Urbanismo e pegada ecológica (Parte 3)
Uma das vias para se conseguir controlar ou mesmo diminuir a pegada ecológica em ambiente urbano é aplicar o conceito de “Cidades Inteligentes” (Smart-Cities) ao planeamento e gestão da cidades.
As cidades atuais são aglomerados muito complexos de infraestruturas interligadas em rede, destinadas a suportar a vida das pessoas em todas as sua vertentes. As principais classes de redes necessárias ao seu bom funcionamento são:
- as redes de transporte (viário, ferroviário, marítimo e aéreo)
- a rede habitacional ( casas, comércios, fábricas, hospitais, escolas, serviços públicos, etc)
- as redes de energia (eletricidade, combustíveis, etc)
- as redes de abastecimento (de água; de alimentos; de matérias primas, etc)
- as redes de tratamento dos detritos (esgotos, lixo, etc)
- a rede de produção de bens e serviços ( tecido económico )
- a rede de governação (gestão dos recursos e das pessoas)
Estas redes garantem a mobilidade de pessoas, bens, serviços e capitais caraterísticas das sociedades abertas modernas. A sua gestão requer recursos avançados de recolha (sensores), transmissão (redes de telecomunicações ) e processamento (máquinas e algoritmos) de dados.
Se definirmos como objetivos da gestão das infra-estruras urbanas a promoção de :
- um modo de vida humanizado com equilíbrio entre o tempos de trabalho, de lazer e de descanso
- uma economia sustentável
- um impacto mínimo no ambiente
Facilmente deduzimos a necessidade do uso de algoritmos especializados na recolha e processamento de quantidades gigantescas de dados, capazes de dotar a gestão humana de instrumentos e meios automáticos de decisão e atuação. Esses algoritmos são aquilo que em linguagem comum moderna se costuma designar por inteligência artificial (IA).
Por sua vez a rede de comunicação de dados mais usada é a Internet (das pessoas que interliga utilizadores humanos e a Internet das coisas - IOT, que interliga as máquinas). A rede de comunicações móveis que suporta a comunicação entre telemóveis, para acomodar as necessidades de comunicação das cidades inteligentes deve ser da 5ª geração (5G) que só começa agora a ser implementada.
É esta junção da rede de sensores que recolhem os dados, com os algoritmos inteligentes que os processam e com a gestão humana que define as estratégias, que determina a inteligência das cidades e a sua aptidão para a prossecução dos objetivos enunciados: modo de vida humanizado, economia sustentável e pegada ecológica mínima.
Segundo o site http://www.smart-cities.eu/?cid=5&city=47&ver=3 (onde podemos ver uma comparação de Coimbra com outras cidades europeias semelhantes) são seis os parâmetros pelos quais aí se avalia a “inteligência” no urbanismo:
- Economia
- População
- Estilo de vida
- Mobilidade
- Ambiente
- Governação
(Imagem do site tirada em 19-07-2019)
O gráfico mostra que os resultados são desfavoráveis à parte portuguesa, quer na comparação entre as 3 cidades, quer em relação à média europeia, o que significa que temos um longo caminho a percorrer na diminuição da nossa pegada ecológica e na gestão eficiente das nossas vidas na cidade.
Se tivéssemos indicadores para comparação da cidade da Póvoa de Varzim com outras cidades portuguesas poderíamos dizer com propriedade quão “bom é viver aqui!”
Na falta desses indicadores gerais apenas poderemos analisar alguns caminhos possíveis que apontem na direção correta e verificar seu nível de implementação aqui na nossa cidade.
Vamos analisar alguns itens nos quais cremos que a evolução dos resultados aponta no sentido da melhoria.
O primeiro parâmetro analisado diz respeito aos resíduos (lixos domésticos, agrícolas e industriais assim como produção de CO2.)
O nosso estilo de vida, claramente integrado na sociedade de consumo atual: a sociedade do descartável, é altamente produtor de resíduos.
