20 novembro 2013

A era da magia

Vivemos numa era extraordinária, em que a mudança na nossa envolvente, muito acelerada  para o nosso ritmo biológico, ultrapassa os limites da imaginação do comum dos mortais.
A tecnologia consegue feitos que ainda há muito pouco tempo apenas faziam parte do nosso imaginário infantil, como o "Abre-te Sésamo!" da estória de "Ali Baba e os 40 ladrões"

A terceira Lei de Clarke postula que; " Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia."

Então temos de saber o que é isso de magia, que para a maioria das pessoas se relaciona com ilusionismo. Primeiramente tem de se definir o que se deve entender por "MAGIA". Isto não é fácil, como se pode ver numa rápida pesquisa pela Internet.  Cito a título de exemplo a  definição dada na Wikipedia consultada em 20/11/2013:
"Magia (não confundir com mágica ou truque) antigamente chamada de Grande Ciência Sagrada pelos Magos, é uma forma de ocultismo que estuda os segredos da natureza e a sua relação com o homem, criando assim um conjunto de teorias e práticas que visam ao desenvolvimento integral das faculdades internas espirituais e ocultas do Homem, até que este tenha o domínio total sobre si mesmo e sobre a natureza. A magia tem características ritualísticas e cerimoniais que visam entrar em contato com os aspectos ocultos do Universo e da Divindade. A etimologia da palavra Magia, provém da Língua Persa, magus ou magi, que significa sábio. Da palavra "magi" também surgiram outras tais como "magister", "magista", "magistério", "magistral", "magno", etc. Também pode significar algo que exerce fascínio, num sentido moderno, como por exemplo quando se fala da magia do cinema."

Entendo que na definição de magia não devemos associar conceitos ligados ao ocultismo ou à religiosidade, mas apenas conceitos estabelecidos pelo conhecimento científico.

Na procura de uma definição objetiva de magia em primeiro lugar temos de lhe definir o âmbito:
 - A magia aplica-se apenas a sistemas cibernéticos, ou seja sistemas constituídos por elementos materiais ( matéria e energia) e por informação atuante (1).

Chamo aos sistemas cibernéticos: sistemas projetivos - aqueles que realizam um fim (em linguagem popular quer dizer que cumprem um objetivo ou realizem um projeto). Em contrapartida existem sistemas que não executam um desígnio e evoluem apenas obedecendo às leis do caso e da necessidade: são os sistemas objetivos . A ciência ortodoxa (o mainstream) postula que o Universo em si é um sistema objetivo. A maioria das religiões considera o Universo como um sistema projetivo, que realiza o projeto de um criador ou criadores.

Definição de ação mágica.
Uma ação mágica é uma ação que manipulando uma quantidade ínfima de energia e uma quantidade elementar de informação, faz com que o sistema alvo dessa ação modifique radicalmente o seu estado energético e ou estado organizacional internos.
Como exemplo pode-se apesentar a manipulação de um elevador: quando alguém entra no edifício e chama (tocando no sensor) oW3 elevador que está num andar superior, este desce e abre a porta quando chega  ao piso do chamador.
A quantidade de energia gasta pelo gesto de chamar é ínfima e a quantidade de informação alterada é elementar (1 bit ) pois detetar pessoa é 1 e não detetar é zero.
Contudo, apesar de lhe ser alterada uma quantidade ínfima de energia e informação, o estado energético do sistema eletromecânico do elevador teve uma mudança muitas ordens de grandeza maiores do que a energia envolvida na ação que deu origem a essa mudança.
Outro exemplo comum do dia a dia do homem ocidental é a manipulação de sistemas informáticos. Imagine-se o ligar ou desligar de um computador moderno: um só toque no botão de ligar ou desligar modifica o estado energético da máquina e modifica a sua estrutura organizacional, considerando incluídos os sistemas de processadores, controladores e memória.

Tendo em conta o que se disse anteriormente pode-se definir MAGIA como sendo:
" a ciência que estuda a relação entre o HOMEM e os sistemas naturais ou artificiais projetivos , criando um conjunto de teorias e tecnologias práticas, que visam em último fim proporcionar o controlo total do homem sobre todos os sistemas projetivos com que interaja, ou seja, o controlo sobre si mesmo, sobre os outros seres vivos e sobre a restante natureza no que ela for um sistema projetivo." 

Em relação às possibilidades atuais das ações mágicas recomendo vivamente a visualização desta conferência de Pranav Mistry: "a tecnologia do sexto sentido" dada no âmbito das conferências TED  (2)

2 - Conferencias TED
As conferencias TED (Tecnología, Entretenimento e Desenho) têm como finalidade a promoção de ideias que merecem ser difundidas (Ideas worth spreading). São organizadas anualmente pela Fundação Spalding.
 Através das conferências TED fomenta-se a difusão de ideias visionárias de pensadores, visionarios, líderes, inovadores, cientistas ou académicos que conseguiram distinguir-se no respetivo campo de saber.
Com esta difusão dá-se a possibilidade a muitas pessoas de ter acesso a ideias excelentes inteirando-se ao mesmo tempo dos grandes desafios que o mundo enfrenta. Nas conferências TED apresentam-se ideias em diversos campos de ciência tecnologia da educação da cultura do meio ambiente , etc que promovem a reflexão desafiam e motivam a uma mudança de atitude

1  - Informação atuante
Informação atuante é a informação que quando processada por organismos adequados lhes permite controlar ou definir o seu funcionamento. Em linguagem popular podemos dizer que informação atuante é uma “receita” para que “máquinas” adequadas desempenhem uma tarefa específica, como por exemplo: fabricar coisas, reproduzir-se etc.
 

20 setembro 2013

Uma visão pós marxista da teoria do valor 12


Desenvolvimento económico e crescimento ou decrescimento sustentáveis

As opções de política global ou das políticas de cada país, obrigam sempre debater a questão do desenvolvimento económico e do progresso das sociedades.
Os debates em torno dessa questão nos últimos 300 anos e em particular durante o século XX e neste início do sec. XXI preencheram e ainda ocupam um lugar central nas agendas das organizações cívicas e políticas, das universidades, da comunicação social e das redes sociais.
As instituições internacionais, os governos nacionais, as organizações patronais e as organizações dos trabalhadores, a par de movimentos sociais ativistas, procuram novos paradigmas e novas fórmulas, para fazer face aos problemas económicos, sociais e ambientais do mundo contemporâneo e aos desafios que se vislumbram para o futuro próximo.
Da globalidade dos debates, das publicações e das decisões políticas e empresariais a fórmula comum - o desenvolvimento - aparece retratado nos mais diversos ângulos:
  • Humano,
  • Económico,
  • Social,
  • Cultural,
  • Local,
  • Regional,
  • Urbano,
  • Rural,
  • …...
Contudo é apresentado maioritariamente com duas propriedades muito na moda: participativo e sustentável, que têm de fazer parte do léxico de quem quiser estar incluído no “main stream”. ( anglicismo para designar aqueles que gostam de fazer parte do rebanho)

Deve-se considerar o conceito de desenvolvimento, como um conceito em permanente reconstrução, evoluindo paralelamente às mudanças de conhecimento e tecnologia, na sociedade . Por essa razão será sempre um conceito gerador de disputas, conflitos e diferentes definições, de acordo com a diversidade das escolas de pensamento.

É considerada uma verdad apriorística indiscutível, que a sociedade humana está a mudar de forma profunda e acelerada, tornando as velhas concepções e organizações rapidamente obsoletas e inadequadas às novas condições do mundo. 
Esta aceleração na mudança já era constatada na época do Renascimento.
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança... “
- Luís Vaz de Camões, séc. XVI -

Esta mudança na sociedade traz consigo a redefinição ou a substituição de conceitos, que ainda eram válidos num passado recente.
É à luz desta mudança constatada, que se vai estudar a relação entre desenvolvimento e uma visão pós marxista da Teoria do Valor.
Procurarei relacionar o desenvolvimento com o crescimento económico e explicar a evolução provável da sociedade baseada na Teoria do Valor.

Desenvolvimento e crescimento económico

Apesar de remontar ao período clássico da economia política Sec. XVIII e Sec. XIX, o debate sobre desenvolvimento e crescimento económico, reapareceu em força no início da década de 1950, no contexto do pós II Guerra Mundial, quando era preciso recuperar da devastação económica e social provocada pelos combates nos países beligerantes e das consequências provocadas na economia global.
A constatação de que eram muito diferentes os recursos materiais, usados pelos habitantes médios das diversas nações e regiões levou à classificação dos países em:
  • atrasados – aqueles que usavam muito menos recursos do que a média dos países norte-ocidentais
  • em vias de desenvolvimento – aqueles que embora usando menos recursos do que a média dos países norte-ocidentais, estavam com desenvolvimento positivo
  • desenvolvidos - aqueles que usavam recursos dentro de valores próximos da média dos países norte-ocidentais
  • líderes de desenvolvimento - os países em que simultâneamente o uso de recursos pelo habitante médio era muito superior à média norte-ocidental, o desenvolvimento era mais elevado e o nível de industrialização era maior .
Esta classificação refletia grosso modo, o nível de bem estar social, o nível da eficiência governativa, em todas as suas vertentes e o nível de industrialização de cada país.
O objetivo dessa época era revitalizar a economia e aumentar o desenvolvimento. Para isso foi desenvolvida a ideia que defendia o crescimento económico baseado no aumento do uso dos recursos materiais, como meio de recuperar o atraso.
Foi a época áurea das políticas intervencionistas dos estados nas economias – a época da expansão do Keynesianismo no mundo ocidental do norte e da expansão do socialismo no mundo oriental do norte. Os resultados obtidos a médio e longo prazo, por comparação dos mesmos parâmetros nas duas regiões, levam a concluir que em quase todos os países o método Keynesiano deu maior desenvolvimento do que o método socialista, com iguais pontos de partida. 
Apenas em três parâmetros o método socialista se revelou mais eficaz: o pleno emprego; a diminuição das assimetrias de rendimento e a massificação do uso de recursos da educação, da arte e da cultura.
Na época que mediou entre 1950 e 1986, o modelos implícitos da chamada “sociedade moderna” (socialismo marxista e capitalismo keynesiano só poderiam ser alcançados se os países “atrasados” seguissem certas estratégias de mudança social e económica, pré-concebidas por cada uma das escolas. 
No fundo, esperava-se que os países subdesenvolvidos seguissem os modelos dos países industrializados.
“O progresso através da escala de desenvolvimento era medido, julgado e avaliado por uma nova casta de especialistas internacionais. 
Os países eram classificados de acordo com seu desempenho, como atletas numa pista, orientando a distribuição ou suspensão dos recursos das agências internacionais de financiamento e ajuda”. (Stavenhagen, 1985:12).

