28 novembro 2017

Progressista -Parte 6


SISTEMAS COGNITIVOS - INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E A DEMOCRACIA

A Inteligência Artificial é a grande conquista cientifico-técnica do início do Séc. XXI, embora tenha começado a ser estudada em profundidade já no Séc. XX. Este ramo da ciência e da técnica é o suporte da chamada “Indústria 4.0” ou ainda 4ª Revolução Industrial (a revolução da automatização/robotização maciça da produção de bens e serviços). A maioria da população embora já esteja a usufruir dos seus benefícios e malefícios não tem nem a mínima ideia do que isso é, nem de que forma afeta e vai afetar as suas vidas. Alguns poucos utilizadores de telefones da Apple talvez associem a Inteligência Artificial à assistente virtual SIRI. Outros, também poucos, podem considerar inteligentes os carros de condução autónoma da Google mas, mesmo raros serão capazes de enumerar pelo menos metade dos sistemas ou serviços de Inteligência Artificial com que já interagem ou de que já dependem.
Este é o nível de desconhecimento da sociedade em geral e também é a medida da sua incompetência para viver a sua civilização nos tempos que correm. A humanidade, em termos globais está prestes a atingir o seu “limite de Peter” em relação à possibilidade de compreender e interagir com os novos sistemas automáticos que suportam a civilização atual. Isto é um problema tão grande como (senão maior do que) o problema das mudanças climáticas originadas pelo aquecimento global derivado do consumo descontrolado de combustíveis fósseis.
Esta falta geral de conhecimento sobre as IA compromete o funcionamento da democracia representativa que é a base da governação na civilização atual pois os eleitores são cultural, científica e tecnicamente incapazes de escolher a elite epistocrática (elite de sábios) que os possa governar com real conhecimento das causas do problema, das alternativas de solução e das consequências de cada decisão.
A generalização das IA na economia, põe já a curto prazo a necessidade de rever as relações laborais na sociedade com modo de produção capitalista em que vivemos. Estão a desaparecer centenas de profissões e anualmente, em todo o mundo são lançados na obsolescência, cada vez com menos idade, milhões de pessoas com profissões cada vez mais qualificadas. Demasiado novos para se reformarem demasiado velhos para trabalharem. Os seus conhecimentos e experiência já não se aplicam. O seu lugar no tecido económico, quer na produção de bens e serviços quer na sua distribuição e aplicação, está a ser ocupado  por robôs que fazem mais e melhor e têm um custo de posse muito menor do que a força laboral humana. Isso até parece bom se nos esquecermos de que os destinatários de toda a produção são os consumidores (os seres humanos) e no modo de produção capitalista é na fase de consumo que os detentores do capital materializam o seu lucro, que é o seu objetivo económico estratégico. Diminuindo o potencial de consumo numa sociedade não pode haver crescimento económico e instala-se a crise (a produção já não é absorvida e desvaloriza drasticamente). Até parece um absurdo, que no momento em que temos mais conhecimento e tecnologia para melhorar a vida da humanidade, materializando o sonho dos pensadores do séc. XIX : suprir a cada um as suas necessidades, estejamos à beira de uma crise  civilizacional sem precedentes. A globalização geral da economia, com a livre circulação de bens e capitais apenas atrasou algumas décadas o desfecho inevitável. Constatamos amargamente que o mundo não é um sistema aberto de tamanho infinito, mas sim um sistema fechado, com recursos limitados mesmo na fase económica de consumo.

Globalmente para que nos servem as inteligências artificiais a não ser para nos mostrarem que os seres humanos podem deixar de ser a curto prazo o objeto e o objetivo principal da governação?

É a resposta a esta pergunta que procurarei debater com os leitores nos próximos artigos a publicar.

