31 outubro 2020

Da Guerra 4

 Já passaram 5 meses desde que o terceiro artigo desta série foi publicada. Na sua parte final escrevi que a humanidade ainda não tinha conseguido identificar o inimigo (aquele que tira vantagem da ação do vírus). 

No presente artigo vou deixar algumas pistas para serem exploradas pelos investigadores na procura do inimigo que nos ataca.

IMPORTANTE: O vírus SARS-COV2 por muito que o odiemos NÃO É O NOSSO INIMIGO!

Tal como o pau, a pedra, a ponta da lança, a seta, a bala ou a bomba atómica, este vírus é apenas a arma e ao que se conhece não tira qualquer benefício das ações contra nós. É uma arma que foi criada ou apenas aproveitada em bruto (como uma pedra que atiramos) por quem o atira contra nós: O INIMIGO (o IN, como dizíamos na altura da "Guerra Colonial" em África).

O nosso inimigo direto nesta epidemia é na realidade o nosso próximo, pois como o vírus não tem pernas, é ele quem o transporta para dentro da nossa esfera de influência.

Exato! Nesta epidemia fica demonstrado até à exaustão da evidência, que o meu maior inimigo está na minha casa, come na minha mesa e até dorme comigo: são a minha mulher e os meus filhos. Portanto é deles que tenho de me defender: da sua imprudência, da sua temeridade, do simples facto de existirem e por isso serem uma possível via para o agente infecioso penetrar nas minhas defesas naturais.

E se atendermos às declarações de especialistas e dos políticos mais honestos, os contágios nesta segunda vaga, são feitos  principalmente no ambiente da casa de família ou em situações de especial relacionamento familiar. E isto quer dizer que os meus filhos e a minha mulher, que são as pessoas que mais amo, se transformaram no meu inimigo e eu transmutei o meu amor em ódio ao ponto de também querer matá-los?

É por não nos termos precavido e esclarecido bem junto dos nossos, que estamos agora a pagar uma fatura elevada em vidas perdidas e em economia destroçada.  Será que ainda estamos a tempo de remediar a situação.? Penso que para agir é sempre tempo. Só que devemos optar sempre por ações esclarecidas ou seja devidamente planeadas, com métodos provados e objetivos claros a atingir. Isto em termos de guerra quer dizer que primeiro temos de  de identificar e caracterizar o inimigo.

Constatamos que o inimigo próximo são mesmo os nossos próximos da nossa espécie. Mas porquê? Porque é que mesmo inconscientemente o meu próximo aceita conspirar contra mim e por contraparte eu contra eles? 

NÃO NOS DEVEMOS ESQUECER QUE OS VIRUS SÃO ARMAS DE NIVEL 3 destinadas a manipular a estrutura de quem atacam e são quase sempre armas de luta entre espécies.

Um processo de especiação ou a divisão de uma espécie em duas, quer sobrevivam ambas ou apenas uma, é até agora um processo aleatório que obedece às regras da seleção natural darwiniana. Primeiro  na aleatoriedade da reprodução aparecem as capacidades e só depois a vida testa a sua viabilidade (adaptação ao contexto.) As características que forem viáveis vão transmitir-se às próximas gerações. 

Os vírus representam sempre um papel muito importante nos processos de especiação pois provocam uma eliminação rápida dos elementos de uma espécie que não lhes sobrevivem. Os sobreviventes podem ter uma ou várias características diferentes da espécie de partida e em poucas gerações essa diferença fica mais marcada se conduz a uma melhor adaptação ao ambiente que os rodeia.

 Nesse sentido o vírus é uma arma da espécie do futuro , usada contra a espécie presente ou de partida. Isto é tão contra intuitivo que até parece inverter o princípio da causalidade, segundo o qual a causa precede sempre a consequência. 

Identificado que está o inimigo dentro da nossa espécie , vamos analisar a possibilidade do inimigo ser de outra espécie.

Se tomarmos em conta os ataques e destruições diretas e indiretas que temos feito às outras espécies , não devemos admirar-nos se a humanidade for considerada o inimigo público número 1 pelos outros compartilhantes deste planeta. 

Se fossemos a votos , garantidamente ganharíamos por larga margem o troféu do "abominável malfeitor do planeta". Nós não atacamos apenas algumas espécies , nós atacamos "reinos" inteiros como o das bactérias. E estamos a fazer-lhes o maior ataque da história do planeta. É pois compreensível que a natureza reaja contra nós com todas as forças. Afinal para o resto dos seres vivos é uma questão de sobrevivência.

Como não sabemos as razões que movem as outras espécies, vamos olhar para a nossa e ver se identificamos aquilo que no nosso comportamento prejudica os outros.

 Toda gente fala das alterações climáticas e se afirma que a principal causa deste flagelo é a atividade humana. À atividade humana no seu todo podemos chamá-la de Pegada Ecológica.  

Já demonstrei numa serie de artigos sobre temas económicos, que tudo o que temos ou usamos tem um custo que é a soma de 3 parcelas : o custo de aquisição; o custo de posse e o custo de reposição das condições anteriores à nossa ação (ou seja o custo de apagar a nossa pegada ecológica).