O aparecimento das críticas
As críticas a esse conceito de desenvolvimento e aos dois modelos seguidos começaram a surgir na década de 1970, lideradas pelas escolas pós-modernistas e apoiadas quase incondicionalmente pela onda de movimentos sociais emergentes como os ecologistas.
A constatação dos efeitos ambientais provocados pela industrialização e consumo de combustíveis “fósseis”, elevou o clamor das críticas a tal ponto que hoje alguns autores propõem que para manter a sustentabilidade da civilização, o modelo não deve ser de crescimento sustentável mas de decrescimento sustentável. Estas escolas defendem que se atingiu um nível de consumo de recursos que compromete a continuidade da civilização e põe mesmo em causa a sobrevivência da maioria das espécies vivas
O francês Serge Latouche é um desses autores que tece ferozes críticas à ideia de desenvolvimento do “main stream”, afirmando que se trata de um conceito sem significado, vazio de conteúdo e mesmo “fetiche” . Este autor usa o “slogan” do decrescimento(1), como contraponto à rigidez economicista do conceito de desenvolvimento, procurando criar (sic)“... uma proposta necessária para reabrir os espaços da criatividade bloqueados pelo totalitarismo economicista, desenvolvimentista e progressista”. (Latouche, 2004).
O radicalismo das posições de Latouche assumido nas suas críticas é consubstanciado numa proposta de uma forma de decrescimento para a sociedade, com o objetivo de ser abandonado o dogmatismo da “vertente económica” do desenvolvimento enquanto “fé e religião”.
Em minha opinião a posição radical deste autor e dos seus seguidores, não se adequa ao mundo em que vivemos e apresenta uma visão muito parcial do desenvolvimento do mesmo modo que fazem os adeptos da visão economicista que tanto critica. Além disso ignora as relações que, bem ou mal, estão estabelecidas entre as várias esferas da sociedade.
A simples constatação que o modo de produção capitalista pressupõe para a sua continuidade um crescimento económico infinito, que potencialmente provoca a exaustão a destruição de recursos naturais e concentração da riqueza em poucos elementos da sociedade, não nos deve levar à conclusão de que a salvação da civilização está no abandono completo da concepção de desenvolvimento como meta.
Qual será o significado de desenvolvimento?
Há também estudiosos que defendem que o conceito de desenvolvimento em si mesmo, carrega implicações de juízos de valor com uma carga emocional forte, para os quais ainda ninguém encontrou uma substituição adequada. Se o desenvolvimento significa mudança, evolução, crescimento e transformação social, colocam então as seguintes interrogações sobre o seu real significado:
  • desenvolvimento de onde para onde?
  • de quê para quê?
  • de pequeno a grande?
  • de atrasado a adiantado?
  • de simples a complexo?
  • de jovem a velho?
  • de estático a dinâmico?
  • de tradicional a moderno?
  • de pobre a rico?
  • de inferior a superior?”
    Stavenhagen, 1985:12.
    A argumentação mais frequente no “main stream” da economia é que o desenvolvimento só pode ser suportado e justificado pelo crescimento económico.
    “ Na verdade, a tendência para demonstrar com números os resultados do desenvolvimento é a norma no plano político, facilmente se associando desenvolvimento com crescimento económico, argumentando-se que tal seria capaz de reduzir a pobreza e as desigualdades reforçando a coesão social ...”. João Pinto 01-02-2007 http://desenvolve.blogspot.pt
O que nos mostra a Teoria do valor pós marxista sobre desenvolvimento crescimento e decrescimento sustentável?


Definições

Desenvolvimento
Taxa de variação temporal do uso de recursos:
  • materiais (energia, matéria e objetos - “hardware”)
  • não materiais ou “espirituais” (informação organizada – dados; informação atuante ou instrutiva – programas - “software”; 
  •  “serviços” - prestados por seres humanos ou outros seres deles dependentes)
Se a taxa é positiva temos crescimento ou progresso se a taxa é negativa temos decrescimento ou retrocesso e se é nula temos estagnação
Esta taxa pode ser considerada relativa à sociedade como um todo, à média por habitante ou ao habitante médio (aquele pertencente ao grupo mais numeroso de uma sociedade).
Para o âmbito do presente estudo consideramos o desenvolvimento de uma sociedade relacionado com o habitante médio.

Teoria do valor pós-marxista
Teoria exposta neste blogue que pretende explicar o funcionamento económico das sociedades, considerando o tempo de trabalho total socialmente necessário na fases de produção e distribuição do circuito económico, como o parâmetro determinante (mas não único) desse mesmo funcionamento, com uma formulação diferente da usada pela escola clássica de economia (em particular da marxista).

Continua ….

Referências

http://www.decroissance.org
http://www.decroissance.info
http://www.degrowth.net
http://decrescimentosustentavel.blogspot.pt/
http://desenvolve.blogspot.pt

LATOUCHE, S. O Sul e o ordinário etnocentrismo do desenvolvimento. Le Monde Diplomatique (Ed. Brasileira). Ano 5, n. 58, Nov., 2004. LATOUCHE, S. (2004a). Survivre au développement. De la décolonisation de l’imaginaire économique à la construction d’une société
alternative. Paris: Mille et Une Nuits.
STAVENHAGEN, R. (1985).
Etnodesenvolvimento: uma dimensão ignorada no pensamento desenvolvimentista. Anuário Antropológico, No 84, p. 11-44.

Nota (1)
Para Latouche decrescimento não chega a ser considerado um conceito no sentido tradicional do termo pelo que não é caso considerar-se a existência de uma “teoria do decrescimento”. Segundo ele, decrescimento é simplesmente um slogan lançado por aqueles que procedem a uma crítica radical do desenvolvimento. Para um aprofundamento da questão ver Latouche (2004a).

Uma visão pós marxista da teoria do valor 11


Os problemas fundamentais da economia

Os problemas fundamentais da economia atual enquanto ciência ou pelo menos conhecimento organizado, são explicar o funcionamento da sociedade mercantil de modo de produção capitalista 1 e dar orientações de atuação , (já que esta ciência não permite dar tecnologia):
1 – Sobre o funcionamento da sociedade humana atual em termos de “economia” , ou seja:
  • Os circuitos da circulação de bens e serviços desde a produção até à distribuição e consumo.
  • O conceito de valor e os mecanismos da sua criação e acumulação no tempo ao longo dos circuitos de circulação dos bens e serviços.
  • Os mecanismos de formação dos preços das mercadorias ao longo do circuito de circulação dos bens e serviços.
  • O dinheiro na economia e na sociedade
2 – Sobre a concentração do poder económico
3 – Sobre a repartição do rendimento e a formação dos salários
4 – Sobre as perturbações da atividade económica como a crise e a inflação
5 – Sobre o desenvolvimento económico e riqueza das nações
6 -:E ainda fazer previsões ou extrapolações para outros tipos de modo de produção possíveis em cenários futuros, sem deixar de explicar razoavelmente o passado.

Muito se escreveu sobre este tema nos últimos 2500 anos. Das dissertações dos estudiosos dos últimos duzentos anos nasceram vários ISMOS que ao longo dos tempos tentaram impor à sociedade uma organização baseada nas suas crenças, que foram quase sempre de caráter messiânico e pouco científico, por muito que os seus mentores e seguidores tivessem apregoado o contrário.
As escolas de pensamento económico sucederam-se , e depois de 1969 os prémios em memória de Alfred Nobel da economia foram todos os anos atribuídos, sem que os economistas, titulares do conhecimento acumulado neste campo, tenham conseguido responder aos cinco problemas enumerados, de modo ajustado a cada época.
E, muito menos lançar sequer a primeira pedra, para estender os conceitos para outros modos de produção ou organização económica da sociedade, teoricamente possíveis.
Em particular as perturbações da atividade económica como a inflação e a crise continuam a criar dramas sociais e a causar debates acesos entre os economistas e entre governantes e governados, sem que se vislumbre uma solução técnica para tais “avarias” da economia.
A emergência climática, e o esgotamentos de recursos, e os desastres causados pelos fenómenos extremos, levanta a premente necessidade, de um novo modelo de organização socioeconómica, com novos objetivos, sob pena sofrermos a 6ª extinção em massa planetária, que garantidamente será também a extinção da espécie humana.
Só que os economistas atuais não conseguem dar respostas

Pergunto então, para que servem os economistas?

Nos capítulos seguintes deste ensaio procurarei dar a minha resposta fora do pensamento das correntes dominantes entre os economistas (as do “main stream atual” e as “outsiders” atuais, candidatas a entrar na corrente principal, recolhendo todo o saber que se mostre útil independentemente da “escola” de onde vier.

