16 março 2020

Da Guerra - 2

O vírus COVID19 como arma de combate

Numa guerra de nível 3 ou seja uma guerra contra um inimigo do qual conhecemos ou podemos intuir a estrutura e funcionamento, ou seja a sua organização funcional, consomem-se muito menos recursos se bloquearmos ou modificarmos o seu funcionamento em vez de lutarmos corpo a corpo ( frente a frente) com ele numa luta simétrica. É este o atual conceito de guerra: a chamada guerra híbrida. Vide um artigo de divulgação em:
https://dinamicaglobal.wordpress.com/2016/08/31/entendendo-a-guerra-hibrida-uma-analise-explicativa-traz-a-definicao-de-guerra-nao-guerra-paz-e-tipos-de-guerra/ 
É minha convicção de que a maioria dos vírus existentes na natureza são armas de combate remoto entre espécies. A espécie hospedeira, o reservatório do vírus, ganha vantagem sobre outras espécies concorrentes para as quais este é prejudicial ou letal.  Por um custo diminuto, elimina ou afasta as espécies concorrentes.
Além disso, os vírus continuam a sua ação mesmo que o ser emissor já esteja morto, podendo mesmo tornar-se autónomo em relação à espécie que o lançou em combate – é o "drone" perfeito com a inteligência necessária para o fim a que se destina. Para a sua deslocação não usa recursos dos seres emissores e para a sua multiplicação usa recursos do alvo inimigo.
Os vírus são os verdadeiros super soldados, perfeitamente aptos para a “ação para lá do horizonte” ou guerra profunda, como é designada nas teorias militares modernas.(1) (2)
Na vida, a ação dos vírus tem uma função ecológica importante que é limitar os predadores de uma espécie, em número e em capacidade.
O ser humano não tem espécies predadoras; nenhuma espécie depende do ser humano como alimento. O ser humano atual é o super-predador desta época no planeta terra. Nós levamos a ação de predador a níveis nunca anteriormente observados na história conhecida da vida.  A Humanidade colonizou o planeta e modificou o ambiente e muitas espécies para o servirem. A Humanidade estendeu o conceito ecológico de cadeia alimentar para “cadeia de suporte ou subsistência não só dos indivíduos como da  sua super estrutura social”, tornando-se um predador de um tipo novo. Elimina espécies concorrentes na cadeia alimentar ao mesmo tempo que modifica outras incluindo-as nas suas cadeias: alimentar e ou de subsistência.
A maior parte das vezes isso não foi feito de modo planificado, com estudo dos benefícios e custos colaterais. Simplesmente aconteceu, até de modo aleatório.
  A Humanidade ao adaptar o ambiente em função das suas necessidades imediatas ou de curto prazo, interferiu fortemente nas cadeias tróficas do sistema ecológico planetário, levando a uma extinção direta e indireta de milhares de espécies, sem pagar na devida altura, o custo da reposição das condições iniciais (apagar ou de qualquer forma compensar a pegada ecológica). Essa dívida cujo custo foi sempre postergado, atingiu atualmente valores incomportáveis para o ambiente planetário e a natureza está agora a exigir-nos esse pagamento de múltiplas formas.
       Para agravar a nossa guerra contra outras espécies e até intra espécie, iniciamos a manipulação genética das espécies (incluindo a nossa ) e a manipulação genética e produção de vírus usados para fins intra espécie incluindo a guerra.
       Ou seja, iniciamos a produção de armas e meios de luta de nível 3, sem o conhecimento consolidado de tais artefactos e das consequências do seu uso, especialmente as consequências de longo prazo.
       Globalmente estamos a comportar-nos como aprendizes de feiticeiro. (até tentamos fazer profecias!) vide a série de artigos
       https://penanet.blogspot.com/2017/06/aprendizes-de-feiticeiro.html
       e seguintes sobre o mesmo tema.
       Aqueles que pensam que todos os problemas se resolvem campo da luta militar, os chamados falcões, têm frequentemente a tentação de desenvolver  e usar “lanças” para as quais o inimigo ainda não tenha o escudo adequado. A intenção do uso de armas e ações de guerra de nível 3 é muito forte e generalizada no mundo ocidental, que pensa que o escudo atómico e as armas de precisão de nível 2 de que dispõem, impede a retaliação com armamento convencional e ações generalizadas de nível 2.  Reavivam o pior espírito de guerra fria.
       Por outro lado, a maioria dessa classe de políticos, conotados com o neoliberalismo económico da escola de Chicago e com ideologias populistas defensoras do estado totalitário, (Steve Bannon e Trumpismo) do supremacismo de classe ou étnico e da governação por um líder messiânico, advoga a terapia do choque  (https://pt.wikipedia.org/wiki/Terapia_de_choque_ (economia)
       como forma de justificar a aniquilação da oposição interna. Este método de transformação social e luta contra o inimigo interno, usou e usa de forma intensiva armas de software de nível 3 e suspeita-se que está a começar a usar também armas “biológicas” desse nível para atingir os seus objetivos, dos quais, o mais ambicioso é a criação de uma nova espécie de super-homens, para dominar o planeta e o espaço alcançável.
       Podendo a humanidade estar às portas de uma especiação (diferenciação de espécies) e os recursos existentes no planeta não suportarem a presença de duas espécies super predadoras, é mais do que natural que a sub-espécie mais desenvolvida use também os vírus como arma para enfraquecer o mesmo eliminar o inimigo interno.
       Nesse sentido penso que os dados disponíveis sobre o vírus SARS-Cov2 e sobre a doença que provoca : a COVID19 , ao apontarem para a origem artificial (ou de causa humana ) da PANDEMIA , (mesmo que o vírus tenha aparecido  primeiro na natureza)  pelo menos em parte: como na forma de difusão, parece enquadrar-se no conceito de vírus de luta entre espécies.
       Para testar-mos esta hipótese socorremo-nos dos dados de observações epidemiológicas difundidos publicamente através das redes sociais científicas e das redes sociais de lazer como os seguintes:
       1 - https://dinamicaglobal.wordpress.com/2020/03/10/coronavirus-da-china-uma-atualizacao-chocante-o-virus-se-originou-nos-eua-relatorios-do-japao-china-e-taiwan-sobre-a-origem-do-virus/
       2 - https://observador.pt/especiais/a-matematica-que-explica-o-tsunami-europeu-e-portugues/
       3 - https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=3374654089216560&id=100000160060056

