Dissertação sobre certezas previsões
e profecias (parte 2)
As infraestruturas cibernéticas da
civilização atual
O funcionamento, a conservação e a evolução da sociedade atual, são
garantidas por:
- Sistemas de geração, armazenamento, controlo e uso de
energia transformável
- Sistemas de aquisição, armazenamento e processamento da
informação
- Sistemas de obtenção, armazenamento, transformação e distribuição dos
materiais necessários para os seres humanos e para as outras infraestruturas
anteriormente referidas.
Estes sistemas desdobram-se em componentes autónomos de
menor dimensão e de âmbito mais restrito, cuja criação e funcionamento obedecem
a um desígnio ou projeto e por isso têm
de ser cibernéticos. É a cibernética que garante a aderência ao projeto
inicial.
Todas as infraestruturas de suporte à nossa civilização (ou
redes como soe chamar-se) são redes cibernéticas, não porque sejam constituídas
só por computadores ou robôs, mas sim porque são redes que obedecem a um
desígnio e têm meios internos de adaptação a diferentes causas para conseguir o
efeito pretendido. Estas redes têm pelo menos uma função automática de
retroação (normalmente até têm muitas) que compara em permanência o estado
atual do sistema, com o estado final pretendido ou com objetivos parciais
incluídos no plano global.
Atendendo aos nove graus de organização da ação expressos no
artigo deste Blog “ Cibernética” http://penanet.blogspot.pt , muitas das redes
atuais são multiestatos do grau 7 e
algumas já incorporam funções do grau 8 (quando são redes autorreconfiguráveis).
As três classes de redes anteriormente referidas podem ser
classificadas por uma ordem que atenda ao seu estado cibernético global e aos estados
de algumas das suas partes constituintes.
Assim, as infraestruturas mais evoluídas, mais
complexas e mais generalizadas da nossa civilização são as redes informáticas, de que a Internet dos homens e a
Internet das coisas são os expoentes máximos. Estas duas redes em conjunto
formam uma entidade simbiótica a que só falta incorporar processos de
autoconsciência para ser considerada rede “viva” do grau cibernético oito. São
constituídas por milhares de milhão de partes físicas: hardware (principalmente
computadores) e por mais cem vezes esse número em componentes imateriais:
software.
A segunda classe mais organizada das infraestruturas é a do circuito da
energia da energia transformável. As redes relacionadas com a energia
ainda estão muito pulverizadas e sem um sistema global de governo ou pelo menos
de coordenação. Podemos considerar que
globalmente esta classe não ultrapassa o grau 5 e que mesmo os seus componentes
mais evoluídos não passam do grau seis.
Por último temos os sistemas de obtenção, armazenamento,
transformação e distribuição de matéria, que globalmente não ultrapassam o grau
2 e individualmente, apenas alguns dos seus elementos: as fábricas
automatizas, conseguem atingir o grau 7. A automatização destes sistemas,
constituídos por uma miríade de indústrias,
ainda tem de percorrer um longo caminho para se poder considerar
coordenada globalmente. A regulação existente atualmente é a chamada regulação
dos mercados que pouco mais faz do que confirmar que a produção e distribuição
de bens obedece às leis do acaso e da necessidade. A sua submissão a um desígnio global
é praticamente inexistente ou pelo menos muito difícil de enquadrar.
Os robôs (ou na gíria: bots, se se referem só a software )
são os seres que nestes sistemas são os responsáveis pela melhoria global do
seu grau cibernético. Contudo apesar de as infraestruturas de comunicação
locais (LAN) e as infraestruturas de comunicação remota (internet das coisas)
já estarem em plena utilização desde há vários anos, a coordenação entre robôs
está restrita ao âmbito uma empresa ou pequena associação de empresas. A evolução sofrida nos últimos 5 anos no domínio da Inteligência Artificial dotou os robôs de progressiva autonomia e de um grau crescente de autodeterminação.
Daí que toda a produção e distribuição de
bens e mesmo de muitos serviços ainda tem um funcionamento caótico e difícil de
calcular para além do curto prazo mas está a tornar-se cada vez mais organizadas previsível .
Redes físicas versus
redes virtuais
Nestas três classes de redes os processadores de informação:
os programas (software) estão muito mais evoluídos ciberneticamente do que os
processadores de sinais físicos (hardware). É nos processadores de informação
que está a ser implementada a chamada inteligência artificial, (IA) que dota
muitos desses robôs de software (bots) com capacidades cibernéticas dos graus
sete e oito.
Um novo ator na
sociedade e na civilização
A investigação intensiva e os resultados conhecidos das
experiências já publicadas sobre processos de consciência, leva-me a pensar que
no prazo máximo de vinte anos teremos máquinas e redes autoconscientes dotadas de sentimento e encoções a
trabalhar em simbiose com os seres humanos, sendo essa uma marca civilizacional
do futuro próximo.
E os seres humanos?
Que papel vão ter?
O ser humano comum vai interagir com os sistemas de inteligência artificial (IA) como os mágicos Merlin ou
Harry Potter interagiam com os mundos fantásticos em que viviam. Dominarão os
rituais e as frases “mágicas” que lhe dão o poder de “dominar” o ambiente
cibernético em que estarão inseridos: serão feiticeiros.
Contudo, alguns conhecerão a existência, o funcionamento e a
constituição da máquina subjacente à sociedade desse tempo e terão a capacidade
de criar ou modificar desígnios: serão os criadores da magia, quais semideuses
com poderes de profeta, a quem só lhes falta o poder de criar a matéria de que
eles mesmos e os seus desígnios são feitos, para terem o grau cibernético nove
e poderem dizer : “faça-se a luz!”.
Na terceira parte deste artigo vai ser proposta uma metodologia de abordagem do problema inicial : O universo será apenas objetivo ou poderá ser projetivo no todo ou em parte?
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