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  O modo de produção capitalista
Uma sociedade com modo de produção capitalista, carateriza-se principalmente por três  propriedades básicas:
  • Economia de mercado – a produção é diferente do consumo, podendo ser igual, maior, ou menor do que este, num dado intervalo de tempo. A quantidade produzida e consumida nesse intervalo de tempo não é determinada por planeamento, mas por um sistema generalizado de leilões entre produtores e consumidores (oferta e procura) – o mercado.
  • Acumulação capitalista - os recursos de capital, representando trabalho indireto - Ti, intervenientes no processo de produção crescem no tempo aumentando proporcionalmente à média do fator de escassez ou coeficiente de oferta e procura - Op,  e da produtividade (TD+Ti)/TD no intervalo considerado, multiplicada pelo número de ciclos produção - consumo no mesmo intervalo.
  • Propriedade privada particular ou estatal do capital.
O crescimento do capital consegue fazer-se porque na sociedade com esse modo de produção existe uma capacidade produtiva global superior à capacidade global de consumo, porque este é limitado pelo poder econômico dos consumidores.
Se considerarmos  a seguinte fórmula como uma aproximação razoável para o cálculo da formação  dos preços : 
Caq (custo de aquisição)= (Td +bTi)/Td , Op+Fm+L+Ra
em que: Td é o trabalho direto; Ti é o trabalho indireto; Op é o fator de escassez, dependente da oferta e procura e Fm é o fator de monopólio; L - é o lucro da cadeia de produção e distribuição; Ra- é a comparticipação nos custos da Reconstrução ambiental ou apagamento da pégada ecológica. Sobre esta fórmula ver : http://penanet.blogspot.pt/2011/10/reposicao-das-condicoes-iniciais-e.html
 
Esse crescimento faz-se por três vias:
  • Apropriação do valor acrescentado  + Lucro gerado mercantilmente, por uma classe (a dos detentores do capital), que não o gasta todo com o seu consumo, disponibilizando o excedente material em bens e serviços, como trabalho indireto - Ti do ciclo seguinte (investimento)
  • Inserção no processo de produção, das conquistas tecnológicas que incorporam  mais trabalho indireto - Ti sob a forma de máquinas com mais automatismo e informação instrutiva – (aquela informação que devidamente processada por um sistema permite fazer coisas ou prestar serviços.)  Ou seja , pelo aumento da produtividade.
  • Utilizando numa fase do processo produtivo, créditos sob a forma de símbolos de valor (papel moeda ou outros) , gerados numa fase anterior do mesmo processo produtivo ou numa fase atual ou anterior de outro processo produtivo. (investimento)
O crescimento atrás relatado, significa no fundo, a incorporação de mais trabalho indireto – Ti, no processo produtivo quer seja por aumento da produtividade, quer seja por investimento .

11 julho 2013

Uma visao pós marxista da teoria do valor 10


A função social do lucro: a função do predador empreendedor.

Segundo a sabedoria popular

“Três coisas quer o amo, do escravo que o serve:
  • Comer pouco
  • Trabalhar muito
  • Ter sempre a cara alegre “
Apesar de esta ideia ter sido gerada em ambiente de produção não capitalista, tempo da escravatura ou tempo de feudalismo, parece ser muito cara a uma grande proporção da classe capitalista atual.
Esta falta de humanidade da classe capitalista (detentora do capital ) para com as classes trabalhadoras (detentoras da força de trabalho, que  a cedem ao capitalista pelo tempo contratualizado),  levou Marx e a escola económica marxista a propor que o novo Messias para salvar o mundo seria a classe operária, que a sua Bíblia o Manifesto do Partido Comunista, a doutrina pregada seria o Socialismo e que o céu seria o Comunismo

Tudo isto derivado das considerações que escreveu principalmente na sua obra “O Capital”. E assim nasceu mais um ISMO de tipo religioso, justificado pelas crenças na validade do determinismo da História (crença essa, baseada na fé e não na evidência experimental).

O problema é que a evolução da vida e dos seus organismos e organizações, não é de modo nenhum determinística e, muito menos, obedece ao simplismo da Lógica  Dialética de Hegel. É antes probabilística, isto é, baseada em leis de acaso e de necessidade, leis de conservação e leis de evolução ou mudança que integram algum grau de aleatoriedade ou incerteza e, por isso, exigem que estes organismos tenham capacidade capacidade de adaptação às rincões das condições externas ou internas, afetadas pela citada alratoriedade, sob pena de se desintegrarem.
A sociedade humana é um sistema complexo teleonómico. Ou seja, é um sistema que persegue objetivos (sendo os principais a considerar neste estudo a homeostase - "equilibrio" e o crescimento).
A teoria que ,atualmente, descreve melhor as atividades sociais humanas, incluindo a atividade económica é a Teoria Geral dos Sistemas Complexos.
 O resultado do erro do marxismo  de basear as conclusões em premissas e lógica inadequadas, foi o que se viu, nos países que se reclamavam de socialistas e, por contrapartida, também, atualmente, nos países chamados de capitalistas que tentaram aplicar soluções suavizadas da doutrina marxista.

A evolução coletiva dos organismos vivos, e das suas organizações é um processo de acumulação de informação atuante 1, ( ou instruções) crescente com o tempo, que nas organizações, se processa segundo as regras da seleção natural, primeiramente descritas na 5ª teoria de Darwin – a teoria da seleção natural, para as espécies vivas.
 Atualmente aprofundou-se o estudo dos mecanismos de seleção natural, entendida agora, como capacidade de auto-organizaçao dos sistemas materiais, estendendo-a outros campos, além dos organismos vivos e das sociedades. 
Descobriu-se que a lei geral que afeta todos os seres do universo é a lei da seleção por aptidão para a função que governa toda as formas de auto organização da matéria.
E, desde que um sistema material: 
- seja complexo; 
- possua teleonomia;
- seja capaz de usar as duas vias de controlo dos seus efeitos (feedback ou realimentação e feedforward alimentação previsional ou preventiva); 
- tenha incluída a função de memória, em pelo menos uma, (ou nas duas) vias, tem a capacidade de aprender com a experiência .
No feedback o sistema combina as entradas externas com uma entrada interna resultante da comparação da saída obtida com uma de referência, ou seja, o sinal de erro.
No feedforward o sistema ajusta  alguns dos seus  parâmetros internos como por exemplo a sensibilidade à entrada ou entradas em funçao do valor dessa mesma entrada ou entradas, ou altera o modo como combina as entradas em função do valor dessas mesmas entradas.
Esta capacidade memorização da melhor sequência ou aprender com a experiência, confere-lhe uma vantagem sobre os  competidores, economizando tempo necessário para atingir o destino desejado, porque lhe permite saltar etapas de experimentação ( experiência dos outros ou de tempo de trabalho anterior é de graça, na atualidade) .
Essa vantagem pode ser quantificada pelo racio (tempo atual +tempo memorizado) / tempo atual.
Chamamos a essa vantagem produtividade. 
Pode-se afirmar que a capacidade de aprender, aumenta a produtividade  de um sistema. material, de um ser vivo individual ou de uma organização social.
Contudo, a forma mais frequente que os seres vivos têm de conseguir utilizar o tempo dos outros, não é aprender com eles ou utilizar os ensinamentos alheios, É sim, apropriar-sr-se do produto do trabalho dos outros: seja pela força (roubo); seja pela astúcia (furto); ou ainda,  por apropriação regular,  com regras livremente contratualizadas - negócio; ou regras impostas socialmente- exploração.
O negócio pode ser feito entre seres equipotentes ou que tenham indêntica necessidade um do outro para a sua sobrevivência e nesse caso denomina-se Cooperação ou Simbiose; ou então pode ser feito entre seres em que um tem mais necessidade do que o outro (ou menos força negocial) e aceita dispender mais tempo a satisfazer a necessidade do outro do que o que utilizado  para ver satisfeita a sua parte. A essa diferença chamamos Lucro, que os ideólogos do liberalismo clássico ou do neoliberalismo atual consideram que o lucro é a remuneração provisional para assumção do risco do capitalista no investimento. 

Marx chamou mais valia ao "Lucro" obtido pelo capitalista no processo de pagamento do trabalho operário. 
Além disso considerou imoral  e socialmente desnecessária, a sua apropriação pelo capitalista.
A apropriação da mais valia e por conseguinte do lucro pela classe capitalista foi considerada pelas escolas marxistas do sec IXX e XX, como pecado original do modo de produção capitalista. Mais tarde, no último terço da duração do socialismo, imposto pelos Partidos Comunistas, nos países da esfera da URSS, a escola dominante já admitia a existência do lucro, desde que apropriado pelo estado, Porém, era considerado um mal, a ser expurgado, num futuro sistema comunista.
À luz da visão pós-marxista da teoria do valor, o lucro não será analisado em função de condições morais estabelecidas “a priori”, mas será devidamente enquadrado no funcionamento económico da sociedade.

Como já demonstrei noutros artigos, o lucro é diretamente derivado da escassez. Ou seja, da relação entre a oferta e a procura. o fatorOp (Lei da Oferta Procura), A mais valia ou (a menos valia) que aparece obrigatoriamente nas transações ou vendas, numa economia do tipo mercantil, (economia em que a satisfação das necessidades de consumo, se realiza em leilão ou barganha, no mercdo), em que a produção pode ser inferior igual ou superior à procura. 
Também se viu que o valor de transação das mercadorias (bens e serviços) inclui várias pacelas tendo sido proposta como fórmula geral do custo ou preço de aquisição

Caq=(Td+Ti)*Op/Td+Fm+Ra+ L

em que :

  • Td – é o tempo de trabalho direto
  • Ti – é o tempo de trabalho indireto ( pasado ou não remunerado)
  • Op – é o fator de escassez ou relação entre a oferta e a procura pela Lei da Oferta e da Procura
  • Fm – é o fator de monopólio 
  • Também se demonstrou que Fm é a medida da ineficiência e desperdício de tempo e recursos, que aparece em condições de monopólio , por falta de competição, de incentivo à inovação e pela lei do menor esforço na resistência à mudança. 
  • Em monopólio, especialmente nos de longa duração, as pessoas e as organizações tendem a tornar-se reacionárias com uma intensidade diretamente proporcional à duração da situação de onopolio
  • Ra - é o custo da reconstrução ambiental, ou compensação da pegada ambiental pela produção e consumo dos bens e serviços transacionados, que os economistas clássicos e muitos dos atuais empurram para dívida de suporte social, a ser paga pela futuras geraçoes.
  • - L  é o lucro, que é diferença entre oo preço de custo e o preço de venda em mercado.

Mais Valia ou Lucro

E o fator Op será também como dizem os marxistas um desperdício ou um roubo, que os detentores do capital fazem aos produtores diretos, que são obrigados, por um contrato social injusto, a vender a sua força de trabalho, a um valor inferior ao real? 
Servirá apenas para alimentar os “inúteis” dos capitalistas, incluindo todo o seu estado de classe?