Continua.....
(1) Georgii Isserson, foi um teórico da “batalha profunda” (sobre a qual escrevi em Deep Battle and the Culture of War (A Batalha em Profundidade e a Cultura da Guerra) e o autor de dois tratados importantes, The Evolution of Operational Art (A Evolução da Arte Operacional) de 1932 e 1937, e Fundamentals of the Deep Operation (Fundamentos da Operação em Profundidade), de 1933.
…..
(2) A tradução do artigo acima citado pelo general Gerasimov foi postada no Facebook por Robert Coalson (o texto original russo também está disponível). É uma obra de grande visão militar, admirável em sua clareza analítica. Nesta tradução lemos:
       “O foco dos métodos aplicados de conflito alterou na direção da ampla utilização de medidas políticas, económicas, informativas, humanitárias e outras não militares – aplicada em coordenação com o potencial de protesto da população. Tudo isto é complementado por meios militares de um personagem oculto, incluindo a realização de ações de conflito informacional e as ações das forças de operações especiais. O uso aberto de forças – muitas vezes sob o disfarce de manutenção da paz e regulação de crise – é utilizado apenas em um certo estágio, principalmente para o alcance do sucesso final no conflito”
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14 março 2020

Da Guerra - 1

DA GUERRA E OUTRAS EMERGÊNCIAS CATASTRÓFICAS


Nesta sexta feira 13 de Março de 2020, estamos a viver em pleno a primeira grande situação de emergência sanitária, económica e social, planetária deste século, que mais cedo do que se pensa, se tornará uma emergência política global. (Oxalá me engane!)
Quando qualquer emergência se torna política, muita gente, em especial a do círculo do poder, tem a tentação de usar para solucionar os problemas, a extensão da política designada por guerra (Lao-Tse e Sun-Tsu em “ A arte da guerra” ; Von Clauswitz “ Da Guerra”). E debaixo do terror infundido pela situação de emergência a população em geral fica predisposta aceitar um líder salvador que atue em nome de interesses superiores ou divinos. Não é por acaso que as grandes ideologias messiânicas do Sec XX se apoiaram maioritariamente no seguimento de um líder carismático, na maior parte das vezes um ditador que se serviu ou ainda serve, do populismo e da visão simplista e maniqueista do mundo, para dar esperança às massas dos seus países que atravessavam períodos de stress social extremo.
Então se estamos ou nos espera uma situação de guerra o melhor é estarmos bem esclarecidos sobre essa coisa catastrófica que é a guerra.