Também mostrei que desde o seu aparecimento a humanidade se comporta como um caloteiro compulsivo em que a geração atual se '' esquece'' sistematicamente  de pagar a remoção da pegada ecológica, passando essa dívida para as gerações futuras.

Um dos componentes da nossa pegada ecológica é a mobilidade, campo em que ultrapassámos no sec XX, os grandes viajantes do planeta que são as aves. 

Tudo o que seja viajar traz consigo o perigo de exposição a agentes biológicos estranhos, ou seja aumenta fortemente o risco biológico, como se diria em Higiene Saúde e Segurança no Trabalho. 

As aves migratórias  sempre foram os grandes responsáveis pela disseminação de doenças de uns territórios para outros. Mas, como disse antes, a humanidade ultrapassou-as e em muito...

Toda a nossa mobilidade excessiva, derivada da globalização, tornou o preço do a pagar derivado da nossa pegada ecológica incomportável para os recursos da civilização atual. Daí que quando a natureza nos apresentou as faturas, nós entramos em falência e a civilização está a dar sinais de colapso iminente, nestes tempos de pandemia COVID19.

Identificados que estão genericamente os inimigos internos e externos e as razões da sua inimizade, podemos passar agora para os meios de como vencer esta guerra, ou seja de conseguir uma paz que não nos seja muito desfavorável. Isso será o tema dos próximos artigos.

continua...


12 maio 2020

A verdade dos números

Espremer os números
Na gíria da investigação criminal da polícia francesa há uma frase lapidar "Cherchez la femme " (popularizada por Alexandre Dumas-pai )  que significa: " procurem o mobil do crime, procurem a razão ou a verdade". Em ciência também há uma frase similar "Querem a verdade? Espremam os números!".
Essa é a proposta que deixo aos leitores na série de artigos que agora inicio.

