06 setembro 2017

Aprendizes de feiticeiro (parte 3)


Dissertação sobre certezas previsões e profecias (parte 3)
Teorema de Thomas e as profecias autorrealizáveis

Nas ciências sociais estudam-se casos de “profecias” que depois de serem conhecidas se verificam, ou seja autorrealizam-se depois de divulgadas. Este fenómeno intrigou muitos estudiosos e levou os americanos W.I. Thomas e D. S. Thomas a formularem em 1928 uma teoria segundo a qual  "Se as pessoas definem certas situações como reais, elas são reais em suas consequências." ( citação da Wikipédia),  o que quer dizer que as ações (acontecimentos objetivos) são desencadeadas ou pelas perceções subjetivas, tidas pelos observadores intervenientes nas situações em que essas ações se podem enquadrar.  
A definição e interpretação de uma situação causa a ação.
A seguir apresentam-se alguns exemplos clássicos que justificam este teorema:
- Durante a crise do petróleo de 1973 houve o chamado "pânico do papel higiénico". Correu então um boato de que haveria uma imediata falta de papel higiénico - resultante de uma acentuada diminuição na importação de petróleo bruto . Isso levou as pessoas a armazenarem papel higiénico para além das necessidades domésticas imediatas, o que provocou uma escassez real no mercado, que parecia validar essa notícia.
- Robert K. Merton estudou a corrida aos bancos, verificando que, quando se difunde o boato de que um banco está em dificuldades, os corretores e os investidores institucionais apressam-se a levantar os valores ali depositados e a terminar outros negócios em curso , de modo que o banco acaba mesmo por falir.
- Uma pessoa acredita que ninguém gosta dela. Em consequência torna-se antipática, o que leva a que, de facto ninguém goste dela.

Uma profecia autorrealizável (A expressão foi inventada pelo sociólogo Robert K. Merton, que elaborou o conceito (self-fulfilling prophecy) no seu livro Social Theory and Social Structure, publicado em 1949 ) é na sua origem um prognóstico, em geral sem qualquer fundamento que, ao transformar-se em crença coletiva, provoca a sua própria concretização. Quando as pessoas esperam ou acreditam num acontecimento iminente, agem como se a previsão já fosse uma realidade e assim a previsão torna-se profecia acabando por se realizar de facto. Ao ser assumida como verdadeira ( embora seja falsa ) uma previsão pode influenciar o comportamento das pessoas, seja por medo ou por confusão lógica, de modo que a reação delas acaba por tornar a essa previsão em facto real, tornando-a indistinguível de uma profecia realizada num sistema cibernético.
Nas palavras de Merton: “A profecia autorrealizável é, no início, uma definição falsa da situação, que suscita um novo comportamento e assim faz com que a concepção originalmente falsa se torne verdadeira.” ( Merton, Robert K (1968). Social Theory and Social Structure. New York: Free Press. pp. p. 477 "The self–fulfilling prophecy is, in the beginning, a false definition of the situation evoking a new behaviour which makes the original false conception come 'true'. ". ISBN 9780029211304. OCLC 253949)

Citando http://www.psicologia.pt/noticias/ver_noticia.php?codigo=NO01176  “As profecias autorrealizáveis ocorrem em todos os contextos interativos onde os humanos são autores e sujeitos da crença, e simultaneamente visados por ela. Para além da psicologia, podemos encontrá-las na política, na sociologia e na economia.”
Já na antiguidade clássica grega se estudavam estes factos como prova o mito de Pigmalião. Vide : http://www.psicologia.pt/noticias/ver_noticia.php?codigo=NO01176 ou  http://amitologianahistoria.blogspot.pt/2010/07/mitologia-grega-pigmaliao.html

De tudo o que foi exposto anteriormente pode-se concluir que existindo informação atuante (que desencadeia ações ao ser processada) e uma sistema cibernético ou social interativo (que a processa), as pessoas ao utilizar essa informação atuante podem desencadear e controlar ações futuras como se tivessem poderes mágicos ou sobrenaturais para profetizar.

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