A resposta a estas perguntas permitir-nos-á compreender os erros das escolas clássicas: marxistas e liberais e realinhar o estudo da economia com o método científico. 
Deste modo a nova visão da teoria do valor poderá interpretar e prever o funcionamento da economia na sociedade real.

O modo de produção capitalista

Uma sociedade com modo de produção capitalista, carateriza-se por duas propriedades básicas comuns e uma terceira diferente conforme os detentores do capital são particulares vulgarmente chamados "privados", ou são órgãos do estado, vulgarmente chamadas "públicos".
Propriedades comuns:
1- Economia de mercado – a produção é diferente do consumo, podendo ser igual, maior, ou menor do que este, num dado intervalo de tempo. A quantidade produzida e consumida nesse intervalo de tempo não é determinada por planeamento, mas por um sistema generalizado de leilões entre produtores e consumidores (oferta e procura) – o mercado.
2- Acumulação capitalista - os recursos de capital, representando trabalho indireto Ti, intervenientes no processo de produção, crescem no tempo aumentando proporcionalmente à média de Op, no intervalo considerado, multiplicada pelo número de ciclos de produção - consumo no mesmo intervalo. 
3 - Propiedade do capital, com três opções: 
a)- Capital acionista detido e gerido na totalidade por particulares.
b) - Capital acionista, detido e gerido, na totalidade por órgãos do estado.
c) - Capital misto detido e gerido por conjuntamente por particulares e órgãos do estado
4 - Abertura do capital
a) capital fechado ou privado (sociedade por quotas nominais)
b) capital aberto negociável em mercado ou capital público. 
(sociedade anónima ou sociedade por acções)
Há ainda  possiblidade teórica de outros tipos de propriedade e/ou gestão do capital que não têm expressão numérica ou económica de relevo no modo de produção  capitalista atual.

O crescimento do capital consegue fazer-se porque na sociedade com esse modo de produção existe uma capacidade produtiva global superior à capacidade global de consumo, por este ser limitado, não pela vontade individual dos seres humanos, mas pelas regras do funcionamento social, baseado no modo de troca em mercado através de um símbolo de equivalencia (token) entre mercadorias : - o dinheiro e, ainda, na propriedade privada do capital.

Esse crescimento faz-se por três vias:
  • Apropriação da mais valia ( Op) gerada mercantilmente, por uma classe (a dos detentores do capital), que não a gasta toda com o seu consumo, disponibilizando o excedente material em bens e serviços, como trabalho indireto - Ti do ciclo seguinte (investimento)
  • Inserção no processo de produção, das conquistas tecnológicas que incorporam Ti sob a forma de máquinas com mais automatismo.
  • Utilizando numa fase do processo produtivo, créditos sob a forma de símbolos de valor (papel moeda ou outros) , gerados numa fase anterior do mesmo processo produtivo ou numa fase atual ou anterior de outro processo produtivo. (investimento)
O crescimento atrás relatado, significa no fundo, a incorporação de mais trabalho indireto – Ti, no processo produtivo quer seja por aumento da produtividade, quer seja por investimento .

Como cresce a quantidade de bens e serviços produzidos numa sociedade

A quantidade de bens e serviços produzida por uma dada sociedade, quando expressa em símbolos de valor – papel moeda, costuma designar-se por Produto Interno Bruto. Quando subtraida dos gastos de depreciação do capital e dos impostos indiretos  (ficando portanto a parte restante praticamente igual aos salários) e  depois dividida pelo número de elementos da sociedade designa-se habitualmente por rendimento per capita.

O PIB está dependente da demografia e da produtividade, enquanto o rendimento per capita está dependente da produtividade e da taxa de partilha de rendimentos entre detentores do capital e detentores da força de trabalho. Quanto mais pessoas existirem e mais produtivas forem, maior é o PIB de uma sociedade.

Em termos de teoria do valor, o PIB cresce proporcionalmente ao Tempo de Trabalho Direto (Td) e ao Tempo de Trabalho indireto ( Ti ), no qual Td está claramente relacionado com a quantidade de produtores ativos, ou seja com a população e Ti está fortemente dependente do desenvolvimento cientifico-técnico, ou seja taxa de automatização (utilização e controlo automáticos dos recursos energia, de informação e de materiais).

A riqueza de uma sociedade

Se o valor comercial ou de transação tem parcelas que na fórmula são consideradas independentes, aumentando os fatores Op e Fm isso não faria aumentar o PIB ou o rendimento per capita ? 
Poderemos considerar uma sociedade mais rica quando tem maior rendimento per capita ou maior PIB?
A resposta a estas perguntas obriga-nos a definir de forma precisa o conceito de riqueza.

Para o âmbito deste estudo considera-se como riqueza, a disponibilidade de bens e serviços para consumo direto dos elementos dessa sociedade ou seja para consumo social interno.

Assim, o fator de Lucro (Op) (Mais Valia comercial), representa um valor disponível para consumo social, portanto faz parte da riqueza, enquanto o Fator de Monopólio Fm representa um valor interno do processo produtivo (um consumo estrutural) ou seja um custo que não está disponível para consumo social, não sendo portanto considerado um elemento da riqueza, mas sim o seu contrário: um fator de empobrecimento, pois retira parte dos recursos à sociedade, para garantir a sobrevivência dos monopólios.

O consumo

Numa sociedade o consumo de recursos tem quatro vertentes :
  • consumo para satisfação das necessidades individuais dos elementos da sociedade
  • consumo para satisfação das necessidades coletivas dos elementos da sociedade
  • consumo para satisfação das necessidades estruturais dessa sociedade
  • consumo para iniciar um novo ciclo produtivo (também chamado de investimento)

Como se disse anteriormente é a capacidade de consumo que mede a riqueza de uma sociedade. Sendo as disponibilidades de consumo, recursos limitados, facilmente se pode concluir que um aumento de qualquer um dos consumos faz com que haja menos recursos para os outros.

A função do predador

Todos os seres vivos e as respetivas organizações, baseiam a sua existência, na capacidade que possuem de utilizar em benefício próprio, em detrimento dos outros, os recursos escassos, em matéria, energia e informação, disponíveis no ambiente em que vivem. Isto significa que todos os seres vivos são predadores, seja de recursos inanimados seja de outros seres vivos.

Muitos autores de estudos sobre os blocos da informação atuante, (instruções ) constituintes dos seres vivos – os genes – atribuem já a estes blocos elementares, as propriedades predadoras. 
Na natureza, mesmo na inanimada, existe um princípio de teleonomia ( prossecução de um objetivo) que condiciona a evolução , através de um mérodo, designado por seleção por "aptidão para função "
Esta noção está muito bem ilustrada por exemplo em “O gene egoísta” de Richard Dawkins .

Os homens são predadores de topo de cadeia, super - predadores , ou seja já não tendo predadores naturais externos, só podem ter como predadores os indivíduos da mesma espécie.

A nossa espécie encontra-se organizada em sociedade para maximizar o uso dos recursos escassos disponíveis.
O ser humano ( e os outros seres vivos também ) são resultantes da genética (instruções internas ou tecnologia interna) e da epigenética( tecnologia social.)

 Os recursos necessários à sobrevivência individual do ser humano e à sua reprodução (sobrevivência da espécie) são constituídos por elementos naturais (animados e inanimados), pela capacidade de trabalho da população ativa (apta para o trabalho), pela tecnologia (informação instrutiva coletiva) e pela sabedoria e aptidões individuais ( informação instrutiva individual )

Sem este refinamento ao máximo da função de predador, que nos permite apropriação individual de recursos de expressão também coletiva, não poderíamos ter sobrevivido como a espécie social que somos.

A esse uso de recursos pelas sociedades humanas e pelos seus membros, chamamos nós atividade económica e economia à ciencia que a estuda
Como todo o uso de recursos implica gasto de tempo - o único recurso disponível em igual valor para todos os seres do nosso universo – muito cedo no desenvolvimento da vida social humana, começou a apropriação do tempo de uns pelos outros, porque como espécie somos superpredadores. Isto foi o gérmen da diferenciação da sociedade em classes2.

Em economia, o predador de recursos pode gastar em proveito exclusivo, todo o roubo que faz às suas presas: matando-as, modo de sobrevivência.
 Também pode deixá-las vivas e com recursos necessários para continuar a ter disponível o mesmo Td e gastar apenas uma parte do roubo, disponibilizando o restante para iniciar um novo ciclo produtivo como investimento Ti.
Ao completar-se este novo ciclo o valor global dos bens e serviços (mercadorias) é superior ao inicial por incorporação de mais Td e Ti.

E o que é que ganha o predador ao agir do segundo modo (modo de investimento), se atuando de acordo com o primeiro modo seria suficiente para garantir a sua sobrevivência individual?

O que leva os predadores humanos a agir no modo de investimento 3 é apenas uma capacidade social adquirida ao longo da sua evolução histórica, em tudo similar ao crescimento individual dos predadores que se verifica noutras espécies. Só que ser grande na espécie humana não se mede apenas pelo tamanho do físico ou pelo tamanho do cérebro (que permite controlar melhor recursos inanimados e animados de outras espécies) mas mede-se principalmente pela capacidade de controlar recursos Td e Ti provenientes de outros seres humanos. 
É esta a razão do aparecimento do modo de produção capitalista e dentro deste modo, é esta a razão justificativa da concentração e centralização do capital constatada (descoberta) por V.I. Ulianov (Lenine)


Contudo existe um fator limitador para o crescimento que na fórmula do valor se apresenta como Fator de Monopólio – Fm.


Sendo este um fator Fm crescente com o tamanho, há um tamanho a partir do qual “fica mais caro” ser maior, caso contrário, ao fim de um previsível número de ciclos de produção-consumo suficientemente longo, só existiria um agente económico: a empresa universal sobrevivente única da concorrência e todos os seres humanos seriam seus funcionários.