PREÂMBULO
Grande parte das teorias científicas com mais impacto nos últimos séculos, que tornaram famosos os seus autores, poderiam ter sido formuladas por outros na mesma época ou até anteriormente em outras décadas ou mesmo séculos, pois antes já existiam os conhecimentos e as ferramentas utilizadas para a sua demonstração.
Posso dar como exemplo , a formulação da Teoria da Relatividade Restrita por Albert Einstein em 1905. Os conceitos em que ele se baseou e as ferramentas matemáticas usadas já existiam antes, incluindo a transformação de Lorenz  , omnipresente na formulação por ele adotada.  A genialidade deste vulto maior da física do séc.XX foi reanalisar os dados existentes por um novo ângulo e tirar as conclusões necessárias, mesmo que isso fosse contra intuitivo.
Outra questão a considerar é que o conhecimento só se transforma verdadeiramente em ciência quando satisfaz cumulativamente duas condições:
 a) pode ser representado em linguagem matemática
 e
b) dá origem ou suporte a tecnologia, ou seja, complementa a experiência.
Os dados experimentais,  os números, têm subjacente o modelo de representação da realidade. Desde o início da vida na terra que os seres, a que nós chamamos vivos, interagem com a realidade envolvente através da análise dos dados recolhidos pelos seus sensores. Esses dados são muito mais usados como valores relativos de uma grandeza (taxa de variação, ou gradiente) do que como medidas absolutas. A vida depende muito mais da mudança do que das coisas que não variam. Entre as características dessa mudança as que têm mais significado para os seres vivos são  o gradiente (taxa de variação de primeira ordem) e a variação desse gradiente (taxa de variação de segunda ordem ) - a aceleração da mudança.
Isso significa que na maioria das vezes a realidade é representada por um modelo descrito por sistemas de equações diferenciais de primeira ordem. Por exemplo, se conhecemos a velocidade de um corpo que se movimenta em linha reta, podemos escrever que o espaço percorrido pelo corpo é Espaço = vxt. (sendo v a velocidade medida e t o tempo de duração da observação ). Ora , embora esta equação nos descreva bem o momento presente, não nos dá qualquer informação sobre a posição do corpo no passado ou no futuro. Existe uma incerteza intrínseca sobre a posição inicial do corpo em relação ao referencial por nós escolhido e ainda se nessa posição inicial o corpo estava imóvel ou tinha uma velocidade igual ou diferente da presente. Pela mesma razão não nos permite conhecer a posição no futuro.
Esta representação da realidade por meio de equações diferenciais é intrinsecamente incerta ou incompleta. Por isso, aos cálculos que se podem realizar com esta fórmula, eu chamo cálculos de incertezas. Esses cálculos são obtidos resolvendo o sistema de equações diferenciais que descrevem a realidade observada, ou seja, calculando os integrais dessas equações.
Na maioria das situações reais antes de termos a realidade representada pelo seu modelo (o tal sistema de equações diferenciais) temos apenas uma coleção de números resultantes do registo de observações, que normalmente se organizam em tabelas. Destas tabelas e da sua representação gráfica os investigadores tentam extrair um modelo matemático (as equações) que permita simular a realidade e lhes permita comparar os resultados experimentais com os valores calculados e novamente por exame das diferenças procurar afinar o modelo. Tentativa-> erro-> correção : é este o método da vida para obter o conhecimento da realidade.
Mas mesmo  com as fórmulas certas extraídas de números que são o resultado do registo de gradientes (derivadas de primeira ordem 1 ou ou da variação destes ( derivadas de segunda ordem) as condições iniciais não podem ser inferidas diretamente desses números e têm de ser arbitradas de forma a que as previsões do modelo estejam de acordo com resultados experimentais.
Se os dados que se estão a modelar representam uma evolução na linha do tempo o que anteriormente se disse significa que para o estado presente temos muitos estados passados possíveis cujo leque só se restringe com mais dados experimentais muitas vezes futuros.
Este preâmbulo em que se expuseram conceitos matemática elementares vai servir de base para analisar uma situação, real que é a pandemia ARS - COV-2 ou COVID19
No artigo "Tempos perigosos" chamei a atenção para uma evolução sem confinamento , baseada no conhecimento sobre esse vírus disponível  na altura e sobre o comportamento dos seres humanos atuais, em ambiente urbano, nos países ocidentais. Consideramos também como condições iniciais: o contágio a partir de uma única fonte que podemos designar por paciente zero. Considerei ainda que cada infetado contagiaria de quatro sete pessoas por semana e fiz projeção da evolução nos dois cenários, ao longo de 24 semanas. Como os números apontavam para uma catástrofe mundial de grandes proporções apontei como única solução possível, a adoção de medidas drásticas de confinamento em todo o mundo, o que na realidade foi adotado pela maioria do estados . Mesmo assim, alguns estados muito populosos como os USA, a Itália, a França, a Inglaterra e o Brasil demoraram adoção das medidas necessárias e estão agora abraços com uma catástrofe sanitária e social de proporções cataclísmicas.
Relembro o números da minha projecão para uma taxa de contágio de 4 novos infetados por cada contagiado INFETADOS =4^mum. de semanas de epidemia. Como estamos na vigésima semana após a hipotética primeira infecção do paciente zero, supostamente na cidade chinesa de Wuhan , dando como ponto de partida , a data da primeira notificação das autoridades de saúde chinesas : 31-12-2019, o que significa que o primeiro contágio teria sido feito entre um a quatro de Dezembro de 2019
Assim , no dia de hoje, à vigésima semana , teríamos N(infetados)=4^20=1.099.511.627.776 ou seja já teríamos contagiado toda a humanidade desde a semana 16,5 e já estariamos a contaminar os céus.!!! Felizmente não aconteceu nada disso. Fizemos uma boa contenção - confinamento e etiqueta social.
Além do mais, o modelo usado não é adequado para propagação de epidemias, mas sim para reações em cadeia (explosivas). A modelação de epidemias mais usada na ciência é o modelo médico SIR (Suscetíveis; Infetados, Removidos - Recuperados)
https://wikiciencias.casadasciencias.org/wiki/index.php/Modelo_SIR_em_epidemiologia
Se aplicarmos uma taxa Ro entre 2 e 2,5 considerada a taxa média de contágio inicial no modelo  SIR, ao desenvolvimento exponencial usado por mim no artigo citado, temos N=2,146^20 = 4.391.354 Valor muito próximo dos reais 4.283. 504 casos confirmados hoje 12-5-2020. Tendo em atenção que sendo um valor médio significa que se nos países com mais sucesso no combate já temos um R entre 0,9 e 1,1 então no começo de todos os países e naqueles em que a pandemia ainda está fora de controlo a taxa de contágio é muito superior. Talvez mais próxima de 4 ou então que o número real de infetados é muitíssimo maior do que o participado, por não se terem feito os testes suficientes e ainda porque agora está confirmado que a maioria dos infetados (mais de 80%) permanece assintomático sem desenvolver a doença mas transmite o vírus. O que mostra que os infetados devem ser cinco a dez vezes mais do que os participados.
Vamos ver o que nos dizem os números...
continua...


