continuação...
Na
primeira parte deste artigo verificamos que a Liberdade de Pensamento
deve ser estudada na esfera de privacidade individual. Eu considero
mesmo que esta liberdade é a génese e o fundamento da privacidade e
da individualidade.
Em
contrapartida a Liberdade de Expressão do pensamento pertence ao
conjunto das liberdades da esfera social, pois baliza o
relacionamento entre os seres humanos e entre estes e as suas
organizações.
Pensamento
e raciocínio
Antes
de abordarmos a questão da Liberdade de Pensamento devemos definir
com clareza os conceitos de pensamento e
de raciocínio.
O
que dizem os outros
“Em lógica,
pode-se distinguir três tipos de raciocínio
lógico:
dedução,
indução e abdução.
Dada uma premissa,
uma conclusão,
e uma regra segundo
a qual a premissa implica
a conclusão,
eles podem ser explicados da seguinte forma:
-
Dedução corresponde
a determinar a conclusão.
Utiliza-se a regra e
sua premissa para
chegar a uma conclusão.
Exemplo: "Quando chove, a grama fica molhada. Choveu hoje.
Portanto, a grama está molhada." É
comum associar os matemáticos com
este tipo de raciocínio.
-
Indução é
determinar a regra.
É aprender a regra a
partir de diversos exemplos de como a conclusão segue
da premissa.
Exemplo: "A grama ficou molhada todas as vezes em que choveu.
Então, se chover amanhã, a grama ficará molhada." É
comum associar os
cientistas
(investigadores)
com
este estilo de raciocínio.
-
Abdução significa
determinar a premissa.
Usa-se a conclusão e
a regra para
defender que a premissa poderia
explicar a conclusão.
Exemplo: "Quando chove, a grama fica molhada. A grama está
molhada, então pode ter chovido." Associa-se
este tipo de raciocínio aos diagnosticistas e detetives,
etc
“
Citação
de https://pt.wikipedia.org/wiki/Racioc%C3%ADnio_l%C3%B3gico
consultada em 1-10-2018
“....
Quando compreendemos isto, verificamos que ser um pensador não é
condição suficiente de qualidade; é preciso que os pensamentos
desse pensador sejam consequências razoáveis de premissas dadas
para que valha a pena estudá-los ou tê-los em consideração. E, em
última análise, isto significa que estudar unicamente as conclusões
dos filósofos, ignorando os argumentos, os raciocínios, que eles
usaram para chegar a essas conclusões, é uma visão redutora da
filosofia; é como ler só o desfecho de um romance ou o fim de um
filme, sem prestar atenção a tudo o resto que conduziu a esse
desfecho.
Paulo
Ruas”
Citação
de https://criticanarede.com/fil_conceitosjuizos.html
consultada em 1-10-2018
“....
Raciocínio é
um substantivo masculino que significa o ato ou maneira de pensar
ou raciocinar.
É sinônimo de argumento, pensamento ou
juízo.
Com
origem no termo em latim ratiocinatio,
um raciocínio também pode ser descrito como uma sequência de
juízos ou argumentos usados para chegar a uma determinada conclusão.
Um
raciocínio pode ser classificado como
um pensamento, cálculo,deliberação ou dedução. Ex:
Tenho que sair daqui porque este barulho está prejudicando o meu
raciocínio.”
Uma
abordagem dos cientistas que estudam a implementação da
inteligência artificial enquadrada na 4ª revolução Industrial em
currso
“---
Paradoxalmente, mesmo quando se iam abrindo janelas para a Natureza e
para o comportamento humano, os algoritmos de aprendizagem em si
permaneceram envoltos em mistério. É raro passar um dia sem que
surja uma história nos media que envolva aprendizagem automática,
quer se trate do lançamento da assistente pessoal Siri da Apple, ou
de o Watson da IBM ter derrotado o campeão humano do concurso
Jeopardy., ou de a Target ter descoberto que uma adolescente estava
grávida mesmo antes de os pais dela saberem”
Citação
de “A revolução do Algoritmo Mestre- Como a aprendizagem
automática está a mudar o mundo.” do Professor Doutor Pedro
Domingos – Manuscritos editora,2017
Em
conclusão podemos dizer também que ao longo da história desde a
antiguidade clássica (Aristóteles) até aos filósofos modernos
(Kant) e contemporâneos (Peter
Singuer que
considera que os seres humanos apenas
adquirem
a qualidade
de pessoas a partir do momento em que adquirem a linguagem e o
manuseio de conceitos abstratos )
houve
muitas dissertações sobre o tema
do raciocínio. Podemos ver um resumo das várias escolas no artigo
de Paulo Ruas acima citado.
Contudo,
em todos os clássicos e modernos o raciocínio é entendido como
sendo uma capacidade exclusivamente humana.
Alguns
contemporâneos confrontados com os avanços da tecnologia das
Inteligências Artificiais tentam usar a lógica para concluir sobre
os 3 principais tipos de raciocínio lógico (humano) atrás citados
na Wikipédia, como
sendo os verdadeiros representantes do conceito.
Neste
artigo uso opto por uma definição geral que englobe todos os tipos
de raciocínio natural humano e não humano bem como o das
inteligências artificiais. Penso que deste modo o conceito fica
correta e definitivamente clarificado. Assim, raciocínio define-se
como a capacidade dos sistemas materiais cibernéticos (na aceção
plasmada no artigo Cibernética, princípios meios e fins neste
blog), para processar informações obtidas de sensores ou de
memórias internas para
o prosseguimento dos seus objetivos. Nesta aceção raciocínio e
inteligência são quase equivalentes, pois que inteligência como
capacidade para perseguir um objetivo
é a resultante dos vários processos de raciocínio nos seres
naturais ou artificiais. Para diferenciar as inteligências dos
vários seres vivos ou inanimados, devemos classificá-las pelo grau
de controle da ação, que
for
obtido por essas inteligências , que nos dá o nível ou grau
cibernético (numa
escala de 0 a 9 como está descrito no artigo acima citado).