Não seriam necessários estados nem nações e todos os homens poderiam viver segundo a regra de “a cada um segundo as suas necessidades” e “de cada um segundo as suas possibilidades” ou seja, em PERFEITO COMUNISMO, garantido pela política interna da empresa e pela sua necessidade fazer crescer o seu capital.
Para aqueles que seguiam ou seguem a “bíblia Marxista” isto seria a prova da ressurreição do ideal do COMUNISMO e para os liberais fundamentalistas seria a materialização da sua fé, de que o LIBERALISMO CONCORRENCIAL é o único sistema capaz de satisfazer as necessidades humanas.

O problema é que a realidade é bem mais rica do que as utopias e, para a vida, os caminhos nunca acabam. 
A cada momento, vida apresenta-nos soluções novas, imprevisíveis por aquilo que se conhecia e que fazendo parte da realidade que procuramos descrever e interpretar, permitem que haja acumulação de conhecimento e a tecnologia avance sempre. 
Ao constatarmos a quarta revolução da igualdade, coincidente com a 4ª revolução industrial, podemos afirmar que nesta revolução a sociedade necessita de um novo tipo de funcionamento económico e de um novo tipo de governação.


Conclusão

Em modo de produção capitalista com as propriedades com que foi definido anteriormente, o capitalista individual (o predador ) e a sua classe ( o predador coletivo) são elementos necessários ao funcionamento económico coerente e à sobrevivência da sociedade humana.

Sem eles seria impossível evitar o sobre consumo dos indivíduos ou a sub-ocupação do seu tempo disponível e a evolução da sociedade estagnaria ou mesmo regrediria, por falta de mecanismos de acumulação de Ti.

1 - Informação atuante é a informação que quando processada por organismos adequados lhes permite controlar ou definir o seu funcionamento. Em linguagem popular podemos dizer que informação atuante ou instrituva é uma “receita” para que “máquinas” adequadas desempenhem uma tarefa específica, como por exemplo: fabricar coisas, reproduzir-se etc.
2Existem outras espécies de seres vivos sociais, como por exemplo: as abelhas, em que a diferenciação em classes, parece não implicar uma razão de predador - presa, mas um especialização funcional, recebendo da cada individuo de cada classe, o necessário e suficiente para a sua função individual, para a sua sobrevivência e para a sobrevivência da espécie.
3Embora a maioria das espécies predadoras não atue em modo de investimento, há espécies de insetos como as formigas, que também pastoreiam e cultivam ou seja, agem no modo de investimento.

Uma visão pós marxista da teoria do valor 9


Economia planificada versus economia de mercado. 


O modo de produção nos países governados por partidos comunistas era o modo de produção capitalista ou era um modo de produção absolutamente novo que poderemos designar por socialista ou comunista?



Os seguidores da escola marxista advogam que a economia: a produção e o consumo de bens e serviços, deveria ser rigorosamente planificada. Baseados neste princípio tentaram implementar formas de governação da sociedade a todos os níveis, destinadas a prosseguir este fim.

Nos países em que os partidos comunistas ascenderam ao poder, cedo se constatou que era tecnicamente impossível adaptar a produção às necessidades de consumo, por insuficiência da produção. Isto impedia a planificação global. Então procuraram planificar a produção tentando maximiza-la com os recursos disponíveis. A solução que foi encontrada para maximizar a produção foi a chamada economia de escala: poucos produtores (ou mesmo um só ) de grande dimensão atuando em regime de monopólio. Esses poucos produtores foram em geral geridos diretamente pelo estado.

Como uma das funções do estado socialista era garantir que toda a força de trabalho da população ativa era empregue na produção de bens e serviços, nas duas primeiras décadas dos regimes governados pelos partidos comunistas, houve uma clara melhoria das condições materiais e espirituais (cultura e educação) dessas sociedades pela ausência de desemprego. Houve pois enriquecimento e disponibilidade dos bens e serviços básicos.

Em termos da teoria do valor significa que se fez crescer Td ( trabalho direto). Como em simultâneo a tecnologia evoluía no mundo inteiro, pelas necessidades de produção em muito larga escala, Ti (trabalho indireto) foi aumentando por introdução de novos métodos fabris de produção e por incorporação de conhecimentos tecnico-científicos produzidos interna ou externamente.

Deste modo a aplicação quase integral da força de trabalho ativa e o aumento da produtividade suportaram o enriquecimento desses países.

Isto até parecia uma visão do paraíso material e até mesmo espiritual, pois a disponibilidade da educação para todos, em especial da educação secundária, foi um grande salto para uma população acabada de sair de uma organização medieval onde a educação era um privilégio da classe alta.

A economia desses países manteve sempre uma forte componente mercantil como forma de adaptar o consumo à produção quer dos bens quer dos serviços e mesmo nesses países continuou em circulação o dinheiro (papel moeda).

O planeamento, que se aplicou apenas à produção, ficou restrito às atividades económicas com todo o ciclo controlado diretamente pelo estado. O planeamento do consumo e o planeamento das atividades económicas da economia de mercado, nunca chegou a ser feito por falta de instrumentos técnicos e mesmo de estudos teóricos.

Para sabermos que tipo de modo de produção existiu nesses países teremos obter a resposta para algumas questoes:

  • Como era feita a acumulação de valor na sociedade, em caso de excedente de produção
  • Qual era o papel do dinheiro e das instituições financeiras.
  • Se o dinheiro poderia ser acumulado por particulares e se os particulares poderiam reinvestir os seus excedente de qualquer modo ou se tinham obrigatoriamente de os consumir
  • Se o valor de aquisição dos bens e serviços transacionados em mercado podia ser descrito pela fórmula geral do valor, tendo relevância as parcelas L, Op e Fm (lucro, fator de escassez  e fator de monopólio)
  • Se os preços de venda demonstravam tendência para decrescer com a evolução tecnológica ou se pelo contrário havia inflação visível.

Segundo a informação disponível divulgada pelos próprios regimes (para este fim fonte fidedigna) :

    - fora dos períodos de guerra em que o consumo era racionado, os cidadãos para adquirirem bens e serviços precisavam de pagá-los com dinheiro, quer fossem estes bens e serviços produzidos por entidades particulares individuais ou cooperativas ou fossem produzidos por monopólios estatais.
  • Nas atividades económicas geridas por privados a acumulação de valor fazia-se pelo modo já descrito para o modo de produção capitalista, ou seja por cada ciclo Capital seguinte = Capital anterior + Valor acrescentado incorporado.
  • Nas atividades económicas geridas pelo estado,bé mais difícil identificar o método pois os produtores (empresas estatais) só muito tardiamente (depois do fim da segunda guerra mundial), começaram a ter de apresentar justificação de funcionamento, para além do cumprimento do plano de produção.
  • No período anterior o estado fornecia todos os recursos em materiais e mão de obra necessários para garantir o plano de produção. Assim, durante muito, tempo esses regimes afirmavam que sendo o setor estatal maioritário e determinante na economia e não sendo os bens e serviços disponibilizados em regime mercantil puro, não existia o lucro. Contudo em termos teóricos, os marxistas, nunca conseguiram justificar cabalmente se o estado pagava o justo pelo Td (trabalho direto) dos produtores e caso se admitisse que pagava menos, se essa diferença poderia ser ou não considerada como lucro.
  • Durante o último terço de vigência dos regimes socialistas, parece consensual entre todos as escolas económicas que a economia funcionava em modo mercantil, que existia lucro e que esse lucro era apropriado pelo estado. Nos raros empreendimentos não estatais o lucro era de apropriação privada, portanto o modelo económico de então, pode ser classificado como capitalismo de estado.
  • O dinheiro existiu sempre em circulação durante toda a vigência dos regimes socialistas. 
  • Podia ser detido por particulares que o poderiam guardar por si ou depositar em bancos (que eram todos estatais) usufruindo de juro pelo menos na fase tardia dos regimes .
  • O dinheiro também poderia ser usado para investimento além de ser usado para adquirir bens e serviços para uso particular.
  • A maioria das atividades económicas não estava acessível ( por razões de licenciamento) para investimento particular, mas naquelas que estavam, os particulares podiam investir o seu dinheiro, sem se sujeitar a planos de produção, vender os seus produtos em regime mercantil e apropriar-se do lucro, pagando impostos ao estado.
Falta agora determinar se existia inflação. 
Ou seja, falta saber se o valor do dinheiro, ou a paridade de preços de venda de bens e serviços variou ao longo do tempo, mas isso dá tema para um artigo independente.


25 junho 2013

Uma visão pós - Marxista da Teoria do Valor 8


A inflação explicada à luz da teoria do valor pós-marxista:

Constatação: Verifica-se que em determinadas circunstâncias os governantes têm necessidade de aumentar a quantidade de símbolos do valor (ou dinheiro) circulante para manter a economia de mercado a funcionar, isto é: fazem emissão de moeda. 
Isto tem como como consequência uma alteração de paridade entre os preços das mercadorias com tendência para as mercadorias importadas verem o seu preço aumentado (inflacionado) apenas por essa razão (sem haver a montante alterações nos custos ou nos lucros).