29 abril 2020

Tempos perigosos - 3

Governar em tempos perigosos .
No artigo anterior chamamos a atenção para a necessidade de o estado ser "o projetista", o organizador, o regulador  e o controlador do funcionamento do tecido económico, pondo todas as forças produtivas a laborar em prol do bem comum e não apenas a favorecer os interesses de uma classe ou de uma minoria da população. Isto significa planificar a economia, mas não do modo que já foi usado no séc.XX nos países governados pelos partidos comunistas e que no longo prazo deu muito maus resultados , colocando as forças produtivas ao serviço  dos interesses de uma classe exploradora: a classe política (como demonstrei neste blog em https://penanet.blogspot.com/2010/10/razoes-da-implosao-da-urss.html), que lá se chamava " nomenklatura".
Os problemas mais prementes, que se identificam ao nível económico relacionam - se com o abastecimento de bens e serviços essenciais à sociedade, embora a ação conjugada dos efeitos inevitáveis da quarta revolução industrial, com a pandemia COVID19 e com a catástrofe climática que se avizinha, já impusesse aos governantes o planeamento das mudanças estruturais imprescindíveis no prazo de poucos anos. Com a presente catástrofe, a janela de oportunidade para a tomada das decisões certas encurtou do horizonte de alguns anos para o presente imediato. Assim identificamos algumas medidas urgentes que passamos a enumerar:
1- Impedir o desemprego descontrolado em especial da camada mais jovem da sociedade.
 Esta última muito permeável a ideais e comportamentos extremistas, mas também uma ė uma reserva social de generosidade e uma fonte natural de abnegação em prol do bem comum ( É por isso que na maioria dos estados é aí que se recrutam os elementos das forças militares).
Atualmente a sobrevivência das nações e dos estados depende cada vez menos das capacidades de combate em guerra contra os exércitos dos outros e mais com a capacidade de se adaptar às novas necessidades económicas. Esta epidemia mostrou à evidência que é muito mais precisa uma Defesa Civil capaz e muito bem preparada, do que canhões , aviões de combate ou bombas. ( Os USA - a maior potência militar do mundo , paralisaram em menos de um mês e já tiveram mais baixas do que nas guerras que travaram nas 3 ou 4 décadas anteriores.)
Assim a minha proposta para Portugal é reativar a dádiva obrigatória de serviço ao país na forma de um Serviço Cívico Obrigatório de Defesa, prestado nos termos já expostos no artigo publicado em https://penanet.blogspot.com/2018/11/servico-civico-obrigatorio-de-defesa.html.
Só com esta medida se conseguirá preparar e utilizar esta força social que reside na geração jovem que será simultaneamente a maior contribuidora para este combate de sobrevivência  no imediato e a maior beneficiária a médio e longo prazo.
2 - garantir a produção nacional de bens estratégicos e um stock capaz de suprir as necessidades do país em situações de calamidade prolongada, como é previsível que aconteçam no imediato e no futuro próximo, com várias repetições ao longo do séc. XXI.
Para isso o governo tem de elaborar um plano de contingência nacional onde conste:
a) o cálculo ou pelo menos uma estimativa bem fundamentada , das necessidades de consumo.
b) o inventário exaustivo das possíveis entidades produtoras
c) o inventário  das necessidades de matérias primas específicas para produzir esses bens em Portugal, dando sempre prioridade às de origem nacional , cujo custo não se afaste muito da média nos mercados internacionais
d) o inventário das necessidades de mão de obra com as qualificações exigidas para esse fim , cuja formação tenha de ser antecipadamente organizada pelo sistema público de ensino
e) contratualizar a produção com as empresas existentes (privadas ou públicas) de forma a garantir a concorrência, a não formação de monopólios e ao alargamento do leque de empresas qualificadas. Por exemplo seguindo um método muito usado nas empreitadas da EDP e outras grandes empresas de referência como o que a seguir se detalha.
