27 agosto 2019

URBANISMO E PEGADA ECOLÓGICA - 2

Urbanismo e  pegada ecológica (Parte 2)
O rasto que a atividade de cada um de nós deixa no planeta, na nossa passagem por este mundo, chama-se pegada ecológica. Esse rasto tem muitos componentes que se podem agrupar em várias classes para conveniência de análise. Um dos agrupamentos usados mais frequentemente é:
- a classe do uso de superfície produtiva para fins alimentares e de residência (terra e mar)
- a classe dos gastos de energia
- a classe dos resíduos e lixos produzidos (construções e artefatos )
- a classe da influência na biodiversidade
A pegada ecológica é atualmente objeto de um estudo intensivo em todo o mundo muito por causa da iminente catástrofe climática que o planeta enfrenta e cujas consequências já começam a fazer-se sentir no imediato em muitos países, incluindo Portugal.
Esta é uma das principais razões pelas quais as gerações mais jovens começam a demonstrar uma maior consciência ecológica e abraçam cada vez mais os movimentos cívicos e políticos que têm as causas ambientais como principal motivo dos seus programas de ação.
Ao nível do urbanismo muitos foram os erros cometidos no passado no planeamento muitas cidades e que em alguns casos, infelizmente ainda continuam a ser cometidos no presente.
A urbanização dos seres humanos foi muito acentuada nos dois últimos séculos levando a que atualmente cerca mais de 54% viva em cidades que se estão a tornar cada vez maiores. (dados das Nações Unidas www.unric.org/pt/....)
A concentração da população nas cidades pode erroneamente levar-nos a pensar que isso diminui o impacto no ambiente derivado a parecerem menores as deslocações e consumo de energia relativamente ao habitat disperso. Na realidade passa-se exatamente o contrário: o consumo energético derivado da mobilidade profissional e de lazer, aliado ao uso mais intenso de máquinas no apoio à atividade económica da sociedade de consumo, faz com que a pegada de cada cidadão tenda a crescer em vez de apresentar a tão almejada diminuição.
Existem calculadoras on-line que nos permitem conhecer a nossa pegada ecológica em termos superfície de terra equivalente para  satisfazer as nossas necessidades de consumo de forma sustentável. Os dados para essa calculadora são enviados respondendo a um questionário sobre os nossos hábitos de consumo. Podemos encontrar essa calculadora em vários sítios da internet como os do exemplo abaixo.
Além desses há também cidades (por exm: Guimarães ) que têm uma versão da calculadora adaptada às suas condições particulares, permitindo resultados com maior grau de precisão. (https://www.cm-guimaraes.pt/p/calc_pegada_ecologica)
Exemplos de sítios onde se pode calcular a pegada ecológica:
www.myfootprint.org
footprint.wwf.org.uk
www.pegadaecologica.org.br
Os resultados médios obtidos nos países mais desenvolvidos indicam que se todos os seres humanos consumissem como nós precisaríamos de mais de 1,6 Terras para sobreviver.
A consciência deste facto tem levado cada vez mais responsáveis políticos e dirigentes de organizações sociais a implementar programas para tentar reverter esta situação em vários dos capítulos mais prejudiciais da atividade humana.
No capítulo da mobilidade urbana a União Europeia tem um programa específico de incentivo ao uso da bicicleta e ao incremento da deslocação da mobilidade pedonal: o programa TRACE .(http://h2020-trace.eu).
 São várias as cidades portuguesas que desenvolvem projetos de largo alcance no âmbito da redução do uso de veículos alimentados a combustíveis fósseis. A Póvoa de Varzim é uma delas.
Ainda recentemente numa entrevista na TV Porto Canal, durante as Festas de S. Pedro o Presidente da Câmara reforçou publicamente que um dos componentes estratégicos da concretização do lema "É bom viver aqui!" é organizar a atividade na cidade de modo a potenciar a mobilidade pedonal e em bicicleta, reduzindo assim já no presente e para o futuro, a pressão dos veículos a motor sobre a cidade.
A intenção é de louvar, contudo a nossa cidade tal como a maiorias das outras, não foi pensada de raiz para ser assim e então temos de fazer contas sobre quanto nos custa essa reorganização do ambiente e da nossa atividade urbana e calcular a verba necessária para esse investimento no futuro. Conhecidos os montantes em causa e a capacidade de produção de valor da geração presente e das próximas gerações futuras, podemos estimar em quantas "prestações" geracionais, podemos pagar a tão desejada evolução.
Os cálculos mais otimistas baseados no pressuposto de não haver guerras nem grandes catástrofes naturais e de que a produtividade do trabalho cresça muito mais do que o nível de consumo das populações, apontam para lá de 2100 o atingir dessa meta. Ora como esta data já está na zona de alerta vermelho ambiental, corremos o risco de naufragar mesmo à beira da praia.
Mais um facto a chamar a nossa atenção para a necessidade da mudança imediata de hábitos individuais e procedimentos  e projetos coletivos.
Para que os nossos filhos e netos também possam dizer que: "É bom viver aqui!" temos de repensar o urbanismo. No próximo artigo iremos abordar uma das vias para um novo urbanismo, amigo das pessoas e da natureza, consubstanciado no conceito de "Cidades Inteligentes" (Smart Cities http://smart-cities.pt). 

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