DA GUERRA E OUTRAS EMERGÊNCIAS CATASTRÓFICAS
Nesta sexta feira 13
de Março de 2020, estamos a viver em pleno a primeira grande situação
de emergência sanitária, económica e social, planetária deste
século, que mais cedo do que se pensa, se tornará uma emergência
política global. (Oxalá me engane!)
Quando qualquer
emergência se torna política, muita gente, em especial a do círculo
do poder, tem a tentação de usar para solucionar os problemas, a
extensão da política designada por guerra (Lao-Tse e Sun-Tsu em “
A arte da guerra” ; Von Clauswitz “ Da Guerra”). E debaixo do
terror infundido pela situação de emergência a população em
geral fica predisposta aceitar um líder salvador que atue em nome
de interesses superiores ou divinos. Não é por acaso que as grandes
ideologias messiânicas do Sec XX se apoiaram maioritariamente no
seguimento de um líder carismático, na maior parte das vezes um
ditador que se serviu ou ainda serve, do populismo e da visão
simplista e maniqueista do mundo, para dar esperança às massas dos
seus países que atravessavam períodos de stress social extremo.
Então se estamos ou
nos espera uma situação de guerra o melhor é estarmos bem
esclarecidos sobre essa coisa catastrófica que é a guerra.
Em primeiro lugar
vamos definir essa coisa que é a guerra.
Não será com certeza a
definição canónica de Carl Phillip Gottlieb von
Clausewitz, pois
a guerra como extensão da política ou uma forma de fazer política
por outros meios é aplicável apenas às sociedades humanas
organizadas. Complementarmente
Von Clausewitz também definiu a guerra como “um
ato de violência destinada a obrigar o adversário a cumprir a nossa
vontade.” O
que não deixa de ser etimologicamente a assunção de que um dos
beligerantes, o vencedor, cessa a violência dos atos de guerra,
quando os outros se declarem submissos à sua vontade. Isto é jogo
político puro,
dentro do pressuposto de Lazarus Long personagem de vários livros de
SciFi do escritor
Robert Heinlein que no seu livro Bloco de Notas de Lazarus Long
afirma “ o homem é uma espécie que não tem
predador natural em toda a galáxia pelo que tem de ser a própria
espécie a fornecer os seus predadores”.
Para
o âmbito desde artigo é necessário definir guerra de um modo mais
geral. A minha sugestão é que “guerra é todo
o conjunto de ações de uma entidade individual ou coletiva
destinada a obter para si o controlo de recursos escassos, em
detrimento de outras entidades
que necessitem dos mesmos recursos”.
A guerra é
ela própria uma consumidora de recursos que limitam as
disponibilidades globais.
Na guerra os
beligerantes são designados por inimigos.
Assim,
em termos biológicos, de acordo com esta definição, existem
guerras intraespécie (guerras entre indivíduos ou grupos ou
organizações da mesma espécie) e guerras interespécies.
As guerras são o
procedimento que implementa a lei da seleção natural de Charles
Darwin na evolução das espécies.
A guerra
intraespécie destina-se a propagar os genes mais aptos, através das
linhagens mais bem sucedidas no controlo dos recursos escassos. Isso
em geral melhora a adaptação das espécies às condições do
ambiente, permitindo a maximização do usufruto dos recursos.
Ao longo da sua
existência na terra, a vida encontrou muitas estratégias para
cumprir o seu objetivo : - a maximização da quantidade e
variabilidade de genes transmitidos à próxima geração. Vou
enumerar algumas das mais usadas.
No caso da luta
intraespécie:
1- Luta entre machos
ou fêmeas dominantes pelo controlo de recursos.
2 – Caça e
domínio territorial em grupo (enxames e outras formas de usufruto
coletivo de recursos).
3 – No caso da
espécie humana, formação organizações sociais: cidades, estados e
organizações de estados.
No caso da luta
interespécies:
1 – Combate entre
indivíduos de espécies diferentes com o objetivo da aniquilação do
inimigo sem o utilizar a ele ou aos seus recursos, para suprir as
suas próprias necessidades.