Tipos
de inteligência
Regra
geral, os sistemas cibernéticos, nos quais se incluem os seres vivos
só têm sensores e atuadores adaptados para cada classe de problemas
que têm de enfrentar. Ou seja, os
seres vivos são sistemas cibernéticos, por isso são dotados de
alguns graus e tipos de inteligência.
Têm
inteligências específicas em graus diferenciados para cada uma
delas. ( As aptidões não têm todas o mesmo desenvolvimento).
Assim, podemos considerar que existem vários tipos de inteligências,
tanto
de âmbito geral, como de âmbito individual,
cada uma com os seus nove graus,.
As
máquinas artificiais
cibernéticas,
presentemente
são tão evoluídas que
já
incorporam inteligências artificiais de grau humano (grau
8 de nove graus)
Cada
tipo de inteligência está relacionado com um conjunto específico
de sensores, processadores e atuadores otimizados para um dado
conjunto de funções necessárias
para o prosseguimento de um objetivo.
Como se disse anteriormente o
raciocínio é o processamento de dados que podem ser oriundos de
memórias interna do ser, e a ação determinada por esse raciocínio
poder ser apenas a de gravar os resultados no sistema de memória
interna para uso posterior sem atuar sobre o meio exterior. Este
último tipo de inteligência é o que é englobado pelo raciocínio
abstrato e pela inteligência emocional. Os
seres que possuem processos de inteligência de uso genérico como os
processos de consciência e inteligência abstrata são chamados
de seres inteligentes como nós os humanos. A partir do momento em
que se aparece numa espécie o processo de consciência pode
desenvolver-se o relacionamento social e a transmissão de informação
entre gerações sem ser por via genética, mas através do
conhecimento e memórias partilhados coletivamente
Pensamentos
No
estádio evolutivo do final do grau 7 e em todo o grau 8 os processos
de raciocínio nos seres complexos incluem processos de representação
da ação chamados simuladores ou modelos ativos, como o pensamento (
de qualquer tipo: dedutivo, indutivo ou abdutivo e outros) e a
consciência.
Este
último processo é o que num sistema material determina o
reconhecimento da sua própria individualidade e existência
independente dos outros seres. É a este processo que se pode
atribuir a constatação de Blaise Pascal: “Penso, logo existo!”
Os
processos de pensamento contêm muitas etapas de raciocínio sobre
dados recolhidos do ambiente por meio de sensores e também sobre os
dados existentes na memória, ou ainda sobre os dados obtidos on-line
como resultado de outros raciocínios
À
capacidade de produzir pensamentos independentes uns dos outros,
mesmo que isso se processe em cadeia (stream) chamo eu a Liberdade de
Pensamento. Esta “Liberdade de Pensamento, como conceito abstrato
desdobra-se em graus de liberdade concretos, no mínimo tantos
quantos os tipos de inteligência existentes no sistema.
Se
suprimirmos os dados de um tipo de sensores ou o seu local de
armazenamento na memória, limitamos na prática a liberdade de
pensamento. Exemplo: Um cego de nascença ou uma pessoa a quem foi
retirada a memória visual, não conseguem produzir pensamentos com
cores.
De
igual modo se nos processos de consciência limitarmos os temas que
ficam retidos na memória limitamos de igual modo a Liberdade de
Pensamento.
Ainda
se na interação social desenvolvermos preconceitos, ou
seja rejeições automáticas e incondicionais de
dados ou resultados, também limitamos a liberdade de pensamento.
Em
termos de interação social os seres vivos superiores (humanidade
está incluída) desenvolvem relações de poder e organizam-nas em
hierarquias quase sempre sustentadas pelo medo.
O
medo em si e os sistemas hierárquicos de poder afetam os indivíduos
limitando-lhes a liberdade de pensamento em primeiro lugar e como tem
como objetivo final limitar a liberdade de ação (que inclui a
liberdade de expressão do pensamento). É vantajoso para quem detém
o poder, em termos de custos individuais e sociais, a limitação da
liberdade de pensamento dos
seus subordinados do que impor-se pela força e luta. Por exemplo o
rato tem medo do gato o gnu tem medo do leão e em geral as presas
fogem dos predadores, mesmo nos casos em que o podem vencer
facilmente se atuarem contra eles em conjunto organizado.
Como
se demonstrou atrás são os meios mais eficazes e mais usados na
limitação da liberdade de pensamento, mas não são os únicos
usados pelos seres vivos nas lutas entre individuos ou entre
espécies. A produção de informação falsa ( o disfarce)
que
engana os sensores dos outros é outra forma comum de limitar a
liberdade de pensamento. Por exemplo quando uma espécie de inseto
caçador assume o aspeto de um ramo seco para assim deixar que as
suas presas lhe pousem em cima sem precauções, está a
condicionar-lhes o pensamento.
A
difusão de informação falsa, truncada, ou desenquadrada por alguns
condiciona a liberdade de pensamento dos outros
quase
sempre para obter vantagens competitivas com um custo mínimo em
recursos.
Conclusão
O
pensamento e a liberdade de pensamento podem ser condicionadas!
“Quod
erat demonstrandum!” - Como
queríamos demonstrar!
Frase
atribuída a Euclides para finalizar uma demonstração matemática
muito usada por alguns professores da faculdade.
continua...