de um rei e que não se distingue de uma hora de um vilão.
Karl Marx e muitos outros também pensaram do mesmo modo que eu. A grande diferença é que eu conheço o que foi feito como resultado dos seus estudos e conheço o endeusamento das suas descobertas e os respetivos resultados. 
Na época em que primeiro foi apresentada Sec IXX a simples assunção do tempo como grandeza mensurável primária na génese do valor, foi uma verdadeira revolução concetual. Contudo essa revolução em termos concetuais pouco mais deu do que a posterior descoberta da lei da concentração e centralização do capital. O que é manifestamente muito pouco para trazer a economia para o campo do conhecimento científico.
O que ficou por explicar:
  • As causas da inflação dos preços ao consumidor.
  • Os ciclos económicos (sua duração, frequência e fenómenos iniciadores - gatilhos)
  • Se o modo de produção nos países governados pelos partidos comunistas era modo de produção capitalista ou outro modo diferente e novo
  • Se havia ou não inflação nos países ditos socialistas e se sim qual a sua magnitude
  • A evolução dos preços com o progresso tecnológico
  • A evolução da produtividade com o progresso tecnológico
  • A função económica do lucro ( a função social do predador )
  • A fórmula completa que relacione custos totais (preços totais) e valor dos bens e serviços.
  • Prever, ainda que de forma estatística, o funcionamento da economia, quer global, quer de um país ou de um grupo de países.

Uma Visão pós-Marxista da Teoria do Valor 6


Fator de monopólio

Definições

Fator de monopólio - No âmbito deste artigo considera-se que existe este fator de formação dos preços dos bens ou serviços nas circunstâncias em que uma determinada produção ou distribuição chega ao consumidor através de uma cadeia de comercial (produção-distribuição-consumo) que inclua pelo menos um elo monopolista.

Condição de monopólio - Do mesmo modo ainda no âmbito deste artigo define-se como condição de monopólio a condição de concorrência comercial em que se encontrem menos de 10 concorrentes por 100000 consumidores e em e que o volume de negócios desses concorrentes tenha peso da economia de pelo menos 0,1%. 

Nestas circunstâncias a formação dos preços não depende apenas do valor do trabalho humano incorporado mais o lucro dos detentores do capital dentro da cadeia produção-distribuição, mas tem um custo adicional proporcional ao grau de monopólio da cadeia comercial e ao seu tamanho absoluto da parte monopolista (quer em volume de faturação quer em orçamento geral) e é ainda proporcional à produtividade ou nível desenvolvimento tecnológico.



O início da formação de monopólio
Verifica-se que os custos de estrutura de uma empresa por unidade de vendas são decrescentes com o tamanho da empresa (capital social combinado com volume de faturação) enquanto a empresa está inserida num circuito comercial concorrencial. Mas num mercado limitado (que não seja arbitrariamente crescente quer em volume de faturação quer em número de empresas) há um momento em que o crescimento das empresas se começa a fazer à custa da destruição das empresas que não conseguem crescer. Ou seja dá-se crescimento de alguns diminuindo muito o número total dos intervenientes no setor. A esse ponto chamo: o ponto inicial de formação de monopólio.

Nesse momento pelo menos alguns dos concorrentes, de acordo com a teoria dos jogos de Pareto descobrem que podem fazer cartelização ou seja tirar mais vantagens económicas combinando os resultados do jogo económico, em vez de competir. Assim se começam a formar os monopólios que uma vez estabelecidos deixam de ter necessidade de evoluir em eficiência económica. Para se manterem basta-lhes retribuir ao capital dividendos, não decrescentes por unidade de capital investido. Os preços dos bens e serviços que comercializam deixam de ter uma relação exponencial inversa com a economia de escala e a evolução tecnológica, retardando no setor “a fase económica de cauda longa” tal como foi definida por Chris Anderson nos seus livros “A Cauda Longa” e “Free”.