O erro da economia política clássica incluindo a da escola marxista
E porque é que há necessidade de aumentar a quantidade de moeda circulante? A procura da resposta leva-nos a rever a razão da existência do dinheiro, por muitos considerado um tipo especial de mercadoria, inicialmente baseado na crença do valor intrínseco e absoluto dos metais preciosos como o ouro. Karl Marx também comprou essa ideia do dinheiro como uma mercadoria especial, usada como padrão de troca. Em meu entender isso afastou-o do cerne da sua ideia inicial sobre o valor das coisas que considerava o tempo socialmente necessário para a produção como a base da formação do valor e dos preços dos bens e serviços.
Por causa deste erro os economistas ficaram sem ferramentas para explicar dois factos constatados atualmente : pode haver mercadorias com preço de aquisição diferente de zero cujo valor incorporado é nulo e pode haver mercadorias de grande valor incorporado como por exemplo: o alojamento e o software devsuporte a este blog que são transacionadas a custo zero (a Google disponibiliza-os em versão grátis), mas ainda geram lucros para o fornecedor sem gerarem despesas imediatas para o comprador ou recetor.( Neste caso o autor e os leitores)

O dinheiro
O desenvolvimento da sociedade durante último quarto do sec XX e agora no início do sec XXI levou o dinheiro para o seu papel verdadeiro ou seja para o papel de símbolo. Atualmente, o dinheiro como símbolo de troca de titularidade da posse de  mercadorias (bens e serviços) por um título de crédito, já não precisa de existir fisicamente (não são necessárias notas ou moedas nem sequer equivalência em ouro) basta que exista um número registado num registo contabilístico ( uma conta corrente bancária, empresarial ou nacional).
Mas o que é mesmo esse símbolo: o dinheiro? O papel-moeda tem em si algum valor? 
Será que poderíamos queimar todas as notas e derreter todas as moedas sem afetar o funcionamento da economia?
A resposta a esta questão foi dada de forma brilhante por Lazarus Long, um personagem criado pelo escritor Robert A. Heinlein no livro : “Time enough for love” (“Amor sem limites”, em versão portuguesa). No bloco notas onde anotava os seus pensamentos e apontamentos da sua vida, Lazarus Long comentava que:" o dinheiro só tem valor quando está fora do banco emissor e uma vez retornado para o seu interior pode ser queimado que não afeta nada nem ninguém!"
O dinheiro não é o valor. É no máximo um símbolo do valor, mas apenas quando está em circulação fora do banco emissor! O papel moeda representa apenas um certificado de crédito, que faz o saldo de uma dívida, derivada um crédito obtido como emprestimo do banco emissor. Nada mais! 

Então aquilo a que devemos prestar atenção concetualmente e matematicamente é ao crédito e o seu relacionamento com o valor económico e o tempo.
Se o valor está no tempo aplicado em trabalho pelas pessoas e se à medida que a civilização se desenvolve as pessoas aplicam cada vez menos do seu tempo para obterem o necessário para viver condignamente, então pergunta-se como é que isso é possível?
As pessoas evoluíram fisicamente e tornaram-se super trabalhadores ? 
As pessoas aprenderam a organizar melhor o seu tempo e com isso tiveram ganhos de eficiência? 
Ou há outras razões?

Bem, segundo a ciência antropológica, pelo menos nos últimos 20000 anos da humanidade, não houve nenhuma evolução física relevante. O nosso corpo pura e simplesmente não evoluiu, portanto não é esta a razão. 
É um facto que as pessoas com a civilização conseguem organizar melhor o seu tempo, mas isso apenas pode explicar diferenciais locais entre pessoas que vivem na mesma janela temporal. 
E como explicar que as capacidades médias de produção por pessoa sejam milhares de vezes maiores do que há 20 000 anos ou que a produtividade de um rural africano seja centenas de vezes menor do que um rural americano a tratar do mesmo tipo de culturas?
A maioria das pessoas instruídas atuais responderia que a diferença está nos instrumentos usados na produção em si ou na preparação dos fatores de produção, em especial nas máquinas e nos automatismos usados. 
Sim, aqui é que está a verdade!
E o que significa isso em termos da teoria do valor ?
 As máquinas e automatismos significam incorporação de trabalho indireto no processo produtivo. Portanto mais automatismo significa que o rácio (Ti+Td)/Td (tempo de trabalho humano total (direto+indireto )/(trabalho humano direto) a produtividade é muito maior atualmente e muito maior nos USA do que em África.

Trabalho e capital no modo de produção capitalista
Ora é este rácio que nos mede a produtividade e que também mede o capital acumulado usado num processo produtivo do tipo capitalista em que o capital seguinte = capital inicial + capital incorporado presente.

E todo o tempo de trabalho humano fica transformado em capital no modo de produção capitalista?
Claro que não ! Todas as pessoas vivas existentes consomem recursos e mesmo a maquinaria também consome recursos, portanto, só os excedentes podem ser incorporados no capital fazendo-o crescer. 
Ora estes excedentes do consumo das sociedades é que estão disponíveis para circularem na economia como crédito circulante que pode ser titulado como papel moeda ou como qualquer outro símbolo socialmente aceite. Esse crédito pode mesmo ficar titulado pelo direito de uso para transação de bens materiais : aquilo a que chamamos direitos de propriedade.
O crédito em direito transacionável de propriedade de bens materiais (uso no presente ou usufruto de rendimentos futuros em conjunto com os direitos de uso futuro de serviços) ou de uso de serviços, é que constitui o valor que tem de ser titulado pelo dinheiro ou papel moeda.
Vamos analisar então em detalhe o conjunto dos créditos circulantes numa sociedade com economia baseada em mercado (aquela em que o preço de transação dos bens e serviços contém a totalidade das parcelas definidas na formula do valor ) cujos intervenientes são pessoas singulares ou coletivas a quem a lei confere direitos civis.

A propriedade material e o dinheiro
E as propriedades de uso particular que servem para o suporte de vida ou suporte social dos cidadãos, devem ser tituladas por dinheiro? Se não vão ser transacionados, não! O dinheiro titula apenas créditos circulantes gerados por transações de bens e serviços.

A transação gera crédito
É importante esclarecer como é que uma transação de bens e serviços gera o crédito. Numa transação permutam-se títulos de propriedade transacionáveis. O vendedor cede a propriedade, ou seja troca o seu titulo de propriedade de bens ou serviços, por um título credor de uma dívida, enquanto o comprador efetua o inverso, cede um título de dívida de outrem que esteja em sua posse, ou seja um crédito que disponha , e adquire um título de propriedade. Isto significa que um vendedor em abstrato confia que um comprador em abstrato possa em em algum momento liquidar a sua dívida com o produto do seu tempo de trabalho ou seja, concede-lhe um crédito. É esse crédito em abstrato que circula na economia de mercado devidamente titulado por símbolos. Muitas vezes o comprador não tem disponibilidade imediata quer de tempo quer de títulos mas através do deferimento no tempo da obrigação de saldar a sua dívida é-lhe concedido um crédito diferido, mediante uma remuneração adicional o juro.

Créditos circulantes : moeda real e moeda virtual
Na atualidade o conjunto dos símbolos de crédito é constituído por:
  • papel moeda,
  • Moedas digitais Bitcoin e outras)
  • crédito em “cartões” de crédito (conta crédito)
  • crédito comercial (diferimento no pagamento de faturas)
  • Títulos de dívida (obrigações, livranças, letras, cheques e em geral “empréstimos” comerciais de qualquer tipo)
Destes apenas o papel moeda é 100% controlado controlado pelo estado que é a entidade emissora e entidade fiscalizadora e também é o único que tem uma representação real ou material.
O crédito em cartões ou conta crédito, dinheiro digital blockchain é emitido pelos bancos ou entidades similares de forma particular (mesmo quando o banco é de capitais públicos). O controlo público destes créditos é mínimo. A sua equivalência em dinheiro é quase impossível de ser aferida.
O crédito comercial é emitido pelas empresas em benefício dos seus clientes, com prazo de amortização variável, embora seja usual entre empresas conceder-ser pelo menos 30 dias. O controlo público destes créditos é atualmente indeterminado. Do mesmo modo a sua equivalência em dinheiro é quase impossível de ser aferida, embora se possa fazer uma estimativa a partir do volume de faturação entre empresas.
Os títulos de dívida quer estatais quer particulares ( entre cidadãos ou entre cidadãos e empresas ou mesmo nas empresas entre si ) são normalmente registados oficialmente por  documento de registo público. Assim pode-se sempre conhecer o volume desses créditos circulantes. O estado só tem controlo, ou seja só pode determinar o valor dos títulos de dívida dos organismos de estado.
Desde o início da gestão digital de contas há cerca de 50 anos o rácio entre o papel-moeda e os outros símbolos de crédito tem vindo a descer , ou seja cada vez há mais dinheiro virtual, dinheiro esse que está fora do controlo estatal. De igual modo a quantidade de símbolos de crédito (ou seja dinheiro) tem vindo a aumentar desmesuradamente saindo frequentemente fora de paridade com o valor produzido. Isso é equivalente à emissão pelo estado de papel moeda sem controlo e tem como consequência direta o crescimento da inflação

O falso custo dos bens e serviços pago pela geração presente
Os bens e os serviços que têm mais trabalho indireto incorporado e não são produzidos ou comercializados em condições de monopólio, são aqueles que em geral que têm menor custo para a geração presente. Isso acontece porque esse trabalho indireto já foi pago anteriormente (está agora incorporado no capital) e ainda porque o eventual custo da reposição das condições iniciais foi diferido para um futuro fora da janela temporal de vida da geração presente.
E quais são em geral os bens e serviços nessas condições ? São aqueles que são produzidos durante um período mais longo e os que tenham economia de escala associada.
E os novos bens e serviços vulgarmente conhecidos como moda, fabricados em séries muito menores do que o que a respetiva tecnologia permite ? Esses têm mais trabalho direto incorporado (em design, em projeto, em marketing, em geral em tudo o que esteja associado a inovação ) e apenas um mínimo de trabalho indireto.

E onde se consegue incorporar mais trabalho indireto? Será nos bens ou será nos serviços?