De acordo com a publicação no site da Lipor (https://www.lipor.pt/pt/sustentabilidade-e-responsabilidade-social/projetos-de-sustentabilidade/compras-publicas/pegada-ecologica/ consultada em 19-07-2019):
“ A sociedade atual carateriza-se por padrões de consumo exagerados e pela inadequada gestão dos recursos naturais, colocando em risco as gerações futuras. É urgente para o bem comum não gastar mais do que o estritamente necessário no nosso dia-a-dia, de forma a minimizar os desperdícios e, consequentemente, a produção de resíduos ”
Ou seja o objetivo imediato deve ser atingir os 3M (menos resíduos, menos carbono, mais clima)
Nas cidades inteligentes, a gestão dos resíduos que não se possam evitar, tem de ser pensada de raiz, logo na concepção da estrutura da rede de serviços comuns a prestar pelo município aos seus cidadãos.
Os resíduos podem ser:
- reciclados; (recondicionados ou transformados para o fim original),
- reutilizados (como matéria prima para outros fins);
- armazenados e confinados (guardados em sarcófagos seguros posicionados em locais que não constituam perigo para o ambiente)
Mas em primeiro lugar têm de ser recolhidos!
É aqui que se completa a primeira fase do planeamento urbano: a educação cívica dos cidadãos que se iniciou com a formação de uma mentalidade de consumo responsável.
Esses cidadãos inteligentes (smart people) são um componente base das cidades inteligentes e um dos parâmetros normalmente avaliados nos "rankings" como acontece no sitio referido atrás (www.smart-cities.eu).
Sem "cidadãos inteligentes", com elevada formação e sentido cívico, de pouco valem as infraestruturas das redes urbanas e pouco consegue fazer a gestão municipal mesmo que disponha já dos recursos técnicos e humanos adequados.
O município da Póvoa de Varzim em colaboração com a LIPOR tem feito um esforço tanto no sentido da promoção da reutilização (caso dos sacos plásticos), quanto no sentido da separação e recolha seletiva dos resíduos (projeto de recolha seletiva em curso no centro urbano).
Adicionalmente, com promoção das ações de sensibilização nas escolas tentam envolver as crianças e os adolescentes na responsabilização coletiva pelo ambiente.
Podemos argumentar que este esforço é ainda insuficiente, mas mesmo reconhecendo essa insuficiência, considero que se está no bom caminho para sedimentar na população uma mentalidade ecológica.
A segunda questão que merece reflexão dentro deste tema são os resíduos de origem agrícola. Na nossa região como noutras do litoral Português pratica-se uma agricultura intensiva tanto de hortícolas, como de milho e forragens para alimentação de vacas leiteiras em regime de estábulo. Aqui é feito um uso intensivo de pesticidas químicos que pelo uso continuado e às vezes descontrolado, contaminam os solos e as águas subterrâneas. Por sua vez o uso de espécies vegetais transgénicas ou exóticas, contamina a genética dos ecossistemas autóctones, geralmente diminuindo a biodiversidade e instalando espécies invasoras de difícil erradicação.
As águas residuais não tratadas (águas chocas) das vacarias que regularmente os lavradores lançam na terra como adubo, além de provocarem uma intensa poluição olfativa, contribuem fortemente para a contaminação dos lençóis freáticos.
Este tipo de agricultura deixa uma pegada ecológica muito intensa e bastante nociva, pelo que urge procurar soluções para os problemas que levanta.
Outro grande componente dos resíduos urbanos é o dióxido de carbono produzido pela atividade industrial e pelos transportes rodoviários em especial os veículos de transporte individual. Embora a poluição atmosférica na nossa cidade não seja alarmante e a qualidade do ar seja quasse sempre boa, devemos melhorar a oferta de transporte coletivo e promover ativamente o uso dos veículos elétricos para acompanhar a descarbonização da economia preconizada pelas Nações Unidas.
Como se vê pelo exposto anteriormente mesmo numa cidade cujo lema é: "É bom viver aqui!" ainda há um longo caminho a percorrer no sentido da minimização da pégada ecológica, mesmo pela via das cidades inteligentes.
Como nota final recordo a notícia veiculada por quase todos os orgãos de comunicação social no dia 29 de Julho de 2019. A totalidade dos recursos do planeta disponíveis para um uso regrado durante um ano foi consumida até até esse dia, sendo que a quota desses mesmos recursos alocada aos países mais desenvolvidos entre os quais Portugal se pode incluir foi consumida até ao fim de Maio passado. Para garantirmos a sobrevivência da vida da humanidade e da nossa civilização precisaríamos de quase duas terras e meia. É um facto muito preocupante que demostra que tem de ser feito um esforço muito maior do que o atual na educação ambiental das pessoas, de modo a que a população urbana possa ser considerada ambientalmente inteligente (smart people).
