A propósito
de uma publicação em http://aformigadeesopo.blogspot.com.es/ de
26-10-2013 denominada "NÃO HÁ BECOS SEM SAÍDA".
A
vitória do povo grego sobre a chantagem neoliberal de vários governantes e
outros membros da classe política atualmente no arco do poder europeu, voltou a
trazer à primeira página dos jornais e das mentes que ainda conseguem
pensar sem muros no pensamento, a pergunta que se se impõe:
- O povo
grego ganhou! E agora? O que fazer para que este sucesso não se torne uma
vitória de Pirro?
Ou como diz
o meu pai com 92 anos e muita vida vivida:
- Ganharam à
Troika! E aos coronéis será que lhes ganharam?
Esta reserva
mental de quem já viveu muito, expõe uma verdade indesmentível: a Democracia
não é um regime divino, eterno e indestrutível: pode ser atacada por
dentro e por fora.
Os
que viveram o Séc. XX, lembram com certeza que os inimigos da
Democracia do Povo, quando não conseguem impor muros no pensamento, impõem os
muros de canhões como a sua solução final.
As diversas
fações da classe política (nos governos e oposições institucionais) criaram o
mito de que não há Democracia sem eles e mais: que a Democracia são eles.
O mito de
que fora da classe política só há caos, é atualmente uma das paredes
mentais mais usadas para nos criar a ilusão de que fora das propostas da
classe política, só há becos sem saída e impossibilidade de governar.
Estes
camaleões tentam fazer-nos esquecer que todos os banqueiros são anarquistas:
eles não querem governos de nenhum tipo a controla-los, mas querem restringir a
governação a simples funções de policiamento do povo em geral, para garantia do
seu status quo.
Os
caminhos para saída deste estado de coisas, passam pela resolução de dois
grandes problemas da civilização atual:
- Como governar com a
participação do povo, retirando à classe política o
monopólio do acesso ao poder.
- Como fazer funcionar a economia
(a de mercado + a planificada), retirando aos banqueiros o monopólio
do controlo do dinheiro.
A solução destes dois problemas permite-nos definir as
funções necessárias e suficientes do Estado atual.
Para abordar o problema, preciso de em primeiro lugar esclarecer os
leitores sobre o meu posicionamento em relação às diversas perspetivas
existentes nos meios académicos sobre o conceito de Estado.
Entre as noções científicas de Estado que considero mais
claras e sintéticas refiro-me à de Max Weber, pois enfatiza a ideia que
considero central para tratar o problemas acima citados: “ O Estado é o dono do
monopólio da coercividade legal. ”
Dito por mim de uma maneira mais “matemática” :
“O estado é a entidade que numa sociedade controla de forma
estável os operadores de criação, destruição e transformação, que transformam a
lei da força em força da lei, sendo por isso o titular máximo de todos os
monopólios”
Em publicações anteriores já defini o que é a classe política
http://penanet.blogspot.com/2011/05/classe-politica.html
e http://penanet.blogspot.com/2012/10/a-classe-politica-e-alta-classe.html
)
e também já apresentei em vários artigos a prova da possibilidade de uma
governação participada sem que a classe política detenha o monopólio da
representatividade ( http://penanet.blogspot.com/2011/02/sistema-de-decisao-alternativo-ao-da.html ).
Considero que o SYRISA é um partido político institucionalizado
e membro de direito da classe política, que de modo nenhum está apetrechado ideológica
e cientificamente para promover qualquer transformação radical na sociedade
Grega e muito menos na sociedade europeia globalizada.
À classe política mundial desde chineses a americanos,
interessa que os povos europeus estejam domesticados e aceitem sem reservas os
seus ditames financeiros. Até hoje não vi ninguém do SYRISA dizer que se pode
ter democracia sem o monopólio da representatividade pelos partidos e sem o
monopólio da circulação do dinheiro pelos bancos. Antes pelo contrário, parece
que querem é ter eles o monopólio do controle dos bancos e logo da emissão e da
circulação do dinheiro. Nesse sentido o
SYRISA não acrescenta nada de novo ao panorama grego e europeu. O SYRISA não
apresenta um novo modelo de funções para o Estado. Apresenta sim o Estado tal
como o conhecemos com menos pintura neoliberal e mais uns remendos vermelhos ou
alaranjados, dos socialismos do passado.
O futuro dirá se os laivos de socialismo que perpassam no
discurso o na prática do SYRISA darão como resultado a criação de um novo paradigma
de estado e sociedade ou simplesmente conseguem perpetuar localmente o velho
modo de produção capitalista, criando mais uma ilusão no povo grego de que o socialismo
é a única antítese alternativa ao capitalismo.