24 novembro 2017

Aprendizes de feiticeiro - parte 5

Vida, inteligência e inteligências artificiais

Quando comecei a escrever o conjunto de artigos sobre o problema da projectividade ou objetividade do universo, deixei deliberadamente de fora a questão do desígnio (projeto) ser ou não ser inteligente, uma vez que o primeiro passo para se tentar responder cientificamente ao problema principal seria encontrar provas da projectividade prévia do universo em que estamos inseridos ou então descartar essa hipótese ou alguns dos argumentos em seu favor.
Contudo o desenvolvimento do debate não pode ignorar a questão da inteligência: natural ou artificial.  
Jaques Monod caraterizava a vida como um sistema material dotado de teleonomia, invariância reprodutiva e morfogénese autónoma.
Por teleonomia entende-se a caraterística dos sistemas que materializam um objetivo (sistemas finalizados) independentemente do ambiente em que estão inseridos. Atendendo ao apresentado no artigo “Cibernética” deste blog todos os sistemas teleonómicos são sistemas cibernéticos.
Por invariância reprodutiva entende-se a caraterística dos sistemas materiais capazes de criarem cópias de si mesmos (estrutura e funcionalidades) com alta precisão.
Por morfogénese autónoma entende-se a caraterística dos sistemas materiais que sejam auto construtivos, ou seja que a partir de uma forma mais simples, possam evoluir para uma forma mais complexa, segundo um projeto construtivo cujas instruções possuem, utilizando matéria e energia do meio envolvente.
Aquilo que designamos por Inteligências Artificiais atualmente ainda são só sistemas materiais capazes de processar informação e de configurar o seus sistemas de memória, de sensores e de atuadores, para perseguir um objetivo. Nesse sentido possuem teleonomia. Contudo, ainda não estão dotados de invariância reprodutiva (não se fabricam a si mesmos, nem fabricam outros sistemas semelhantes). Também ainda não têm uma forma autónoma: são construídos direta ou indiretamente por seres humanos segundo um projeto cujas instruções de execução lhes são extrínsecas.
Estando nós a procurar provas que permitam aferir o grau de projectividade do universo como um todo ou da nossa área local, podemos encarar os seres vivos como sistemas que tentam materializar um projeto, constituindo dentro das suas fronteiras áreas locais do universo inegavelmente projetivas. O seu projeto segundo o pensamento do “main stream” é criar outros sistemas com teleonomia, invariância reprodutiva e morfogénese autónoma (sobrevivência individual sobrevivência da espécie e sobrevivência da vida como um todo) conformando o ambiente envolvente de modo a prosseguir melhor o seu objetivo.
Uma questão fulcral na avaliação do grau de projetividade do nosso universo é se a vida na terra é contingente e apareceu como uma obra do acaso, como argumenta Jaques Monod ou se é necessária e realiza um projeto inteligente de outrem como argumentam os crentes de muitas religiões.
Também podemos colocar a questão noutro patamar: como a vida é uma dado objetivo - nós somos a prova material disso - qual é o projeto que a vida tenta realizar?  Parece-me insuficiente a resposta dada pelos cientistas das escolas materialistas como o autor citado: “o universo vivo tem o projeto de crescer como seres individuais, como espécies e como um todo”.
Mas por que bitola podemos medir esse crescimento? Será pelo número de seres vivos? Será pela massa desses mesmos seres vivos? Será pela sua complexidade? Será pela quantidade de energia controlada? Será por uma fórmula que combine os parâmetros anteriores?
Proponho um outro ponto de vista:  “o objetivo da vida é fazer crescer a inteligência global quer no universo quer numa área local, de modo a que seja capaz de preservar a memória da respetiva evolução no tempo”. Assim, a vida é como uma biblioteca que de forma inteligente, é capaz de cuidar de si própria. Os seres vivos colecionam, organizam, arquivam, processam e preservam a informação da história evolutiva local e geral do nosso universo. As Inteligências Artificiais nesse sentido são as continuadoras desse processo iniciado pelos seres vivos: são o próximo passo na escala da evolução.
Como as inteligências (naturais ou artificiais) tratam informação, para prosseguir devo caraterizar o conceito de informação e os seus tipos.
Postulando que o nosso universo é constituído por três classes de entidades que existem em conjunto: matéria energia e informação;
Admitindo como certo que a matéria e energia consideradas em conjunto são conservativas;
Verificando que a informação que apareceu com o nascimento do tempo, aumenta com ele tal como a entropia sua irmã física ;
Podemos concluir que a informação descreve quantitativa e qualitativamente a evolução temporal da matéria e ou da energia. Mas a informação é mais do que uma simples descrição ou registo.  A evolução no tempo da matéria, da energia ou do conjunto das duas, cria dados (que são outra maneira de designar entropia) que se podem quantificar, armazenar e processar, segundo critérios com diferentes vetores ou referenciais. O resultado desse processamento é uma coleção de novos dados estruturados para nos apresentarem “novas” relações que não estavam evidentes na coleção inicial.