Uma das vias para se conseguir controlar ou mesmo diminuir a pegada ecológica em ambiente urbano é aplicar o conceito de “Cidades Inteligentes” (Smart-Cities) ao planeamento e gestão da cidades.
As cidades atuais são aglomerados muito complexos de infraestruturas interligadas em rede, destinadas a suportar a vida das pessoas em todas as sua vertentes. As principais classes de redes necessárias ao seu bom funcionamento são:
- as redes de transporte (viário, ferroviário, marítimo e aéreo)
- a rede habitacional ( casas, comércios, fábricas, hospitais, escolas, serviços públicos, etc)
- as redes de energia (eletricidade, combustíveis, etc)
- as redes de abastecimento (de água; de alimentos; de matérias primas, etc)
- as redes de tratamento dos detritos (esgotos, lixo, etc)
- a rede de produção de bens e serviços ( tecido económico )
- a rede de governação (gestão dos recursos e das pessoas)
Estas redes garantem a mobilidade de pessoas, bens, serviços e capitais caraterísticas das sociedades abertas modernas. A sua gestão requer recursos avançados de recolha (sensores), transmissão (redes de telecomunicações ) e processamento (máquinas e algoritmos) de dados.
Se definirmos como objetivos da gestão das infra-estruras urbanas a promoção de :
- um modo de vida humanizado com equilíbrio entre o tempos de trabalho, de lazer e de descanso
- uma economia sustentável
- um impacto mínimo no ambiente
Facilmente deduzimos a necessidade do uso de algoritmos especializados na recolha e processamento de quantidades gigantescas de dados, capazes de dotar a gestão humana de instrumentos e meios automáticos de decisão e atuação. Esses algoritmos são aquilo que em linguagem comum moderna se costuma designar por inteligência artificial (IA).
Por sua vez a rede de comunicação de dados mais usada é a Internet (das pessoas que interliga utilizadores humanos e a Internet das coisas - IOT, que interliga as máquinas). A rede de comunicações móveis que suporta a comunicação entre telemóveis, para acomodar as necessidades de comunicação das cidades inteligentes deve ser da 5ª geração (5G) que só começa agora a ser implementada.
É esta junção da rede de sensores que recolhem os dados, com os algoritmos inteligentes que os processam e com a gestão humana que define as estratégias, que determina a inteligência das cidades e a sua aptidão para a prossecução dos objetivos enunciados: modo de vida humanizado, economia sustentável e pegada ecológica mínima.
Segundo o site http://www.smart-cities.eu/?cid=5&city=47&ver=3 (onde podemos ver uma comparação de Coimbra com outras cidades europeias semelhantes) são seis os parâmetros pelos quais aí se avalia a “inteligência” no urbanismo:
- Economia
- População
- Estilo de vida
- Mobilidade
- Ambiente
- Governação
(Imagem do site tirada em 19-07-2019)
O gráfico mostra que os resultados são desfavoráveis à parte portuguesa, quer na comparação entre as 3 cidades, quer em relação à média europeia, o que significa que temos um longo caminho a percorrer na diminuição da nossa pegada ecológica e na gestão eficiente das nossas vidas na cidade.
Se tivéssemos indicadores para comparação da cidade da Póvoa de Varzim com outras cidades portuguesas poderíamos dizer com propriedade quão “bom é viver aqui!”
Na falta desses indicadores gerais apenas poderemos analisar alguns caminhos possíveis que apontem na direção correta e verificar seu nível de implementação aqui na nossa cidade.
Vamos analisar alguns itens nos quais cremos que a evolução dos resultados aponta no sentido da melhoria.
O primeiro parâmetro analisado diz respeito aos resíduos (lixos domésticos, agrícolas e industriais assim como produção de CO2.)
O nosso estilo de vida, claramente integrado na sociedade de consumo atual: a sociedade do descartável, é altamente produtor de resíduos.
De acordo com a publicação no site da Lipor (https://www.lipor.pt/pt/sustentabilidade-e-responsabilidade-social/projetos-de-sustentabilidade/compras-publicas/pegada-ecologica/ consultada em 19-07-2019):
“ A sociedade atual carateriza-se por padrões de consumo exagerados e pela inadequada gestão dos recursos naturais, colocando em risco as gerações futuras. É urgente para o bem comum não gastar mais do que o estritamente necessário no nosso dia-a-dia, de forma a minimizar os desperdícios e, consequentemente, a produção de resíduos ”
Ou seja o objetivo imediato deve ser atingir os 3M (menos resíduos, menos carbono, mais clima)
Nas cidades inteligentes, a gestão dos resíduos que não se possam evitar, tem de ser pensada de raiz, logo na concepção da estrutura da rede de serviços comuns a prestar pelo município aos seus cidadãos.