Em primeiro lugar vamos definir essa coisa que é a guerra.

Não será com certeza a definição canónica de Carl Phillip Gottlieb von Clausewitz, pois a guerra como extensão da política ou uma forma de fazer política por outros meios é aplicável apenas às sociedades humanas organizadas. Complementarmente Von Clausewitz também definiu a guerra como “um ato de violência destinada a obrigar o adversário a cumprir a nossa vontade.” O que não deixa de ser etimologicamente a assunção de que um dos beligerantes, o vencedor, cessa a violência dos atos de guerra, quando os outros se declarem submissos à sua vontade. Isto é jogo político puro, dentro do pressuposto de Lazarus Long personagem de vários livros de SciFi do escritor Robert Heinlein que no seu livro Bloco de Notas de Lazarus Long afirma “ o homem é uma espécie que não tem predador natural em toda a galáxia pelo que tem de ser a própria espécie a fornecer os seus predadores”.

Para o âmbito desde artigo é necessário definir guerra de um modo mais geral. A minha sugestão é que “guerra é todo o conjunto de ações de uma entidade individual ou coletiva destinada a obter para si o controlo de recursos escassos, em detrimento de outras entidades que necessitem dos mesmos recursos”.
A guerra é ela própria uma consumidora de recursos que limitam as disponibilidades globais.  
Na guerra os beligerantes são designados por inimigos.

Assim, em termos biológicos, de acordo com esta definição, existem guerras intraespécie (guerras entre indivíduos ou grupos ou organizações da mesma espécie) e guerras interespécies. 
 
As guerras são o procedimento que implementa a lei da seleção natural de Charles Darwin na evolução das espécies. 

A guerra intraespécie destina-se a propagar os genes mais aptos, através das linhagens mais bem sucedidas no controlo dos recursos escassos. Isso em geral melhora a adaptação das espécies às condições do ambiente, permitindo a maximização do usufruto dos recursos. 

Ao longo da sua existência na terra, a vida encontrou muitas estratégias para cumprir o seu objetivo : - a maximização da quantidade e variabilidade de genes transmitidos à próxima geração. Vou enumerar algumas das mais usadas.

No caso da luta intraespécie:

1- Luta entre machos ou fêmeas dominantes pelo controlo de recursos.
2 – Caça e domínio territorial em grupo (enxames e outras formas de usufruto coletivo de recursos).
3 – No caso da espécie humana, formação organizações sociais: cidades, estados e organizações de estados.

No caso da luta interespécies:

1 – Combate entre indivíduos de espécies diferentes com o objetivo da aniquilação do inimigo sem o utilizar a ele ou aos seus recursos, para suprir as suas próprias necessidades.
2 - Combate entre indivíduos de espécies diferentes com o objetivo de expulsar o inimigo para outros territórios ou outros nichos de recursos.
3 – Exploração cooperativa ou simbiótica assimétrica dos recursos do inimigo passando este à condição de dependente
4 – Parasitismo: roubar para si recursos obtidos ou fabricados por outros indivíduos sem necessidade da sua morte imediata.
5 – Predador em cadeia alimentar: aniquilar o inimigo individual, com o objetivo de o utilizar a ele ou aos seus recursos, como matéria prima da sua alimentação. Na cadeia alimentar, nunca se procura eliminar completamente a espécie inimiga, mas apenas condicionar o número dos seus elementos às necessidades da espécie predadora.

Em suma o objetivo final guerra é terminar a luta com uma paz vantajosa para o vencedor, pois esta, no fundo, atrasa a expansão das espécies beligerantes. Isto é a guerra justificada pela biologia.

Definida a guerra e enumeradas as formas mais comuns, vamos tratar dos objetos e meios usados na guerra. Devido ao seu grande número e diversidade vou apresentá-los agrupados em classes ou níveis.

Nível Zero
Neste nível, os indivíduos lutam utilizando como arma os recursos do seu próprio corpo: energia, membros, e produtos químicos.
Exemplo: dar pancadas, morder, lançar ou injetar venenos, comer os ovos ou as crias etc.

Nível Um
Neste nível os indivíduos lutam utilizando como arma recursos externos ao seu próprio corpo no estado em que eles se encontram na natureza.
Exemplo: dar pancadas com pedras e paus, deixar cair as vítimas para os matar.

Nível Dois
Neste nível os indivíduos lutam utilizando como arma recursos externos ao seu próprio corpo, manufaturando objetos por transformação de matérias que se encontram na natureza.
Exemplo: Espadas, lanças , escudos, veículos, armas de fogo, bombas atómicas, armas químicas, etc.