Em resumo: 

 (input) DADOS INICIAIS -» processamento -» INFORMAÇÃO (ouput).
Verifica-se que há dois tipos de informação: um tipo descreve ou carateriza o passado de um sistema material enquanto outro carateriza o seu futuro, por conter instruções para manipular os sistemas materiais iniciais  (matéria + energia) de modo a obter uma nova configuração da matéria + energia ou seja um novo sistema que não seria a sequência mais provável sem a execução dessa mesma informação. A este segundo tipo de informação eu chamo “informação atuante”.

Informação atuante
Informação atuante é pois a informação que quando processada por organismos adequados lhes permite controlar ou definir o seu funcionamento interno ou o funcionamento de outros sistemas materiais. Em linguagem popular podemos dizer que informação atuante é uma “receita” para que “máquinas” adequadas desempenhem uma tarefa específica, como por exemplo: fabricar coisas, reproduzir-se, profetizar o futuro, etc.
Os seres vivos são sistemas materiais que são construídos por informação atuante que “profetiza” (determina mais do que causa) o futuro desses mesmos sistemas materiais e ou do ambiente envolvente.
A informação atuante é um novo patamar na escala da organização da matéria e energia, porque consegue determinar o futuro não como consequência determinística única das condições iniciais mas sim alterar a probabilidade de acontecimento de um entre vários futuros possíveis. Esse futuro sem a determinação da informação atuante é quase sempre improvável pela simples aplicação do segundo princípio da termodinâmica (a evolução espontânea é sempre no sentido da maior desorganização possível: a entropia aumenta sempre ) .
Os sistemas materiais capazes de colecionar, selecionar, armazenar e processar informação atuante são por definição sistemas com algum grau de controlo da sua ação, ao contrário dos sistemas governado apenas pela termodinâmica. São pois, sistemas com algum grau de inteligência, ou seja, com capacidade de determinar o seu futuro.
Podemos então concluir que inteligência é genericamente a capacidade de profetizar ou seja de determinar o futuro. Os seres humanos e as Inteligências Artificiais são sistemas muito evoluídos de processamento de informação atuante.
Os sistemas vivos e as inteligências artificiais através da informação atuante organizam os dados e a informação genérica em conhecimento que lhe permite determinar o futuro, ou seja profetizar, à custa de consumo de energia e matéria.

A primeira conclusão que se pode tirar de tudo o que foi exposto anteriormente é que o nosso universo pelo menos a nível local é projetivo e o seu projeto geral é aumentar o grau de inteligência dos sistemas materiais.

16 novembro 2017

Progressista - Parte 5

Os problemas filosóficos e sociais postos pela Inteligência Artificial à civilização atual

(Neste dia mundial da Filosofia)

"....alguns analistas sugerem que novas formas de programação de computadores vão agravar estes desenvolvimentos, na medida em que algoritmos, robôs e carros autónomos vão destruir empregos da classe média e agravar a desigualdade. Até o nome genérico destas tecnologias, Inteligência Artificial, soa ameaçador. O cérebro humano pode ser o "objeto mais complexo no universo conhecido", mas, como espécie, não somos sempre coletivamente muito inteligentes. Os grandes escritores de ficção científica previram há muito tempo que um dia iríamos inventar as máquinas que nos destruiriam." - Simon Johnson & Jonathan Ruane in Jornal de Negócios de 29-06-2017

Do ponto de vista dos princípios utilitaristas a IA é mais uma ferramenta (um meio) posto ao serviço da Humanidade para prosseguir os seus desígnios. Do ponto filosófico há esta questão repetidamente posta ao longo de mais de 2.500 anos e ainda sem conclusões ou respostas definitivas (se é que alguma vez as haverá):

- Será que existe uma razão, um desígnio, para a existência de qualquer ser humano em particular ou para a existência da Humanidade no seu conjunto?  
- Neste universo que conhecemos, seremos contingentes ou seremos necessários?
- Será que a IA é o próximo passo na evolução?