A resposta é óbvia . É na produção de bens, pois é nesta classe económica que atualmente temos maior incorporação de automatização e processos de produção em série:
  • fabricação automatizada
  • distribuição com alto nível de automatização ou com um mínimo de mão de obra direta por peça por causa da distribuição em grandes superfícies e do marketing eletrónico maciço
    E nos serviços então não há possibilidades de automatizar ?
  • Claro que há! E até temos exemplos que se multiplicam todos os dias:
  • Os serviços bancários estão com uma taxa de automatização de mais de 95% de todas as operações
  • Os serviços do estado como os serviços tributários na última década aceleraram a sua automatização e já mais de 70% das operações podem ser automáticas
  • O ensino automatizado e remoto ( e-learning) é já uma realidade cimentada e nas próximas décadas atingirá sem dúvida taxas da ordem dos 90%
  • A publicidade e marketing em particular a publicidade endereçada individualmente tem já mais de 90% e automatização.
  • Serviços pessoais e domésticos – Quem não conhece os robôs domésticos?
  • Serviços de monitorização gestão e manutenção das grandes redes de comunicações de de energia com mais de 95% de automatização
  • Até a inovação tecnológica e as invenções (projeto e inventiva) estão neste momento a sofrer um impulso de lançamento com os “algoritmos genéticos” e sistemas de aprendizagem automática profunda (software inventor) que faz com que mais de 10% das novas grandes invenções e inovações tecnológicas já tenha contributo automático

Sendo a automatização omnipresente está contudo incorporada em proporções bem distintas nos bens e nos serviços e também em proporções muito diferentes conforme consideramos um bem ou serviço no lote dos novos (moda ou inovação ) ou no lote dos de uso corrente mais antigos.
Prestemos atenção agora à sociedade atual designada por sociedade de consumo em que a regra é a criação de ciclos tecnológicos artificialmente curtos.
Designamos por ciclo tecnológico o período que vai desde a prova de conceito (fabricação dos primeiros protótipos) até ao último dia da fabricação em série de um bem ou o período que medeia desde a primeira apresentação pública de um serviço até ao final da sua vida económica, ou seja até que o total do valor produzido seja menos de 1% do seu máximo.
Em especial para os bens, a vida útil do bem estende-se muito para além do ciclo tecnológico.
Por exemplo um computador pessoal pode manter-se funcional por mais de cinco anos desempenhando a sua função sem degradação de performance, contudo todos os fabricantes lançam anualmente substitutos e deixam de ter assistência de marca a preços comportáveis após o período de garantia de 2 anos. Um outro exemplo ainda mais gritante é o dos telemóveis cuja vida útil pode ultrapassar 5 anos e os fabricantes e operadores lançam substituições a cada 6 meses. Contudo os campeões dos ciclos tecnológicos artificiais são os produtos de vestuário e calçado cuja funcionalidade pode ser de mais de 2 anos e os fabricantes lançam novas coleções de 3 em 3 meses ou de 6 em seis meses .
Com os ciclos tecnológicos artificialmente curtos, fica prejudicada a economia de escala não deixando o seu valor de aquisição descer até aos níveis que a tecnologia e a dimensão do mercado permitiriam e criando problemas adicionais de reposição das condições iniciais (custos associados à reciclagem, eliminação da pegada de carbono e esgotamento de reservas de matérias primas) .

E o que significam em termos da teoria do valor, ciclos tecnológicos artificialmente curtos ?

Primeiro: significam que nunca se atinge a quantidade de trabalho indireto incorporado que a tecnologia permite ou seja, o rácio (Td+Ti)/TD  para classe de bens ou de serviços não desce. Mais, poderá mesmo implicar uma subida se considerarmos o esforço de marketing necessário para fomentar o consumo. Marketing esse todo feito de novo e à medida, logo caro, que não se destina a criar novos consumidores para a classe de bens ou serviços, mas somente a levar à substituição do bem ou serviço por outro que esteja na moda.
Segundo: Que sendo produzidas pequenas séries (em relação ao que a dimensão do mercado e o estado da tecnologia permitem, o fator do valor dependente do fator de escassez ( oferta/procura) na fórmula do valor assume um valor relevante .
Terceiro: A viabilidade da produção em ciclos tecnológicos curtos depende claramente de em curto período de tempo se conseguir atingir o máximo número de compradores. Ora isto só se consegue em regime de monopólio da cadeia de produção distribuição. Então como vimos a parcela da teoria de valor correspondente ao “fator de monopólio, assume um valor relevante
    Estes três fatores conjugam-se para que o custo de aquisição dos bens e serviços de ciclo tecnologicamente curto se mantenha sempre elevado e se tente adiar o pagamento da reposição das condições iniciais, para um futuro o mais distante possível.
    Se no cenário anterior tivermos os símbolos monetários vinculados ao número de transações, (cada transação gera um crédito e os créditos geram símbolos) caso mais comum na sociedade com o modo de produção capitalista atual, então os símbolos de valor circulantes estão sempre a aumentar. Além disso se em vez de vermos baixar o custo e aumentar a quantidade dos bens e serviços de ciclo tecnológico mais longo por força dos ganhos tecnológicos em produtividade, virmos o seu preço manter-se em paridade com os novos serviços, o que notamos é que o número de unidades de crédito gerados pela sua transação aumenta no tempo ou seja notamos inflação nos preços.
    Mas ainda, temos outra consequência fundamental da sociedade de consumo ( aquela em que está generalizada a produção de bens e serviços de ciclo tecnológico curto): a produção de bens e serviços de ciclo curto é suportada por pessoas oriundas da bolsa de trabalho ativa, deslocadas para esta atividade, que se mantêm consumidoras dos bens e serviços de ciclo longo (o consumo potencial destes bens e serviços mantém-se praticamente inalterado por este movimento social). Como é óbvio se não se der um aumento de produtividade (rácio (Ti+TD)/Td ) que compense a diminuição do trabalho direto disponível, vai haver menos produção (oferta) do que o consumo potencial (procura) fazendo crescer o fator Op na fórmula do valor, levando ao aumento do custo de aquisição desses bens e serviços ou seja fazendo subir a taxa de inflação.

E quando se esgota a capacidade social de absorver mais novos bens e mais novos serviços ? O que acontece?

Acontece a outra face da inflação que é o desemprego - a crise..
A evolução tecnológica permite produzir e distribuir mais bens e serviços com maior produtividade (rácio Ti+TD)/Td mais elevado), mas não havendo aumento de consumo correspondente, dá-se uma sobre produção , e uma desvalorizaçao do stock ,“a bolha rebenta” , fazendo perecer empresas e criando desemprego.
    Conclusão
A sociedade de consumo como fase final da evolução económica do modo de produção capitalista é uma sociedade naturalmente geradora de inflação:
- pelo aumento de duas das três parcelas que compôem a fatura total a pagar pela sociedade. Custo total = Custo de aquisição (actual) + Custo de posse (dentro do prazo de vida útil) + Custo de reposição das condições iniciais (longo prazo)
- pelo aumento natural dos créditos em circulação e dos correspondentes símbolos monetários

As causas da inflação à luz da teoria do valor
Pelo exposto pode-se concluir que as causas da inflação à luz de uma nova visão da teoria do valor são:
  • de caráter social (movimentação demográfica) : sempre que se verifique uma mudança significativa de pessoas da produção de bens fabricados em grande série para para a produção de novos bens ou serviços de baixa incorporação de trabalho indireto (baixa produtividade)
  • de caráter financeiro: sempre que se verifique a emissão de créditos ou dinheiro virtual sem contrapartida do trabalho direto incorporado nos bens e serviços transacionados
  • Pela sociedade de consumo
  • Pela destruição de bens , serviços e estrutura social causada por guerras ou eventos economicamente estéreis

Uma visão pós-Marxista da Teoria do Valor 7

O que o Marxismo deixou por explicar
- Fórmula geral de cálculo do preço ou valor de mercado expresso em função:
- do trabalho humano incorporado direto e indireto; 
-da abundância ou escassez em relação ao consumo; 
- do número de produtores em competiçao;
- do lucro ou quota de acumulação de capital; 
- do custo da eliminação da pegada ecológica da produção desse bem ou serviço ou seja, da reconstrução ambiental

P = (Td/(1+Ti)) (Op+Fm) + L + Ra <----> (P-L-Ra)(1+Ti)/Td= Op+Fm

P é o preço de aquisição em mercado.
O que nos diz está fórmula:
1 - O fator de escassez Op e o fator de monopólio Fm não dependem da produtividade. Ou seja, não dependem do nível civilizacional ou tecnológico de uma sociedade, mas dependem do comportamento dos agentes económicos e de causas ambientais.
(P-L) – Em economia de mercado é o preço de custo para o comerciante seja ele produtor, grossista ou retalhista.
Ao quociente (1+Ti)/Td chama-se PRODUTIVIDADE.
A produtividade costuma exprimir-se em termos do racio quantidade de bens ou serviços produzidos por unidade de tempo ou do racio unidades monetárias extra obtidas sobre unidades monetárias investidas ( valor acrescentado sobre valor investido. ) 
Consideremos o racio (1+Ti)/Td
Quando a produção é totalmente automática Td tende para zero, logo a produtividade no limite é infinita. Quando a produção não incorpora nenhum trabalho indireto Ti=0 a produtividade é dada pelo inverso do ptempo de trabalho direto.
Ambas as situações anteriores são cenários idealizados que não se verificam na realidade social. Por exemplo: no primeiro caso tem de existir, no mínimo, o trabalho do produtor para conceber o produto; no segundo caso existe no mínimo trabalho indireto sob a forma de capital condensado no conhecimento público civilizacional (ciênca e tecnologia) incorporados no conhecimento e tecnologia de domínio público e  na estrutura social organizada em termos de funcionamento económico.
Por esta fórmula pode-se verificar que à medida que aumenta a produtividade o preço fica mais dependente do lucro pois os fatores dependentes dos custos de mercado - OP e a situação da empresa na estrutura económica - Fm são afetados pelo inverso da produtividade.
Se tivermos um modo de produção não capitalista em que não exista apropriação privada do lucro pelo capitalista para seu consumo pessoal e em que a produção tenha alta eficiência (sem desperdícios de monopólio ou outros) os preços dos bens e serviços tenderão a diminuir no tempo (no limite até ZERO) com o aumento da produtividade. (Tendência da CAUDA LONGA - curva de Pareto - conseguida pela economia de escala da produção de grandes séries, conforme a tese de Chris Anderson).(2)
Quando a produtividade aumenta no tempo e os preços não diminuem na mesma proporção, dizemos que há inflação, pois o aumenta o lucro ou ou os fatores OP e Fm para compensar o aumento da produtividade.
A inflação manifesta-se por um aumento ou não diminuição temporal dos preços em função do aumento da produtividade, contudo não tem apenas causa nos fatores económicos da produção, pode quase sempre ter origem em fatores sociais que afetem a escassez (OP), como o aumento da população não ativa, o desperdício, a guerra ou as catástrofes naturais que destroem valor. O estudo da inflação é abordado em capítulo autónomo mais à frente neste ensaio.
Em geral no modo de produção capitalista há escassez, ou seja produção inferior ao potencial de consumo, tendo o fator OP um valor positivo tanto maior quanto maior for a escassez.
Por outro lado se no modo de produção capitalista houver uma sobre produção, os custos de armazenamento e ou obsolescência podem tornar o fator OP negativo (o produtor paga para se ver livre do stock) e o preço final pode ser ele mesmo negativo.