Nível Três
Neste nível os indivíduos lutam utilizando como arma recursos e internos externos ao seu próprio corpo, manufaturando objetos e procedimentos ou informação atuante (1) que interfiram com a organização das atividades internas ou com a organização social ou coletiva do inimigo, difundindo essa informação atuante (1) ou utilizando máquinas cibernéticas para a sua difusão ou introdução na estrutura dos indivíduos ou das organizações inimigas por forma a manipular atuação, as decisões ou a estrutura funcional do inimigo.
Exemplo: Vírus informáticos ou biológicos, programas ou procedimentos interferentes, notícias falsas, camaleonismo e mimetização de outras espécies.

(1) Chama-se informação atuante ao conjunto de dados ou instruções que possam ser executadas ou processadas por um sistema processador para produzir efeitos pré-determinados pela mesma informação.

Em geral na guerra de nível 3, os custos energéticos, materiais e a quantidade de informação envolvidos, são de valor pouco significativo em relação aos efeitos que produzem no inimigo.
Este é o tipo de guerra mais eficaz e mais barato que os indivíduos, as organizações ou as espécies dispôem para atingir os seus objetivos de aniquilação ou sujeição do inimigo.

Os vírus são a arma de eleição para a guerra entre espécies, ou entre organizações. Na realidade são “drones” biológicos autónomos capazes de atuar sozinhos contra o inimigo remoto levando esse inimigo a reproduzir os soldados que são os carrascos da sua própria destruição. Na guerra com armas de nível três não explodimos o inimigo, fazemo-lo implodir, submetendo-o aos nossos próprios desígnios, sem gastarmos os nossos próprios recursos materiais ou energéticos e quase sem alterar a nossa estrutura funcional.

Continua …..
Na segunda parte deste artigo será analisado em particular, à luz desta visão, o caso do COVID 19