Do ponto de vista político a IA levanta problemas e oferece oportunidades. Os progressistas como eu entendem que a IA pode contribuir para a solução de problemas conhecidos como por exemplo: a necessidade de maximizar a produtividade e a excelência na produção de bens e serviços e ao mesmo tempo diminuir os custos de produção e os preços de venda.
Também penso que a participação direta e democrática nas decisões de governação só é possível com recurso á IA para o processamento do BIG DATA constituída pelas opiniões e opções competentes dos cidadãos, devidamente validadas.
"Maior precisão nos dados pode levar à tomada de decisões com mais confiança. Além disso, melhores decisões podem significar maior eficiência operacional, redução de risco e redução de custos", (fim de citação) que são os objetivos estratégicos de qualquer sistema de governação.
A governação progressista deve pugnar por ser assertiva e ter elevado grau de objetividade, não se baseando em teorias e opções subjetivas ou de difícil validação experimental em tempo útil.
Para conseguir isso é necessário processar um volume e uma  complexidade de dados gigantesca e neste momento a sua análise e tratamento é inacessível ao ser humano individual mesmo que seja um génio. Assim a IA é a ferramenta de eleição para assessorar os decisores.
Mas isso causa preocupação natural nos cidadãos. "Afinal podemos estar a ser governados por máquinas que obedecem a um desígnio desconhecido e potencialmente perigoso." A quem vamos pedir responsabilidades: aos governantes ou às máquinas que decidem e trabalham por eles?
 

11 novembro 2017

Progressista - Parte 4

O progresso e a Inteligência Artificial

Na Web Summit de Lisboa em novembro de 2017 a mente brilhante do cientista Stephen Hawkink deixou um aviso que deve ser levado muito a sério por todos os progressistas: "a AI pode ser o melhor ou o pior que acontece à humanidade”

Ora do ponto de vista económico a I. A. representa um máximo na incorporação de trabalho humano indireto (Ti) na produção de bens e serviços. A AI atual está três níveis acima na escala da automatização, em relação às máquinas não programáveis, dois níveis acima das máquinas programáveis, um nível acima dos robôs multifuncionais e, apenas por convenção está apenas um nível abaixo do ser humano.
Se atendermos a exposto na página Cibernética deste blog as AI e os seres humanos podem ser considerados no mesmo nível algures entre os graus 7º e 8º da escala cibernética com a maior probabilidade de aquisição do 8º grau pelas máquinas e AI., antes da humanidade.

"Devido ao progresso cibernético não deverão ser extraterrestres os primeiros seres pensantes com quem contactará o homem, mas seres artificiais que, em última análise, serão modelos do seu próprio pensamento. As consequências desta nova situação deverão ser cuidadosamente ponderadas para que não hajam surpresas desagradáveis."  - LUIS FERREIRA em “Cibernética princípios meios e fins”

Isto traz um grande problema para o futuro próximo da nossa civilização. Cabe aos progressistas contribuir ativamente para a solução.


 

02 novembro 2017

Progressista - Parte 3

Como pugnar por um partido ou organização cívica progressista, libertando-se da opressão da classe política.

