01 maio 2024

O Gato Schrödinger 3 - O Presépio

 Schrödinger 3 - O Presépio

Conto escrito em honra do Cheshire o ultimo gato agora na nossa companhia , que foi adotado ainda mal desmamado e é o gato mais arisco que por passou.


Para mim, a noite de Natal, é sempre uma noite mágica. Desde menino que ficava encantado a ver o presépio a representar o nascimento de Jesus, que na nossa casa ficava usualmente ao lado do pinheiro, ornamentado com luzes e neve artificial e encimado com a estrela dos reis magos.

Olhava agora para o presépio já não com o encantamento da infância, mas com o maravilhar de adolescente cheio de dúvidas.

Porque seria que se representava sempre Jesus nascido, deitado numa manjedoura com palha e com uma vaca e um burro ao seu lado?

Eu achava que tendo nascido numa região de pastores do Médio⁸ Oriente, o mais natural é que esse curral de animais fosse de ovelhas. Tinha de perguntar ao Schrödinger o que é que ele pensava disso, pois o meu gato é um poço de sabedoria.

Como que adivinhando os meus pensamentos ele apareceu de súbito ao meu lado, vindo do nada como sempre fazia. –“Esse presépio representa mal o nascimento do vosso Deus!”- disse o meu gato Schrödinger.

-Como assim? Então Jesus não nasceu num curral de animais?” – Interroguei-o admirado por ele antecipar as minhas dúvidas.

– “ Sim, Jesus nasceu num curral de animais, mas a representação que vocês fazem não está correta. Não havia vaca e falta um gato e as ovelhas junto à manjedoura!”- respondeu-me .

- “ Como sabes?” - interroguei-o . A sua resposta veio após uma pequena pausa. Se Schrödinger fosse humano diria que tinha ficado com a voz embargada.

– “Eu estava lá! “.

A resposta deixou-me estupefacto. Eu sabia que o Schrödinger tinha vivido muito, mas não imaginava que tivesse assistido ao nascimento de Jesus.

–“Como sabias que ia nascer ali o Salvador do mundo?”-Perguntei.

Schrödinger respondeu-me com simplicidade:

- “ Nós, os gatos, mantemos vigilância sobre todos os planetas conhecidos com Vida. A Vida é tão rara e tão preciosa, que procuramos impedir todas as circunstâncias que possam interromper qualquer caminho que a Vida encontre. E, neste planeta, além de ter nascido Vida, esta já se tornou inteligente, o que ainda é mais raro.

A mim está-me atribuída a vigilância deste quadrante da galáxia e estou muito orgulhoso de poder seguir a evolução da humanidade. Conheço todas as civilizações da Terra e naquele tempo também já conhecia as crenças e profecias da religião judaica. Eu sabia que naquela época estaria para nascer o esperado Messias. Só não tinha relacionado com o facto de esse ser o tempo da chegada à terra, da luz da super-nova que destruiu o sistema solar  de onde eram originarios os gatos. Contudo, quando vi o clarão, fez-se luz na minha mente.

A radiação da explosão , no momento da sua chegada à terra, apontava diretamente o curral de Belém. Era só fazer algumas contas e localizava-se o curral de forma mais precisa do que vós faríeis com o vosso GPS. Assim cheguei ao curral apenas alguns segundos depois de Jesus ter nascido.

Lá só estavam: eu, o burro que transportava a Nossa Senhora, as ovelhas, o Menino Jesus, Maria e José. Os pastores desse rebanho, nesse momento , estavam a dormir. ”

Eu estava boquiaberto, não tinha palavras para expressar a minha admiração. Depressa recuperei a presença de espírito e perguntei:

-Schrödinger! Tu que estás em toda a parte e sabes quase tudo, diz-me porque é que o Deus Menino se fez homem? Sempre pode ser verdade que veio para salvar a humanidade?”; E salvar de quê?

-Não sei!” - respondeu-me o meu gato. “Dois mil anos depois, ainda me parece que Jesus veio a este mundo para transmitir uma informação importante aos gatos. Só que ainda não consegui entendê-la.”

-Schrödinger! Será que Jesus veio ao mundo para confirmar que todos somos iguais perante Deus?”

A resposta do meu gato foi muito enigmática: - “Não sei! Mesmo para mim, os desígnios de Deus são insondáveis”

Nesse momento decidi-me a entrar por um caminho sem retorno. Iria procurar entender os desígnios Deus durante toda a minha vida.

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