10 março 2020

Tempos perigosos

Procuram-se líderes com coragem para governar em situações de emergência global

Governar em épocas de tensão militar, económica, ou social, causadas pelo homem ou pela natureza, exige dos que detêm o poder, além da capacidade técnica e prudência, uma capacidade de decisão rápida e assertiva.
Nestas situações, não se pode governar esperando que o tempo resolva ou acabe por apontar a melhor solução. Em situações de tensão extrema a janela temporal de oportunidade para tomar a decisão certa é muito estreita: às vezes apenas uma questão de minutos.
Era por isso que já há cerca de 2500 anos, na pátria berço da democracia: a Grécia, se substituía a decisão colegial participada dos cidadãos, pela decisão baseada na genialidade de um chefe todo poderoso, muitas vezes um ditador.
Note-se que eu sou republicano e democrata convicto e não sou adepto de monarquias ou ditaduras. Acredito na bondade genérica da decisão colegial mesmo que esse colégio seja socialmente restrito como um parlamento.
Contudo, em situações de crise, a necessidade de uma decisão assertiva e atempada, já então não se compadecia, nem agora se compadece, com os jogos da negociação política democrática dos tempos de normalidade social, necessariamente morosos a obter decisões por maioria expressiva ou por consenso alargado.
A política é jogada num jogo de interesses de pessoas e grupos que de forma legítima procuram alargar a sua influência ou o seu poder na sociedade. No jogo político tradicional,  cada parte procura obter vantagem imediata, na esperança de a poder conservar a longo prazo. Raramente se planeia a melhoria sustentada das condições de todos a longo prazo. Na cultura popular diz-se que não importa que eu esteja mal, se os outros estiverem pior do que eu. 
A política tradicional joga-se bem quando os adversários são conhecidos e relativamente próximos de nós, em relação aos quais podemos prever ou traçar cenários do seu comportamento, durante um período suficientemente alargado, bem dentro das janelas de oportunidade temporal das das nossas ações.
Quando o decisor se depara com situações imprevistas, com dados que não têm semelhança com a experiência passada, tende na mesma a decidir por analogia, embora possa apresentar alguma criatividade, e, tendo tempo suficiente, pode aprimorar a sua decisão pelo método das aproximações sucessivas, também conhecido por método da tentativa, erro e correção. O grande problema é que nas situações de grande urgência e gravidade, muitas vezes não há tempo para aplicar este método.
Quando se falha morre-se e fora dos jogos virtuais, no mundo real só temos uma vida.
Nesta já pandemia da pneumonia viral COVID-19, estamos numa situação de emergência global, em que se enfrenta um inimigo quase desconhecido, apesar do seu nome genérico ser igual ao de um inimigo bem conhecido: a gripe.
Isto exige decisões rápidas, assertivas e corajosas por parte dos governantes e oposições democráticas. Foi isso que falhou e continua a falhar. A classe política  e as classes economicamente dominantes, continuam a fazer os seus joguinhos, como se tivessem todo o tempo do mundo e fosse possível ganhar ou perder, sem consequências globais e potencialmente fatais para muitas pessoas, setores da sociedade, regiões e países. E isto acontece apesar da única solução possível com resultados favoráveis, ser bem conhecida nos seus efeitos positivos e efeitos colaterais negativos.
A única solução atualmente, e desde o início, sempre disponível para os decisores, chama-se contenção e isolamento, que bloqueia, restringe e atrasa a propagação da onda epidémica, durante o tempo necessário para se encontrar outra solução por intermédio das ciências da saúde.
É claro que esta solução tem efeitos colaterais e custos sociais e económicos elevados, mas mesmo assim muito menores a longo prazo, do que os da solução adotada pelos governantes e políticos europeus incluindo os nossos. Eles optaram por deixar a epidemia difundir-se baseados no princípio cínico de que numa guerra, entre mortos e feridos alguém há de escapar.
Uma das considerações que se ouve até na comunicação social, é que esta epidemia só é mais perigosa para as pessoas de idade e com doenças crónicas, em especial as que causem imunodepressão e que comparada com a gripe normal até tem havido menos mortos. Esta afirmação além de um cinismo intrínseco pelo desprezo manifestado pelas gerações mais idosas, passa subrepticiamente a mensagem de que esta classe de cidadãos já são socialmente descartáveis e por isso a sua morte até pode trazer, a médio prazo, benefício económico para a sociedade pela diminuição dos encargos sociais que se tornaram cada vez maiores devido ao envelhecimento populacional acelerado nos países economicamente mais desenvolvidos.
Esta atitude quer dos governantes quer dos líderes da classe política e dos líderes dos setores económicos mais importantes (grandes empresas), norteou ao ação dos que detêm o poder, desde o início do surto em 31-12 2019, até pelo menos 09-03-2020, data em que num país inteiro: a Itália, foi decretada  quarentena.
Foi este atraso na decisão, esta falta de coragem, esta falta de visão estratégica, esta negligência dos governantes e líderes político - económicos, focados no lucro imediato e na esperança de que a desgraça só batesse à porta dos outros, especialmente dos mais desfavorecidos económica e socialmente, que fez com que um surto localizado e controlável no seu início, se tornasse uma pandemia global que vai atingir toda a humanidade, em todos os lugares deste planeta, causando fatalidades, crise económica, caos social e sabe-se lá o que mais, se no curto período dos 2 a 3 próximos meses, não for encontrada uma vacina ou tratamento eficazes.
Para a classe política, é habitual que a culpa morra solteira ou que seja passada para a globalidade dos cidadãos, isentando das responsabilidades pelos seus atos ou omissões todos os que exercem o poder.
Contudo, eu e muitos outros estudiosos, já demonstramos que o custo da reposição das condições iniciais, ou seja o apagar do rasto das nossas ações sobre a Terra, é um valor que é obrigatório ter em conta em toda a atividade humana, não podendo o seu pagamento ser postergado para um futuro para lá do horizonte temporal dessas atividades, sob a pena de causar grandes catástrofes sociais e ambientais. Este custo de reposição das condições anteriores ao início da epidemia, seria globalmente comportável, se esta ficasse contida num só país, mesmo que este seja economicamente importante em quase todos os setores da atividade económica e financeira. Não pagar esse custo no início, mantendo abertas fronteiras, não iniciando atempadamente medidas de contenção drásticas e e não ativar medidas de solidariedade entre estados, levou à situação de descontrolo atual que terá custos globais milhares de vezes maiores.

Vide http://penanet.blogspot.com/2011/10/reposicao-das-condicoes-iniciais-e.html
(citação):
“… há uma outra classe de custos que é o do apagar a pegada da nossa passagem pelo mundo, repondo as condições iniciais do enquadramento ambiental e social que permitiram a continuidade da produção e a continuidade das gerações humanas e demais seres vivos.
Esse custo é chamado de REPOSIÇÃO DAS CONDIÇÕES INICIAIS. ...”
Ver também  http://penanet.blogspot.com/2018/11/os-custos-escondidos-da-reconstrucao-da.html
e vários outros artigos no mesmo blog onde é abordado o custo dos bens e serviços.