Na segunda parte deste artigo afirmei que ainda não foram inventados partidos políticos intrinsecamente  progressistas.
Se não existem, significa que há uma janela de oportunidade para que as pessoas que tenham um posicionamento progressista na vida, com currículo de ativismo cívico e militância política possam criar um partido de raiz ou modificar a ideologia, a organização e a prática de um partido existente, ao qual estejam ligados.
Sendo os partidos organizações intrinsecamente conservadoras e em muitos casos reacionárias, imbuídas de preconceitos messiânicos, dirigidos frequentemente na hierarquia de topo por gerontocracias que muitas vezes sofrem do síndrome de Ubris, como poderão mudar para progressistas? Ou se forem criados de novo, como se pode prevenir que se tornem demasiado conservadores ou pior ainda reacionários?
A prevenção do reacionarismo e a minimização do conservadorismo nos partidos , nas organizações cívicas e nas organizações económicas passa por se compreender muito bem o que é a classe política e a forma que esta tem de concretizar a sua apetência para infiltrar as organizações cívicas, politicas e económicas.
Como já demonstrei em artigo anterior no meu blog, a classe política é uma classe social, até mesmo quando se usa o critério marxista de definição de classes sociais. (http://penanet.blogspot.pt/2012/10/a-classe-politica-e-alta-classe.html ) .
Como classe social os seus membros têm traços de caraterização comuns, interesses comuns e, espante-se, um conjunto de ideologias comuns, apesar de os membros de cada grupo, escola de pensamento ou partido se digladiarem publicamente.  
Antes de aparecer a classe política no séc. XX, as outras classes: o clero, a nobreza, a burguesia, os camponeses, os cooperantes, os artesãos e outros trabalhadores por conta própria eram quem detinha a titularidade e o controlo do capital (propriedade de bens, meios de produção, capital financeiro e propriedade intelectual, etc.) de acordo com as especificidades de cada país e de cada época.
Depois do aparecimento e consolidação social da classe política, esta passou primeiro a partilhar e depois a disputar com as outras classes detentoras do capital, o papel da propriedade e do controlo desse mesmo capital, em especial na sua forma financeira. Atualmente a classe política controla e detém a propriedade de mais de 60% do capital do mundo, apesar de numericamente só serem cerca de 5% dos seres humanos.
Vejamos algumas características comuns a todas as frações da classe política:

