20 outubro 2010

As violações dos princípios da igualdade na URSS

As violações dos princípios da igualdade na URSS como uma das causas mais importantes para a implosão do regime

Sendo a URSS uma herdeira directa da terceira revolução da igualdade (1), seria de esperar que fosse nesse país e sob desse regime político, que se iniciasse e completasse primeiro, a quarta revolução da igualdade - acesso universal aos bens espirituais - depois de terem tido 30 anos para consolidarem a terceira revolução da igualdade e confirmarem as primeira e segunda revoluções. Não foi isso que aconteceu! Durante os 60 anos de governação do Partido Comunista na URSS foram violados sistematicamente os princípios que suportam a Civilização Humana actual e que foram estabelecidos ao longo dos últimos 2000 anos da História da Humanidade pelas quatro revoluções da igualdade.

Violação da primeira revolução - (universalidade da individualidade e da equipotencialidade entre os homens)
Durante todo o regime socialista na URSS e de forma mais acentuada a partir do início do estalinismo o homem como indivíduo apesar de constar na retórica do poder, na prática tinha a sua importância rebaixada em relação à importância da classe operária e do estado.
A sociedade na URSS era maioritariamente laica como actualmente é nos países capitalistas e considerava-se oficialmente que dos valores supremos eram os valores de classe e em particular os valores da classe operária.
Isto era a propaganda da Nomenklatura pois que os verdadeiros valores vigentes divulgados estruturados e permitidos, eram os que fossem convenientes a esta classe, que depois os mascarava de universais e originários da classe operária.
A condição da classe operária como classe dominante do poder era “virtual”, pois o centralismo democrático é o representativismo levado até ao seu extremo e no topo da pirâmide da representação estava a “nata” da classe política, que usava o poder que detinha fundamentalmente em benefício próprio, garantindo a perpetuação dos seus privilégios e a sua perpetuação como classe detentora dos poderes de estado.
Isto é semelhante ao que se passava e ainda passa no mundo Ocidental onde a classe dirigente atribui, aos valores da sua conveniência, que justificam as suas acções e o seu estatuto, uma origem divina ou uma regra da natureza, ou ainda uma regra da economia ou da ciência em geral.
Na teoria todos os Homens eram considerados iguais mas na prática... "uns eram mais iguais do que os outros".

Violação da segunda revolução - universalidade no acesso à lei e aos serviços do estado

Embora nominalmente por norma constitucional todos os cidadãos da URSS tivessem igual tratamento perante a lei e igual acesso aos serviços do estado, a prática demonstrou uma desigualdade de tratamento em função da origem de classe e da posição na hierarquia social ( posição dentro da Nomenklatura ). Há casos de crimes graves repetidamente praticados por elementos superiores das hierarquias politicas empresariais e militares que só se tornaram conhecidos após mudança da fracção da Nomenklatura detentora do poder executivo ou militar. Esses crimes maioritariamente do foro comum (e alguns do foro ambiental e governativo) como os crimes dos estalinistas ( incluindo Estaline ) demoraram quase duas décadas a ser denunciados e julgados . E mesmo assim o julgamento mais severo foi para com os mortos, dado que dos vivos poucos foram pronunciados e muito menos foram os sentenciados.

Violação da terceira revolução - universalidade no acesso aos bens materiais

Na prática a classe política, a "Nomenklatura" é responsável pelo incumprimento dos objectivos das duas primeiras revoluções e pelo bloqueio efectivo que fez à extensão a toda a sociedade dos benefícios promissores do controlo pelo estado da distribuição equilibrada dos bens materiais por toda a população. Na realidade nunca foi efectivamente materializado o lema de: " a cada um segundo o seu trabalho ... " e muito menos o lema básico do comunismo de: "a cada um segundo as suas necessidades". A classe política beneficiava dos bens materiais em maior proporção do que aquela que seria obtida pela quantidade e qualidade do trabalho realizado pelos seus membros e além disso detinha o controlo efectivo dos meios de produção a partir dos postos de direcção e chefia que ocupava no tecido empresarial da URSS

Violação da grosseira da quarta revolução - universalidade no acesso aos bens espirituais
Não estava assegurado o livre debate das ideias nem a submissão dessas mesmas ideias a um verdadeiro escrutínio "inter-pares" e posteriormente ao sufrágio universal.
A pessoa só usufruia completamente do seu direito de expressão individual quer do pensamento, quer do modo de viver, se pertencesse à classe política, independentemente de ser oriundo de qualquer outra classe no processo produtivo.
É hoje pacificamente aceite que apesar do sistema eleitoral na URSS ser universal e das votações serem maciças ( tanto em número de votantes, como nos votos validamente expressos) na realidade, existia um filtro eficaz (o filtro do centralismo democrático - que até nem sequer precisava de ser violento) que limitava o acesso ao escrutínio nacional da maioria das opções em propostas ou em pessoas, independentemente de serem ou não concordantes com a linha da "Fracção Governamental" da Nomenklatura.
Muito mais do que isso... a classe política bloqueou o desenvolvimento natural da quarta revolução. Quem não se lembra da discussão entre os académicos e intelectuais da esfera ideológica comunista designada por "Socialismo e Cibernética " onde elementos preponderantes da classe política ao nível académico tentaram demonstrar que a Cibernética era antagónica ao socialismo.
Com essa postura conseguiram bloquear na URSS e seus aliados a quarta revolução da igualdade atrasando-a pelo menos 15 anos com as correspondentes consequências negativas no desenvolvimento tecnológico, no desenvolvimento económico e no bem estar material dos povos da esfera socialista.

(1) Ver texto neste Blog " O Cristianismo e a revolução civilizacional "

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