A necessidade de medidas corajosas de contenção, como a restrição da mobilidade de pessoas mercadorias e capitais, advém diretamente das características particulares deste surto e da sua propagação em ambiente de uma sociedade de consumo urbana e globalizada, como passo a demonstrar nos próximos parágrafos, em que analiso um cenário plausível, baseado em dados médios, publicamente aceites para descrever a sociedade e situação atuais.
Infelizmente estão a materializar-se as minhas piores previsões. Esta doença já não é mais um surto local confinado e controlável, mas sim uma pandemia que até pode ficar fora de controlo.
Segundo as informações disponíveis ao dia de hoje 10-03-2020 às 9 h, há 114 544 pessoas doentes confirmadas, com um total de 4026 mortos e apenas 64031 recuperados, o que significa que dos atuais doentes ainda podem morrer mais.
A taxa de mortalidade registada atual é de 3,5 % ou seja cerca de 10 a 30 vezes a taxa média da gripe normal (0,1 – 0,3 %). Na Itália a taxa de mortalidade é muito preocupante mais de 5%. Esta epidemia já está já espalhada por  mais de 100 países com contágios locais iniciados e a crescer.
Devido ao elevado tempo de latência (tempo de incubação médio 14 dias) a onda de expansão do contagio é exponencial, pois mesmo que apenas 5% dos contactos diários de proximidade de uma pessoa urbana (em média cerca de 70) sejam infetados, temos em média arredondada de 4 casos novos por cada doente, em cada 7 dias, se admitirmos que apenas se dá o contágio em metade do tempo de latência ( e nem precisam de ter contacto muito próximo como no caso do professor de música do ISMAI ou da professora da escola da Amadora que vieram da Itália sem notarem que estiveram próximos de pessoas doentes).
A fórmula que nos dá o número de infetados em expansão sem contenção, ao fim de um certo número de semanas, é: Infetados=Novos casos por pessoa por semana Exp (Nº de Semanas).

Exm:
Estamos a 8,5 semanas depois do aviso de novo vírus, portanto o nº total de infetados deveria ser =4x4x4x4x4x4x4x4 ( quatro elevado à oitava potência e meia) = 131 072 . Como apenas temos confirmados 114 544,  significa que  as medidas de contenção já estão a ter os seus efeitos.
Contudo, se a taxa de contágio for um pouco superior, isto é se admitirmos que 10% dos contactos ( sete pessoas por doente por semana, apanham o vírus, teríamos  Infetados=7 Exp 8,5= 15 252 230 pessoas (cerca de 133 vezes mais). Isto significa que tivemos uma forte contenção inicial.
Mas à medida que o contagio vai sendo mais disperso pelo mundo, em especial pelo mundo ocidental, em que há uma tradição de liberdade de circulação, o número real de doentes irá ficar mais próximo do valor teórico mais desfavorável.
Se não houver medidas de contenção corajosas, na segunda semana do quinto mês, já estarão contaminados praticamente todos os habitantes do planeta e já haverá contaminações repetidas ( mais de 10 mil milhões de contaminados e a população humana são cerca de 9 mil milhões).
Se conseguirmos manter a mesma taxa de contenção, mesmo assim, poderemos ter, já a meio de Abril, cerca de 268 milhões de pessoas infetadas e o número incrível de 939 mil mortos.
Estes números não são para assustar ninguém, mas servem apenas para mostrar que individualmente temos todos de contribuir para aumentar a taxa de contenção (a única salvação que temos), já que os políticos por causa da sua subordinação cega aos interesses económicos imediatos, não fizeram, não estão a fazer, e até parece que nem planeiam ações mais drásticas do que as que fizeram até agora.
Nesse sentido considero que o fecho de fronteiras, o recolher obrigatório, a suspensão dos mercados de capitais e o controlo apertado dos movimentos de capitais,  são as medidas mais úteis para bloquear a expansão da doença e conter o caos económico e social que começa a instalar-se, enquanto não aparecer uma vacina ou remédios eficazes.  Terá de haver coragem para as implementar no mundo ocidental em que vivemos ou teremos de enfrentar uma catástrofe social e económica de proporções ciclópicas.
Estou seriamente preocupado com todos nós.
Como se diz na China: “Estamos a viver tempos interessantes!” , e eu acrescento: “Mas muito perigosos!”