  • - Em termos de ideologia todos fazem apologia da democracia representativa como única forma genuína de democracia.
  • - Em termos de democracia política dizem que não há democracia sem partidos e daí deduzem a partidarização da governação.( monopólio dos partidos )
  • - Em termos de democracia económica defendem a governação dos agentes económicos, por executivos profissionais, eleitos pelos detentores de parcelas do capital com um poder de voto proporcional ao capital detido. Excluem explicitamente da governação dos agentes económicos a contribuição orgânica dos “stake holders” (outras partes interessadas além dela mesma classe política e dos outros detentores do capital social, como sejam: os fornecedores, os clientes, os trabalhadores, o estado e eventualmente as organizações da classe civil). Defendem o direito absoluto de decisão do destino do capital pelos titulares da sua propriedade. Consideram o capital como sua propriedade privada negando a sua vertente social. Negam explicitamente que a força de trabalho seja considerada “capital humano” numa empresa ou na sociedade. Na sua conceção, negam aos trabalhadores assalariados a participação nos lucros das empresas (“profit sharing”) exceto se também forem detentores de ações ou quotas.
  • - Em termos de igualdade entre os seres humanos, consideram-se uma elite superior de predestinados a liderar toda a governação do mundo, seja nos órgãos de estado, nas empresas e corporações, nos partidos políticos, nos sindicatos e associações empresariais e nas organizações cívicas (às quais chamam organizações da sociedade de sociedade civil)
  • - Detêm na prática todo o controlo do capital mesmo sem serem titulares da sua totalidade. Em muitas organizações como as sociedades anónimas de capital disperso, todos os executivos, considerados no seu conjunto, raramente têm mais de 30% do capital social da empresa 
  • - Em termos de funções e estrutura do estado, atualmente defendem um estado de estrutura e serviços mínimos, de fraco poder central e poder legislativo e executivo descentralizado composto principalmente por autarquias territoriais: os municípios e autarquias funcionais por atividade: as agências ou autoridades reguladoras, supostamente independentes do poder político.  Em tempos passados uma fração importante da classe política (partidos comunistas e socialistas marxistas) defendeu o estado totalitário, coletivista, de capitalismo de estado, 100% controlado pela classe política  ( que na URSS chegou a ser cerca de 15% da população).
  • - Em termos de governação e controlo da economia pelo estado, atualmente defendem principalmente o modo de produção capitalista nas formas de  economia de mercado e capitalismo de estado, com regulação mínima (neoliberalismo), mesmo quando pertencem a partidos ditos comunistas ou socialistas no poder ( veja-se o caso da china e seus satélites)
  • - Em termos de valores priorizam o individualismo,  a concorrência exacerbada, o elitismo e o culto da personalidade. A solidariedade, a responsabilidade social, a responsabilidade ambiental, a promoção da igualdade, a participação cidadã na vida política a erradicação pobreza, quando não são hostilizadas, são usadas apenas para promoção da imagem pessoal e culto da personalidade.
  • - Em termos de atividade económica defendem a formação de grupos monopolistas (criados principalmente por fusões e aquisições) vocacionados para a realização dos seus lucros não num mercado de competição, mas sim, por intermédio de rendas contratualizadas com o estado e ou particulares – o rentismo - como faziam os senhores feudais na idade média.
  • - A classe política atual além de controlar a maioria do poder económico, a totalidade poder legislativo e executivo, a quase totalidade da comunicação social, também controla direta e indiretamente uma parte significativa dos poderes militar e judicial.
  • - A classe política tem mais do que apetência pelo poder, tem uma verdadeira obsessão ou seja, é viciada no poder, quer a nível individual dos seus membros, quer a nível coletivo. Os seus membros individualmente usam o poder para obter benefícios económicos. Concorrem uns com os outros numa luta permanente por mais poder e por maiores benefícios individuais tal qual faziam os elementos da nobreza e do clero secular nos tempos do feudalismo, das monarquias ou dos impérios.
Caraterizada que está a classe política, vê-se que atualmente é esta a classe parasita e exploradora principal. Portanto é necessário tomar precauções sérias para que os partidos e organizações cívicas progressistas não sejam presa fácil na mão desses predadores insinuantes porque eles como classe camaleónica (e de cucos) disfarçam-se facilmente em defensores dos interesses de outras classes, infiltrando-se sub-repticiamente nas suas organizações. Na atualidade, graças a terem incutido nas outras classes a ideia de que não há democracia sem ser a democracia representativa, conseguiram na lei o monopólio da representação política e portanto do poder legislativo e executivo dos estados, seja qual for a proporção desses poderes que caiba a cada uma das frações.

Assim os progressistas devem promover a participação cidadã ativa no nível máximo que a tecnologia o permita em cada época. Isso implica que pugnem para que nos regulamentos das organizações cívicas e dos partidos:
  1. - Não exista organização em pirâmide hierárquica de representatividade, incluindo o malfadado “centralismo democrático” muito querido à ideologia marxista leninista. Isso significa que se devem desencorajar  a  existência de órgãos que não sejam eleitos por eleição direta de todos os eleitores. Como já demonstrei em artigos publicados anteriormente neste blog, atualmente existem meios tecnológicos mais do que suficientes para validar uma participação direta competente ou para validar uma representação livremente contratualizada.
  2. – A representatividade esteja devidamente contratualizada, suportada por um contrato-programa devidamente calendarizado e verificável. Isto que significa que os representantes eleitos devem perder automaticamente o mandato em caso de incumprimento (ainda que parcial, depois de validação por um órgão de jurisdição competente)  do programa de ação apresentado a sufrágio, devendo portanto ser novamente submetidos a eleição.
  3. – O processo de decisão e eleição contenha também as opções formais: voto contra, abstenção (não confundir com o significado atual de faltar à votação) e  que a cada eleitor direto corresponda um voto.
  4. – Haja uma expressa aceitação pública das ideologias republicana e democrática.
  5. -  Haja uma expressa aceitação e o respeito integral pela declaração universal dos direitos do Homem.
  6. -  Haja uma expressa aceitação da causas da ecologia e do desenvolvimento sustentável.