Fatores que contribuem para a perda de eficiência económica nas empresas monopolistas
A economia como reflexo da atividade humana está condicionada às mudanças na sociedade. As mudanças que mais afetam a economia são as de caráter tecnológico e as alterações demográficas. São as alterações na tecnologia que permitem o aparecimento de novos bens e serviços ou a alteração qualitativa ou substancialmente quantitativa dos bens e serviços existentes e são as alterações demográficas, em especial as expansivas, que trazem a disponibilidade de mão de obra na produção e o aumento de consumo com efeitos económicos visíveis no mercado.
É evidente que estas duas condições são apenas condições necessárias mas não suficientes para a mudança, pois esta é um processo revolucionário. As empresas para enfrentarem a mudança precisam pois de ter características internas de grande adaptabilidade, como diversidade potencial nos seus produtos, na sua mão de obra e na sua estrutura interna. Ora é esta adaptabilidade nos produtos, na mão de obra, na maquinaria automática e na sua estruturação, que mais regride à medida que uma empresa vai crescendo até se tornar monopolista. Verifica-se que as empresas sobreviventes na fase de monopólio dificilmente mantêm eficiente leve e flexível a sua estrutura interna. Por estarem inseridas num mercado vasto com poucos ou nenhuns concorrentes deixam de ter a necessidade de eficiência económica na produção dos bens e serviços e com a cartelização explicita (combinada) ou implícita (não combinada) os preços e condições fornecimento dos bens ou prestação de serviços mantêm-se bastante mais gravosos do que poderiam ser em mercado concorrencial.
O peso deste fator não significa que do preço final é distribuído mais valor para os produtores primários (todo o trabalho humano necessário e suficiente para garantir o fluxo produção-distribuição consumo). De igual modo não significa sequer que contribua eficazmente para a acumulação de capital na cadeia económica quer por meio de mais dividendos monetários distribuídos aos detentores do capital quer por meio de investimento em meios de capital, tanto em maquinaria como em qualificação da mão de obra.
O que se verifica é que no preço final, cada vez têm mais peso, custos como os de marketing, as remunerações da hierarquia de topo quer ela seja ou não detentora de capital (e neste caso essa hierarquia é duplamente remunerada), os desperdícios em utilização de material e mão de obra (sendo neste caso relevantes os empolamentos de funções inúteis e megalómanas) e ineficiências quer na produção ( como a sub empreitagem - outsourcing - sistemática), quer na distribuição com longas cadeias de distribuição ( há uma frase popular que resume assim : "com este lucro dá para tudo !").

Monopólios de capital público e monopólios de capital privado.
Consideram-se monopólios públicos todos aqueles em que a titularidade do capital não está predefinida para um número específico e concreto de cidadãos acionistas. Nesta categoria encontram-se as empresas e organismos estatais e também as empresas de capital aberto disperso em bolsa, as empresas detidas por fundos (de investimento ou outros).
Consideram-se monopólios privados todos aqueles em que a titularidade do capital está atribuída a um número específico e concreto de cidadãos acionistas . Nesta categoria encontram-se todas as sociedades limitadas que não pertençam a fundos, as sociedades cooperativas e as sociedades anónimas de capital fechado
As empresas monopolistas de capital público, seja este estatal ou particular, têm características de estrutura, de funcionamento, de gestão, de mentalidade e de comportamento da sua mão de obra (desde a gestão até ao executante mais baixo) muito semelhantes, podendo-se caracterizar por uma alta ineficiência económica, por um imobilismo e conservadorismo confrangedores e por um preço empolado nos bens e serviços que produzem. 
É neste setor onde mais se nota a influência do fator de monopólio na formação do preço final. Em termos de regimes de governação onde mais se notou esta influência foi nos regimes políticos dominados pelos partidos comunistas e afins. Esta foi uma das grandes razões da implosão dos regimes satélites comunistas do leste europeu. Eles criaram um tecido económico e social incapaz de se adaptar às mudanças do fim do sec XX e sec XXI. Neste tecido económico e social reinava a classe política (complexo militar industrial e Nomenklatura do partido ou partidos do poder), com uma mentalidade extremamente conservadora, completamente avessa à mudança, infetada pela corrupção de todos os níveis da sua estrutura e em qualquer lugar que se encontrasse na estrutura do estado ou da sociedade. Com esta mentalidade e comportamento os monopólios estatais e particulares (pois que também havia e há: veja-se o caso atual da China) afastaram-se completamente de um processo económico e social cuja tendência fosse Reduzir, Reutilizar e Reciclar ou seja serem eficientes. 
Sem remunerarem mais ou mais corretamente os produtores primários ( trabalhadores da cadeia produção distribuição) produziam bens e serviços obsoletos inúteis, ou com custos empolados. Era o reino da burocracia com as suas inutilidades obsolescências.
Assim se vê que para o fator de monopólio contribuem os custos com as inutilidades ou desperdícios internos mas também os custos dos serviços estatais característicos da burocracia tão querida da classe política.

