UM MUNDO SEM REGRAS
Comentário ao livro homónimo de AMIN MAALOUF
Este ensaio de Amin Maalouf, apresenta as preocupações de uma grande parte da intelectualidade não alinhada do mundo. Embora o ponto de vista apresentado seja o de um homem claramente de fora do mundo Ocidental, que conhece esse mesmo mundo muito bem, por viver nele há longos anos e por partilhar a sua cultura, é um ponto de vista que poderia ser apresentado por qualquer intelectual ocidental que não tivesse muros no pensamento e fosse minimamente conhecedor da cultura e história recente do Médio Oriente.
É uma visão frustrada do mundo e da história recente, de uma pessoa claramente desiludida por ver ruir as suas esperanças e as suas crenças num mundo melhor, nascido a partir dos valores e práticas da vanguarda civilizacional do nosso planeta que ele entende que deveria ser: a Europa e os USA.
Eu entendo que este ponto de vista acontece apenas porque a grande parte da intelectualidade actual lhe faltam ferramentas teóricas que lhe permitam enquadrar os acontecimentos do último quartel do Sec XX e deste início do Sec XXI numa regra evolutiva da civilização (ou civilizações ) Humanas.
Mesmo assim Amin Maalouf demonstra uma mestria notável ao identificar exemplificar e interrelacionar, a maioria das causas de alguns dos acontecimentos marcantes dos últimos 50 anos como por exemplo:
- A questão da legitimidade:
- na governabilidade das nações muçulmanas
- na implosão da URSS
- no insucesso das politicas reformistas no mundo muçulmano do Sec. XX e Sec. XXI
- no emergir das tendências para o nascimento dos estados Islâmicos no Médio Oriente e em geral no retrocesso do laicismo no mundo islâmico
- A relação entre as guerras e o domínio dos recursos petrolíferos no Médio Oriente
- As responsabilidades da Europa e dos EUA na deterioração da segurança internacional e no descalabro climático, económico e financeiro actuais.
- A evolução da prática religiosa Cristã Católica como consequência da organização hierárquica centralizada desta confissão religiosaPor outro lado cita o historiador Arnold Toynbee ao relacionar a evolução civilizacional com duas variáveis objectivas que são :
- a velocidade da evolução dos conhecimentos das técnicas e da organização social e
- a velocidade das comunicaçõesSegundo Arnold Toynbee a evolução da humanidade e das suas civilizações pode dividir-se em 3 estádios:1 – O período da uniformidade original - em que as mudanças eram transmitidas lentamente entre os homens e se sucediam a um ritmo ainda mais lento do que a respectiva transmissão. Esse foi genericamente o tempo considerado pelos historiadores como pré-história: o tempo da comunicação oral.2 – O período da diferenciação civilizacional com base geográfica - que se iniciou cerca de 4500 anos antes de Cristo com o nascimento da escrita e perdurou até cerca de 1500 da era cristã, em que a evolução dos conhecimentos da tecnologia e da organização social se sucederam muito rapidamente e era transmitidas muito lentamente em termos territoriais fora dos limites geográficos naturais das civilizações, o que levou à diferenciação linguística, étnica, nacional e política.3 – O período do contacto civilizacional - em que as comunicações se sucedem a um ritmo muito mais acelerado do que as mudanças. Para Amin Maalouf assim como para Arnold Toynbee esse período decorre desde 1500 até à actualidade
Eu acrescento um novo estádio neste modelo:
4 – O período da globalização - que decorre desde o último quartel do Sec. XX até à actualidade a que correspondem mudanças aceleradas (tempo de formação de tecnologia menor do que uma década desde as descobertas ou formulações teóricas) com os conhecimentos comunicados instantaneamente a todas as áreas do globo independentemente da civilização que domine territorialmente uma área específica.
O reconhecimento do valor intrínseco da abordagem de Amin Maalouf , leva-me a pensar que se este escritor tivesse conhecimento de ferramentas adicionais como:
- o modelo das “revoluções da igualdade” ( A. Subida. 2005 – publicado neste blogue em 17-Out-2010 sob o título de “ Cristianismo e Revolução Civilizacional” )
- a teoria do valor (A. Subida – 1997 – Uma abordagem pós-Marxista e pós-liberal dos fundamentos da economia política)teria menos angústias e apresentaria uma atitude menos marcada pela frustração, pois entenderia com maior facilidade as razões profundas das mudanças civilizacionais que estão a acontecer na actualidade e veria um sentido claro nas mudanças que estão acontecer e conseguiria apresentar previsões para as próximas mudanças.Entendo claramente que o mundo não está sem regras sem será sem regras, apenas terá novas regras nos tempos que se aproximam.No meu ponto de vista estamos a viver um período revolucionário, com clara substituição de paradigmas civilizacionais: sociais, económicos, formas de estado e governo, teorias cientificas e tecnologias - a quarta revolução da igualdade - num planeta dividido territorialmente em áreas civilizacionais com diferentes estágios de evolução em relação aos marcos estabelecidos pela teoria das revoluções da igualdade:
-https://penanet.blogspot.com/2010/10/o-cristianismo-e-as-revolucoes.html
No meu entender as tensões atuais extremadas, acontecem porque a capacidade intrínseca de evolução de algumas civilizações no campo das crenças e das práticas sociais (capacidade de assimilação da mudança) é muito mais lenta do que a velocidade de comunicação e implementação da tecnologia.
1 comentários:
Mais um texto muito interessante e rico de sabedoria e conhecimento!
Apesar de ter sido escrito há 8 anos e por este tempo muita ter sido a alteração evolução tecnológica é um pensamento intemporal, pois poderia ter sido escrito hoje sem perder o seu fundamento lógico e valor de verdade aos olhos da nossa realidade atual!
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