Os resíduos podem ser:
- reciclados; (recondicionados ou transformados para o fim original),
- reutilizados (como matéria prima para outros fins);
- armazenados e confinados (guardados em sarcófagos seguros posicionados em locais que não constituam perigo para o ambiente)
Mas em primeiro lugar têm de ser recolhidos!
É aqui que se completa a primeira fase do planeamento urbano: a educação cívica dos cidadãos que se iniciou com a formação de uma mentalidade de consumo responsável.
Esses cidadãos inteligentes (smart people) são um componente base das cidades inteligentes e um dos parâmetros normalmente avaliados nos "rankings" como acontece no sitio referido atrás (www.smart-cities.eu).
Sem "cidadãos inteligentes", com elevada formação e sentido cívico, de pouco valem as infraestruturas das redes urbanas e pouco consegue fazer a gestão municipal mesmo que disponha já dos recursos técnicos e humanos adequados.
O município da Póvoa de Varzim em colaboração com a LIPOR tem feito um esforço tanto no sentido da promoção da reutilização (caso dos sacos plásticos), quanto no sentido da separação e recolha seletiva dos resíduos (projeto de recolha seletiva em curso no centro urbano).
Adicionalmente, com promoção das ações de sensibilização nas escolas tentam envolver as crianças e os adolescentes na responsabilização coletiva pelo ambiente.
Podemos argumentar que este esforço é ainda insuficiente, mas mesmo reconhecendo essa insuficiência, considero que se está no bom caminho para sedimentar na população uma mentalidade ecológica.
A segunda questão que merece reflexão dentro deste tema são os resíduos de origem agrícola. Na nossa região como noutras do litoral Português pratica-se uma agricultura intensiva tanto de hortícolas, como de milho e forragens para alimentação de vacas leiteiras em regime de estábulo. Aqui é feito um uso intensivo de pesticidas químicos que pelo uso continuado e às vezes descontrolado, contaminam os solos e as águas subterrâneas. Por sua vez o uso de espécies vegetais transgénicas ou exóticas, contamina a genética dos ecossistemas autóctones, geralmente diminuindo a biodiversidade e instalando espécies invasoras de difícil erradicação.
As águas residuais não tratadas (águas chocas) das vacarias que regularmente os lavradores lançam na terra como adubo, além de provocarem uma intensa poluição olfativa, contribuem fortemente para a contaminação dos lençóis freáticos.
Este tipo de agricultura deixa uma pegada ecológica muito intensa e bastante nociva, pelo que urge procurar soluções para os problemas que levanta.
Outro grande componente dos resíduos urbanos é o dióxido de carbono produzido pela atividade industrial e pelos transportes rodoviários em especial os veículos de transporte individual. Embora a poluição atmosférica na nossa cidade não seja alarmante e a qualidade do ar seja quasse sempre boa, devemos melhorar a oferta de transporte coletivo e promover ativamente o uso dos veículos elétricos para acompanhar a descarbonização da economia preconizada pelas Nações Unidas.
Como se vê pelo exposto anteriormente mesmo numa cidade cujo lema é: "É bom viver aqui!" ainda há um longo caminho a percorrer no sentido da minimização da pégada ecológica, mesmo pela via das cidades inteligentes.
Como nota final recordo a notícia veiculada por quase todos os orgãos de comunicação social no dia 29 de Julho de 2019. A totalidade dos recursos do planeta disponíveis para um uso regrado durante um ano foi consumida até até esse dia, sendo que a quota desses mesmos recursos alocada aos países mais desenvolvidos entre os quais Portugal se pode incluir foi consumida até ao fim de Maio passado. Para garantirmos a sobrevivência da vida da humanidade e da nossa civilização precisaríamos de quase duas terras e meia. É um facto muito preocupante que demostra que tem de ser feito um esforço muito maior do que o atual na educação ambiental das pessoas, de modo a que a população urbana possa ser considerada ambientalmente inteligente (smart people).
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