Continua.....

10 junho 2013

Dar novos mundos ao mundo - 10 de Junho, Dia de Portugal

Cesse tudo o que a musa antiga canta porque outra voz mais alta se alevanta... Demos mundos novos ao mundo num momento em que as nações da Europa se encontravam numa encruzilhada à procura de alternativas e parecia que todos os caminhos levavam a Bojadores e Adamastores ou a Mouros e Turcos. Neste início do sec XXI estamos numa situação semelhante à que se estava no início do sec XV. 
As alternativas parece que se encaminham todas para mundos que ficam para lá do que é eterno....para as próprias portas do Inferno.
Está na hora de darmos outra vez novos mundos ao mundo. Sim, apesar de haver quem nos coloque como coletivamente avessos à inovação e incapazes de nos desenrascar perante novas situações, houve nestes últimos 40 anos várias situações em que desmentimos esta classificação e provamos que ainda somos descendentes de gente destemida, quer na guerra, quer na paz, quer ainda na capacidade de fazer uma revolução sem sangue integrando todos, mesmo aqueles que eram e ainda são contra essa revolução. 
O mundo precisa de respostas para um número crescente de problemas tanto de nível científico e tecnológico como social e organizacional. Alguns desses problemas colocam-nos perante Adamastores. A evolução da Democracia é um deles.  Isto é questionado de forma muito clara, por exemplo, nestas palavras publicadas em OS PENSADORES: (sic) " ...
Ao não haver, quando se elege, um vínculo de mandato imperativo, pelo qual os eleitores traçam uma linha de conduta que delimita a actuação do eleito e que este não poderá ultrapassar, tornando-se assim porta voz dos interesses de quem elegeu, o que sucede é que no momento da votação se torna independente dos eleitores...."
Estamos a viver a era da 4ª revolução da igualdade desde há quase 30 anos : a primeira vez que uma revolução está a ser feita por quase todas as classes sociais e que está a ser feita em simultâneo em todos os países do planeta, embora nuns siga mais rápida do que noutros.
Estamos perante um grave problema: os cidadãos não se sentem representados pelos partidos e começam mesmo a contestar o sistema democrático atual. Estamos pois perante a necessidade de dar novos mundos ao mundo. 
Todos temos esse dever de Portugueses: dar novos mundos ao mundo. A minha contribuição para se encontrar uma solução para a participação mais efetiva dos cidadãos na gestão da coisa pública, que não enferme ou pelo menos seja menos afetada pelo mal do monopólio dos partidos, foi escrita ao longo dos últimos anos neste blog numa série de artigos começada em 2010 e sumarizada em Bases para uma nova participação do cidadão na vida pública
Discuta-se e melhore-se e apliquem-se as minhas sugestões e garantidamente seremos os primeiros do mundo a libertar-nos da classe política