e1) Definir as regras e as condições técnico comerciais para as empresas se candidatarem ao concurso público.
e 2) Em vez de na seleção dos concorrentes se optar pelo princípio de o vencedor ficar com tudo, se opta pelo princípio da repartição proporcional entre por  exemplo os 5 primeiros classificados.
f) constituir uma rede de armazenamento e distribuição fiável , capaz de suportar pelo menos as calamidades conhecidas.
3 - garantir um pacto social de salvação nacional firmado entre os  representantes das diversas classes sociais onde fiquem claramente definidos:
a) os objetivos económicos e sociais a atingir (por exemplo a repartição de rendimento)
b) os meios e método de controlo da evolução em direção a esses objetivos
c) as responsabilidades de cada um dos intervenientes nesse contrato
4 -  Um pacto político complementar do anterior firmado desejavelmente entre todas as forças e organizações políticas ou (agrupamentos de organizações) que valide e aprove os objetivos, os métodos e os meios a usar para os concretizar?
5) - Organizar um sistema de pagamentos certificado pelo estado, baseado em sistemas públicos de registo de transações suportado por plataformas digitais públicas funcionalmente equivalente ao sistema de faturação dos trabalhados independente os chamadas "recibos verdes" , que estenda e substituta o conceito "SAFT".
a) - Para as empresas aderentes de forma voluntária a este sistema de pagamento o estado poderia pagar  as suas aquisições em Títulos de Crédito do Tesouro transacionáveis que poderiam ser usados como meio de saldo de débitos entre empresas e entre estas e o estado mantendo o seu valor nominal ou convertidas em euros no sistema bancário sujeitas à cotação do dia, passados 90 dias da sua emissão.
b) o estado pagaria sempre as suas aquisições a empresas nacionais no prazo máximo de 30 dias a dinheiro ou em alternativa em Títulos de Crédito do Tesouro
6 - Isentar de IRC o lucros das empresas que produzissem bens e serviços constantes no plano nacional de produção regulada pelo estado.
7 - Criar incentivos fiscais para os capitais que ficassem instalados em Portugal por um período mínimo de dez anos. ("Isto significa apoio aos setlers") Agravar os impostos até ao limite máximo permitido pela legislação da UE para as exportações de capital que não fossem para suportar um investimento direto aprovado de empresas privadas no estrangeiro.
8- Proibir a exportação de capitais para paraísos fiscais e a deslocação de empresas portuguesas para países da UE ou (outros) com regimes fiscais e laborais normas de proteção ambiental significativamente diferentes das  portuguesas que na prática consubstanciem concorrência desleal com as empresas sediadas em Portugal
9 - Proibir as importações de países que a serviço de informações portuguesas confirme não respeitarem os direitos cívicos, laborais e normas de proteção ambiental consagrados pela ONU.
10 - Organizar a transição acelerada para o regime económico decorrente da 4a Revolução Industrial .
a) produção cada vez mais automatizada e robotizada de bens e serviços,
b) introduzir a aplicação das Inteligências Artificiais em todas as atividades económicas e serviços do Estado, à medida que seja tecnicamente possível.
c) Investimento público forte na qualificação técnica superior e na I&D ( Investigação e Desenvolvimento)
d) - Tornar o país 80% energeticamente independente dos combustíveis fósseis
e) - Iniciar de imediato o afastamento da "sociedade de consumo" em direção a um consumo sustentável em termos sociais e ambientais, diminuindo a pegada ecológica do país através de um método prudente de decrescimento sustentável, o que implica transmitir uma nova mentalidade e novo comportamentos ao consumidores.
f) Tornar mais abrangente a participação do cidadãos na decisão democrática ou seja aumentar a democracia participativa na vida política como forma de mobilizar os cidadãos para as grandes causas nacionais e aumentar a coesão social.