O preço no modo de produção capitalista é dado pelo produto do inverso da produtividade por uma função de retroação (regulação) constituída por duas parcelas (OP – Índice de escasez Oferta e Procura e Fm – Fator de monopólio) ao qual se adiciona a parte de acumulação do valor (CAPITAL) : o Lucro mais a parte da Reconstrução Ambiental ou seja minimizar a Pegada Ecológica
O preço de aquisição em mercado é função de vários fatores ou  custos parcelares
Caq=f(Td,Ti,Op,Fm,Ra,L) 

temos de comparar os diversos fatores de ponderação das parcelas que são para ser usadas na construção de um modelo matemático de funcionamento da economia, que responda acertadamente aos casos conhecidos do presente e passado e por isso nos dê uma razoável confiança de poder fazer previsões para o futuro.
No princípio desta dissertação disse que procuraria construir um modelo do valor baseado em parâmetros físicos mensuráveis da atividade humana. O tempo é a grandeza que se pode usar porque, a natureza atribui a todos os homens de qualquer época, a mesma quantidade de tempo. Uma hora de um rico é igual à de um pobre , que por sua vez é igual à de um rei e que não se distingue de uma hora de um vilão.
Karl Marx e muitos outros também pensaram do mesmo modo que eu. A grande diferença é que eu conheço o que foi feito como resultado dos seus estudos e conheço o endeusamento das suas descobertas e os respetivos resultados. 
Na época em que primeiro foi apresentada Sec IXX a simples assunção do tempo como grandeza mensurável primária na génese do valor, foi uma verdadeira revolução concetual. Contudo essa revolução em termos concetuais pouco mais deu do que a posterior descoberta da lei da concentração e centralização do capital. O que é manifestamente muito pouco para trazer a economia para o campo do conhecimento científico.
O que ficou por explicar:
  • As causas da inflação dos preços ao consumidor.
  • Os ciclos económicos (sua duração, frequência e fenómenos iniciadores - gatilhos)
  • Se o modo de produção nos países governados pelos partidos comunistas era modo de produção capitalista ou outro modo diferente e novo
  • Se havia ou não inflação nos países ditos socialistas e se sim qual a sua magnitude
  • A evolução dos preços com o progresso tecnológico
  • A evolução da produtividade com o progresso tecnológico
  • A função económica do lucro ( a função social do predador )
  • A fórmula completa que relacione custos totais (preços totais) e valor dos bens e serviços.
  • Prever, ainda que de forma estatística, o funcionamento da economia, quer global, quer de um país ou de um grupo de países.

Uma Visão pós-Marxista da Teoria do Valor 6


Fator de monopólio

Definições

Fator de monopólio - No âmbito deste artigo considera-se que existe este fator de formação dos preços dos bens ou serviços nas circunstâncias em que uma determinada produção ou distribuição chega ao consumidor através de uma cadeia de comercial (produção-distribuição-consumo) que inclua pelo menos um elo monopolista.

Condição de monopólio - Do mesmo modo ainda no âmbito deste artigo define-se como condição de monopólio a condição de concorrência comercial em que se encontrem menos de 10 concorrentes por 100000 consumidores e em e que o volume de negócios desses concorrentes tenha peso da economia de pelo menos 0,1%. 

Nestas circunstâncias a formação dos preços não depende apenas do valor do trabalho humano incorporado mais o lucro dos detentores do capital dentro da cadeia produção-distribuição, mas tem um custo adicional proporcional ao grau de monopólio da cadeia comercial e ao seu tamanho absoluto da parte monopolista (quer em volume de faturação quer em orçamento geral) e é ainda proporcional à produtividade ou nível desenvolvimento tecnológico.



O início da formação de monopólio
Verifica-se que os custos de estrutura de uma empresa por unidade de vendas são decrescentes com o tamanho da empresa (capital social combinado com volume de faturação) enquanto a empresa está inserida num circuito comercial concorrencial. Mas num mercado limitado (que não seja arbitrariamente crescente quer em volume de faturação quer em número de empresas) há um momento em que o crescimento das empresas se começa a fazer à custa da destruição das empresas que não conseguem crescer. Ou seja dá-se crescimento de alguns diminuindo muito o número total dos intervenientes no setor. A esse ponto chamo: o ponto inicial de formação de monopólio.

Nesse momento pelo menos alguns dos concorrentes, de acordo com a teoria dos jogos de Pareto descobrem que podem fazer cartelização ou seja tirar mais vantagens económicas combinando os resultados do jogo económico, em vez de competir. Assim se começam a formar os monopólios que uma vez estabelecidos deixam de ter necessidade de evoluir em eficiência económica. Para se manterem basta-lhes retribuir ao capital dividendos, não decrescentes por unidade de capital investido. Os preços dos bens e serviços que comercializam deixam de ter uma relação exponencial inversa com a economia de escala e a evolução tecnológica, retardando no setor “a fase económica de cauda longa” tal como foi definida por Chris Anderson nos seus livros “A Cauda Longa” e “Free”.

Fatores que contribuem para a perda de eficiência económica nas empresas monopolistas
A economia como reflexo da atividade humana está condicionada às mudanças na sociedade. As mudanças que mais afetam a economia são as de caráter tecnológico e as alterações demográficas. São as alterações na tecnologia que permitem o aparecimento de novos bens e serviços ou a alteração qualitativa ou substancialmente quantitativa dos bens e serviços existentes e são as alterações demográficas, em especial as expansivas, que trazem a disponibilidade de mão de obra na produção e o aumento de consumo com efeitos económicos visíveis no mercado.
É evidente que estas duas condições são apenas condições necessárias mas não suficientes para a mudança, pois esta é um processo revolucionário. As empresas para enfrentarem a mudança precisam pois de ter características internas de grande adaptabilidade, como diversidade potencial nos seus produtos, na sua mão de obra e na sua estrutura interna. Ora é esta adaptabilidade nos produtos, na mão de obra, na maquinaria automática e na sua estruturação, que mais regride à medida que uma empresa vai crescendo até se tornar monopolista. Verifica-se que as empresas sobreviventes na fase de monopólio dificilmente mantêm eficiente leve e flexível a sua estrutura interna. Por estarem inseridas num mercado vasto com poucos ou nenhuns concorrentes deixam de ter a necessidade de eficiência económica na produção dos bens e serviços e com a cartelização explicita (combinada) ou implícita (não combinada) os preços e condições fornecimento dos bens ou prestação de serviços mantêm-se bastante mais gravosos do que poderiam ser em mercado concorrencial.
O peso deste fator não significa que do preço final é distribuído mais valor para os produtores primários (todo o trabalho humano necessário e suficiente para garantir o fluxo produção-distribuição consumo). De igual modo não significa sequer que contribua eficazmente para a acumulação de capital na cadeia económica quer por meio de mais dividendos monetários distribuídos aos detentores do capital quer por meio de investimento em meios de capital, tanto em maquinaria como em qualificação da mão de obra.
O que se verifica é que no preço final, cada vez têm mais peso, custos como os de marketing, as remunerações da hierarquia de topo quer ela seja ou não detentora de capital (e neste caso essa hierarquia é duplamente remunerada), os desperdícios em utilização de material e mão de obra (sendo neste caso relevantes os empolamentos de funções inúteis e megalómanas) e ineficiências quer na produção ( como a sub empreitagem - outsourcing - sistemática), quer na distribuição com longas cadeias de distribuição ( há uma frase popular que resume assim : "com este lucro dá para tudo !").

Monopólios de capital público e monopólios de capital privado.
Consideram-se monopólios públicos todos aqueles em que a titularidade do capital não está predefinida para um número específico e concreto de cidadãos acionistas. Nesta categoria encontram-se as empresas e organismos estatais e também as empresas de capital aberto disperso em bolsa, as empresas detidas por fundos (de investimento ou outros).
Consideram-se monopólios privados todos aqueles em que a titularidade do capital está atribuída a um número específico e concreto de cidadãos acionistas . Nesta categoria encontram-se todas as sociedades limitadas que não pertençam a fundos, as sociedades cooperativas e as sociedades anónimas de capital fechado
As empresas monopolistas de capital público, seja este estatal ou particular, têm características de estrutura, de funcionamento, de gestão, de mentalidade e de comportamento da sua mão de obra (desde a gestão até ao executante mais baixo) muito semelhantes, podendo-se caracterizar por uma alta ineficiência económica, por um imobilismo e conservadorismo confrangedores e por um preço empolado nos bens e serviços que produzem. 
É neste setor onde mais se nota a influência do fator de monopólio na formação do preço final. Em termos de regimes de governação onde mais se notou esta influência foi nos regimes políticos dominados pelos partidos comunistas e afins. Esta foi uma das grandes razões da implosão dos regimes satélites comunistas do leste europeu. Eles criaram um tecido económico e social incapaz de se adaptar às mudanças do fim do sec XX e sec XXI. Neste tecido económico e social reinava a classe política (complexo militar industrial e Nomenklatura do partido ou partidos do poder), com uma mentalidade extremamente conservadora, completamente avessa à mudança, infetada pela corrupção de todos os níveis da sua estrutura e em qualquer lugar que se encontrasse na estrutura do estado ou da sociedade. Com esta mentalidade e comportamento os monopólios estatais e particulares (pois que também havia e há: veja-se o caso atual da China) afastaram-se completamente de um processo económico e social cuja tendência fosse Reduzir, Reutilizar e Reciclar ou seja serem eficientes. 
Sem remunerarem mais ou mais corretamente os produtores primários ( trabalhadores da cadeia produção distribuição) produziam bens e serviços obsoletos inúteis, ou com custos empolados. Era o reino da burocracia com as suas inutilidades obsolescências.
Assim se vê que para o fator de monopólio contribuem os custos com as inutilidades ou desperdícios internos mas também os custos dos serviços estatais característicos da burocracia tão querida da classe política.

Continua.....