2 - Combate entre
indivíduos de espécies diferentes com o objetivo de expulsar o
inimigo para outros territórios ou outros nichos de recursos.
3 – Exploração
cooperativa ou simbiótica assimétrica dos recursos do inimigo
passando este à condição de dependente
4 – Parasitismo:
roubar para si recursos obtidos ou fabricados por outros indivíduos
sem necessidade da sua morte imediata.
5 – Predador em
cadeia alimentar: aniquilar o inimigo individual, com o objetivo de o
utilizar a ele ou aos seus recursos, como matéria prima da sua
alimentação. Na cadeia alimentar, nunca se procura eliminar
completamente a espécie inimiga, mas apenas condicionar o número dos
seus elementos às necessidades da espécie predadora.
Em suma o
objetivo final guerra é terminar a luta com uma paz vantajosa para o vencedor, pois esta, no fundo, atrasa
a expansão das espécies beligerantes. Isto é a guerra justificada
pela biologia.
Definida a guerra e enumeradas as formas mais comuns, vamos tratar
dos objetos e meios usados na guerra. Devido ao seu grande número e
diversidade vou apresentá-los agrupados em classes ou níveis.
Nível Zero
Neste nível, os indivíduos lutam utilizando como arma os recursos
do seu próprio corpo: energia, membros, e produtos químicos.
Exemplo: dar pancadas, morder, lançar ou injetar venenos, comer os
ovos ou as crias etc.
Nível Um
Neste nível os indivíduos lutam utilizando como arma recursos
externos ao seu próprio corpo no estado em que eles se encontram na
natureza.
Exemplo: dar pancadas com pedras e paus, deixar cair as vítimas
para os matar.
Nível Dois
Neste nível os indivíduos lutam utilizando como arma recursos
externos ao seu próprio corpo, manufaturando objetos por
transformação de matérias que se encontram na natureza.
Exemplo: Espadas, lanças , escudos, veículos, armas de fogo, bombas
atómicas, armas químicas, etc.
Nível Três
Neste nível os indivíduos lutam utilizando como arma recursos e
internos externos ao seu próprio corpo, manufaturando objetos e
procedimentos ou informação atuante (1) que interfiram com a
organização das atividades internas ou com a organização social
ou coletiva do inimigo, difundindo essa informação atuante (1) ou
utilizando máquinas cibernéticas para a sua difusão ou introdução
na estrutura dos indivíduos ou das organizações inimigas por forma
a manipular atuação, as decisões ou a estrutura funcional do
inimigo.
Exemplo: Vírus informáticos ou biológicos, programas ou
procedimentos interferentes, notícias falsas, camaleonismo e
mimetização de outras espécies.
(1) Chama-se informação atuante ao conjunto de dados ou instruções
que possam ser executadas ou processadas por um sistema processador
para produzir efeitos pré-determinados pela mesma informação.
Em geral na
guerra de nível 3, os custos energéticos, materiais e a quantidade
de informação envolvidos, são de valor pouco significativo em
relação aos efeitos que produzem no inimigo.
Este é o tipo de
guerra mais eficaz e mais barato que os indivíduos, as organizações
ou as espécies dispôem para atingir os seus objetivos de
aniquilação ou sujeição do inimigo.
Os vírus são a
arma de eleição para a guerra entre espécies, ou entre
organizações. Na realidade são “drones” biológicos autónomos
capazes de atuar sozinhos contra o inimigo remoto levando esse
inimigo a reproduzir os soldados que são os carrascos da sua própria
destruição. Na guerra com armas de nível três não explodimos o
inimigo, fazemo-lo implodir, submetendo-o aos nossos próprios
desígnios, sem gastarmos os nossos próprios recursos materiais ou
energéticos e quase sem alterar a nossa estrutura funcional.
Continua …..
Na segunda parte
deste artigo será analisado em particular, à luz desta visão, o
caso do COVID 19
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