15 abril 2020

Da Guerra 3


Apresentação de uma situação de guerra de nível 3
Na concessão clássica de guerra, os beligerantes procuram ocupar a posição alta, ou seja a posição que lhe permita observar o inimigo sem ser notado, ou no caso de ser visto, ter mais possibilidades de manobra do que este. Isto significa ter uma vantagem mesmo antes da luta começar, o que poupa recursos e muitas vezes permite mesmo ganhar a guerra quase sem luta.
Por definição as armas de nível 3 são sempre posição alta em relação às armas de níveis inferiores. As forças militares dos países mais desenvolvidos atualmente estão a fazer o seus atos de guerra iniciando sempre por acões de nível 3 e, a começar pelos USA, ninguém declara guerra antes de iniciar os bombardeamentos aéreos. Tenta-se sempre atacar de surpresa, furtivo, sem que os elementos das nossas forças e exponham a ser descobertos . Isto implica usar serviços de inteligência ou armamento com AI incluida e autonomia como drones mecânicos ou manodrones, os ainda drones biológicos . Os  vírus enquadram-se nesta última categoria.
É evidente que o uso de vírus como arma parece moralmente condenável e até um crime repugnante. Usar vírus como arma, por ser uma de destruição macissa que afeta o setor civil do inimigo, é punido pelo direito internacional, pois as leis da guerra destinam esta, "arte" apenas a uma classe decidãos: as forças armadas. Pelo direito internacional o uso de armas biológicas é considerado crime de genocídio, punível pelo Tribunal Penal Internacional e, por isso , ninguém assume que as tem ou que as investiga, fora do âmbito da saúde.
Contudo, todas as grandes potências e até as pequenas belicosas, ( e supostamente vários grupos radicais terroristas), têm laboratórios dedicados ao seu estudo que presumivelmente são capazes de os fabricar (não se sabe se já é possivel fabricá-los de raíz ou apenas se consegue manipular os existentes).
Vamos de seguida analisar mais em detalhe o caso dos vírus.
Os vírus são organismos que a ciência atual não considera seres vivos pois não obedecem ao critério de F . Varela e H. Maturana (seres vivos são seres capazes de autonomamente criarem e manterem todos os seus blocos constituintes, incluindo os destinados à sua reprodução, ou seja, são seres dotados de autopoiese). Não se sabe se apareceram antes dos seres vivos atuais ou depois, se vieram do espaço exterior ou se foram criados localmente pela natureza, no chamado "Caldo químico primordial", onde se supõe que nasceu a vida na terra.
Para o âmbito deste artigo consideraremos que os vírus são organismos probióticos, transportadores de uma receita para fabricar proteínas que processada pela estrutura interna de um ( ou de alguns) organismo (s) específico(s) em que o vírus possa penetrar, cria clones dele mesmo, que depois de matar o hospedeiro, se espalham pelo ambiente circundante.
Pode-se ter uma visão genérica destes seres num manual para profissionais de saúde da farmaceutica MSD.
https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/v%C3%ADrus/vis%C3%A3o-geral-dos-v%C3%ADrus
ou ainda
https://super.abril.com.br/especiais/virus-vida-e-obra-do-mais-intrigante-dos-seres/
https://m. biologianet.com/biodiversidade/virus.htm
https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/Ciencias/biovirus.php
O "main stream" da ciência divide os vírus em 7 categorias conforme a constituição do seu material genético (2 de DNA;3 de RNA;2 de retrovirus, segundo David Baltimore ) . Contudo, estão sempre a ser descobertos novos tipos, como um curioso vírus encontrado num lago artificial no Brasil que é composto por 4 partes que se podem transmitir separadamente , ficando o vírus ativo quando 3 se encontram dentro do mesmo hospedeiro. Este último vírus , cuja origem se desconhece, parece-se mais com uma bomba relógio genética do tipo das profusamente descritas nas obras de Ficção Científica sobre calamidades.
A experiência atual demonstra que ainda nos falta aprender muito sobre vírus, quer para poder aplicá-los a nosso favor (por exemplo como vetores para terapia genética em certas doenças), quer para combater os seus malefícios na doença ou como arma na guerra.
Voltando ao tema central deste artigo: a guerra de nível 3 que pode ser desencadeada contra um inimigo estruturado organicamente, cujos processos e estados são do nosso conhecimento. contra este tipo de inimigos é mais barato meter um "grãozinho na engrenagem ", bloqueando ou modificando o seu funcionamento, do que atacá-lo pela força.
Este é o caso das sociedades humanas urbanas globalizadas. A crise do COVID 19 demonstra até à evidência quão frágil é a nossa sociedade e como é fácil desestabilizá-la e mesmo destruí-la. Isto evidencia que na guerra de nível 3 é preciso ter um sistema de defesa efetivo e funcional muito mais completo do que forças armadas. Assim vamos enunciar alguns princípios gerais:
1- Redundância de funções, processos, estruturas e stoc de reserva de produtos e pessoas
2 - Controlo de qualidade de  produtos  e fiabilidade de processos locais e globais (com muitos Check points)
3 - Controlo de fronteira e intrusão
4 - Eliminar produtos nocivos e elementos estranhos (policiamento ativo - anticorpos)
5 - Planeamento e supervisão central com automatismos autónomos nas estruturas locais.
Isto parecem verdades de La Palice mas, se observarmos bem, foram estes princípios simples que não foram respeitados na construção da nossa sociedade e da nossa organização económica. É isto que está a falhar nesta crise que atravessamos.
A economia das sociedades com modo de produção capitalista na sua fase atual é a economia da sociedade de consumo. Produz-se para o imediato funcionando tudo numa cadeia"just in time" sem stock nem redundância de circuitos, processos e estruturas. Apesar da tecnologia o permitir, as nossas unidades industriais não são multi-funcionais e têm um baixo poder adaptativo, interrompendo-se a produção de bens e serviços essenciais ao primeiro percalço. Falhamos logo na primeira condição de defesa contra um ataque de nível 3. Falhamos também no segundo ponto: não temos controlo eficaz dos processos sociais. Falhámos clamorosamente no controlo de fronteira. Por isso esta epidemia se transformou uma catástrofe mundial em menos de 4 meses.
Por último verificando a falta de um planeamento e supervisão mundiais e também não se mostraram eficazes os poderes nacionais e locais.
Podemos dizer que a humanidade falhou redondamente na prevenção e na primeira linha de combate . Não estávamos preparados para guerra de nível 3 e ainda não conseguimos identificar o inimigo. Não sabemos se é interno ou uma ou várias espécies externas distintas. O inimigo, aquele que se está a defender ou beneficia da nossa incapacidade de defesa, continua furtivo, com o seu exército de "drones" a atuar para lá do horizonte, expandindo-se à custa dos nossos recursos.
continua...

01 abril 2020

Tempos perigosos - 2

O dinheiro não se come
Nestes tempos de crise COVID19, a maior consequência não é a morte dos velhinhos, crianças e doentes , que infelizmente pelas leis da natureza, morreriam mais cedo ou mais tarde, desta doença ou de outra causa, na melhor das hipóteses a senilidade.  Com isto não quero desvalorizar a vida humana, que é para mim o valor nº1. Serve apenas para chamar a atenção dos leitores que as perdas de vidas diretas e indiretas vão ser muitas mais do que as atrás referidas.
A maior desgraça que nos espera é a morte da economia e do modo de vida da sociedade de consumo que nós conhecemos. E, isso implica muitas mais fatalidades individuais, familiares ou possivelmente cidades e nações inteiras, causadas pelas doenças pela fome e pela desestruturação familiar e social.
No mundo atual vive-se para o imediato ("Just in Time" - é o termo usado nos negócios), produz-se para ser consumido imediatamente, com stock zero. Todos os recursos da sociedade: economia, administração de justiça , governação e política, sistemas de saúde, forças de segurança pública e mesmo as forças militares, estão a atuar formatadas minimalistas,  para o imediatismo, sem reservas nem redundâncias, confiantes que a rede social globalizada suportaria qualquer abalo ou catástrofe.
Com a paralização forçada do aparelho produtivo devido às quarentenas, em quase todos os setores, a curto prazo, irão faltar bens e a produção de serviços não essenciais está paralizada. Ainda só temos pouco mais de duas semanas de economia quase parada e já quase não há serviços não essenciais e as fábricas já estão a ficar quase todas paradas e nada produzem.
A solução que os governos em geral propuseram foi dar dinheiro às empresas para estas poderem pagar aos seus empregados e não encerrarem atividade, entrando em falência.
Contudo, depois de esgotado o stock, o dinheiro não consegue comprar nada, e, como dizia dizia Papalagui : "O dinheiro não se come!". Resta o desemprego, a fome e o caos social, com o que eu pessoalmente já convivi em África, no final do séc. XX e princípio do séc. XXI. Mas, nesses casos, as causas eram as epidemias conhecidas, como a malária e a cólera e as causas de origem humana como: a guerra, a negligência, a má governação e a corrupção. Os resultados destas desgraças conhecidas são milhões de mortos anuais, só que longe da vista e do coração do mundo dos países economicamente favorecidos.
Isto significa que a solução de dar dinheiro sem pôr as fabricas de bens e serviços a funcionar, quase não serve para nada passado pouco tempo. A  solução verdadeira para o problema global que enfrentamos, não era essa como já foi demonstrado pelos matemáticos, em muitas simulações deste tipo de cenários.
O cenário mais parecido com o que se está a passar é o de uma guerra global, em que o inimigo é invisível e desconhecido. Como estamos numa situação de guerra,  é obrigatório ter uma economia de guerra e toda a sociedade organizada e mobilizada para a luta.
Como já foi demonstrado no artigo do meu blog numa série de 13 artigos denominada "Uma visão não marxista da teoria dovalor" , em particular o  8º artigo.  https://penanet.blogspot.com/2013/06/uma-visao-pos-marxista-da-teoria-do_3327.html
o dinheiro (papel/moeda ou dinheiro digital) é apenas uma nota de dívida que fica saldada na transação comercial, em que se muda o título de propriedade de um bem ou usufruto de um serviço, contra o recebimento de uma porção de dinheiro que para o recetor é apenas a possibilidade de permitir por troca comercial a sua conversão em outros títulos de propriedade ou de usufruto que lhe sejam necessários, criando-se com isto um fluxo de permuta comercial entre os seres humanos ou entre as instituições.
Quando por qualquer razão o dinheiro não pode ser convertido em bens ou serviços necessários para quem o possui, deixa de ter valor. Isto significa que o dinheiro como um motor da economia, garantia do fluxo económico de valor (bens e serviços), precisa que todo o setor produtivo esteja em pleno funcionamento.
Ora , nesta crise mundial, há uma paralização não do comércio, mas sim do aparelho produtivo com uma redução drástica da capacidade produtiva global, pelo menos no imediato (um ano de duração). Logo, a injeção de papel moeda na circulação económica, apenas vai atuar enquanto existir stock. Depois o dinheiro desvaloriza-se ou seja, aparece a inflação descontrolada com os seus já conhecidos efeitos colaterais.
Portanto, como se vê, o problema não é a falta de dinheiro em circulação como contrapartida do valor produzido pela sociedade, mas sim, a necessidade de reorganizar a produção de forma adequada às necessidades de consumo de uma economia global de guerra. Daí que o papel principal dos estados seja reorganizar a economia, aplicando as forças produtivas de capital e trabalho, na satisfação das necessidades sociais neste período de crise. Ninguém, pessoa ou empresa, que seja apto para a produção de valor económico pode ser descartado ou aplicar a sua capacidade de forma avulsa ou desorganizada. É aqui que entra o verdadeiro papel do estado como regulador da atividade económica, tornando-se não o único, nem sequer o principal produtor, mas provavelmente o principal grossista no mercado. Tal papel grossista exige uma estrita e correta planificação, orientada para a satisfação das necessidades prioritárias da sociedade, utilizando recursos da ciência, da técnica e mesmo da inteligência artificial, para conseguir esse objetivo .
Estamos numa época em que temos as melhores ferramentas científicas, tecnológicas, mão de obra qualificada, robôs e inteligência artificial como arma para enfrentar este inimigo global que é a pandemia do COVID19.
O estado não pode deixar a resolução deste problema económico às condições do acaso de um mercado absolutamente liberalizado e dependente apenas das intenções e ações dos agentes económicos individuais que, por definição, em modo de produção capitalista puro, só lhes interessa defender o seu interesse individual, que é aumentar a sua quota parte  de capital, não  tendo como objetivo, nenhum interesse em sacrificar os seus objetivos individuais aos interesses globais. Daí que a função do estado não pode ser deixar a economia ao livre arbítrio dos interesses particulares, mas sim dirigir coordenar e enquadrar todas as forças produtivas (capital e trabalho), tal como faria um general a dirigir uma ação bélica. Esta conceção de estado está mais próxima do socialismo do que do liberalismo puro, que advoga uma posição minimalista para o estado. Necessitámos mais das ideias  de Keynes do que do ultra liberalismo de Milton Friedman.
Continua....

16 março 2020

Da Guerra - 2

O vírus COVID19 como arma de combate

Numa guerra de nível 3 ou seja uma guerra contra um inimigo do qual conhecemos ou podemos intuir a estrutura e funcionamento, ou seja a sua organização funcional, consomem-se muito menos recursos se bloquearmos ou modificarmos o seu funcionamento em vez de lutarmos corpo a corpo ( frente a frente) com ele numa luta simétrica. É este o atual conceito de guerra: a chamada guerra híbrida. Vide um artigo de divulgação em:
https://dinamicaglobal.wordpress.com/2016/08/31/entendendo-a-guerra-hibrida-uma-analise-explicativa-traz-a-definicao-de-guerra-nao-guerra-paz-e-tipos-de-guerra/ 
É minha convicção de que a maioria dos vírus existentes na natureza são armas de combate remoto entre espécies. A espécie hospedeira, o reservatório do vírus, ganha vantagem sobre outras espécies concorrentes para as quais este é prejudicial ou letal.  Por um custo diminuto, elimina ou afasta as espécies concorrentes.
Além disso, os vírus continuam a sua ação mesmo que o ser emissor já esteja morto, podendo mesmo tornar-se autónomo em relação à espécie que o lançou em combate – é o "drone" perfeito com a inteligência necessária para o fim a que se destina. Para a sua deslocação não usa recursos dos seres emissores e para a sua multiplicação usa recursos do alvo inimigo.
Os vírus são os verdadeiros super soldados, perfeitamente aptos para a “ação para lá do horizonte” ou guerra profunda, como é designada nas teorias militares modernas.(1) (2)
Na vida, a ação dos vírus tem uma função ecológica importante que é limitar os predadores de uma espécie, em número e em capacidade.
O ser humano não tem espécies predadoras; nenhuma espécie depende do ser humano como alimento. O ser humano atual é o super-predador desta época no planeta terra. Nós levamos a ação de predador a níveis nunca anteriormente observados na história conhecida da vida.  A Humanidade colonizou o planeta e modificou o ambiente e muitas espécies para o servirem. A Humanidade estendeu o conceito ecológico de cadeia alimentar para “cadeia de suporte ou subsistência não só dos indivíduos como da  sua super estrutura social”, tornando-se um predador de um tipo novo. Elimina espécies concorrentes na cadeia alimentar ao mesmo tempo que modifica outras incluindo-as nas suas cadeias: alimentar e ou de subsistência.
A maior parte das vezes isso não foi feito de modo planificado, com estudo dos benefícios e custos colaterais. Simplesmente aconteceu, até de modo aleatório.
  A Humanidade ao adaptar o ambiente em função das suas necessidades imediatas ou de curto prazo, interferiu fortemente nas cadeias tróficas do sistema ecológico planetário, levando a uma extinção direta e indireta de milhares de espécies, sem pagar na devida altura, o custo da reposição das condições iniciais (apagar ou de qualquer forma compensar a pegada ecológica). Essa dívida cujo custo foi sempre postergado, atingiu atualmente valores incomportáveis para o ambiente planetário e a natureza está agora a exigir-nos esse pagamento de múltiplas formas.
       Para agravar a nossa guerra contra outras espécies e até intra espécie, iniciamos a manipulação genética das espécies (incluindo a nossa ) e a manipulação genética e produção de vírus usados para fins intra espécie incluindo a guerra.
       Ou seja, iniciamos a produção de armas e meios de luta de nível 3, sem o conhecimento consolidado de tais artefactos e das consequências do seu uso, especialmente as consequências de longo prazo.
       Globalmente estamos a comportar-nos como aprendizes de feiticeiro. (até tentamos fazer profecias!) vide a série de artigos
       https://penanet.blogspot.com/2017/06/aprendizes-de-feiticeiro.html
       e seguintes sobre o mesmo tema.
       Aqueles que pensam que todos os problemas se resolvem campo da luta militar, os chamados falcões, têm frequentemente a tentação de desenvolver  e usar “lanças” para as quais o inimigo ainda não tenha o escudo adequado. A intenção do uso de armas e ações de guerra de nível 3 é muito forte e generalizada no mundo ocidental, que pensa que o escudo atómico e as armas de precisão de nível 2 de que dispõem, impede a retaliação com armamento convencional e ações generalizadas de nível 2.  Reavivam o pior espírito de guerra fria.
       Por outro lado, a maioria dessa classe de políticos, conotados com o neoliberalismo económico da escola de Chicago e com ideologias populistas defensoras do estado totalitário, (Steve Bannon e Trumpismo) do supremacismo de classe ou étnico e da governação por um líder messiânico, advoga a terapia do choque  (https://pt.wikipedia.org/wiki/Terapia_de_choque_ (economia)
       como forma de justificar a aniquilação da oposição interna. Este método de transformação social e luta contra o inimigo interno, usou e usa de forma intensiva armas de software de nível 3 e suspeita-se que está a começar a usar também armas “biológicas” desse nível para atingir os seus objetivos, dos quais, o mais ambicioso é a criação de uma nova espécie de super-homens, para dominar o planeta e o espaço alcançável.
       Podendo a humanidade estar às portas de uma especiação (diferenciação de espécies) e os recursos existentes no planeta não suportarem a presença de duas espécies super predadoras, é mais do que natural que a sub-espécie mais desenvolvida use também os vírus como arma para enfraquecer o mesmo eliminar o inimigo interno.
       Nesse sentido penso que os dados disponíveis sobre o vírus SARS-Cov2 e sobre a doença que provoca : a COVID19 , ao apontarem para a origem artificial (ou de causa humana ) da PANDEMIA , (mesmo que o vírus tenha aparecido  primeiro na natureza)  pelo menos em parte: como na forma de difusão, parece enquadrar-se no conceito de vírus de luta entre espécies.
       Para testar-mos esta hipótese socorremo-nos dos dados de observações epidemiológicas difundidos publicamente através das redes sociais científicas e das redes sociais de lazer como os seguintes:
       1 - https://dinamicaglobal.wordpress.com/2020/03/10/coronavirus-da-china-uma-atualizacao-chocante-o-virus-se-originou-nos-eua-relatorios-do-japao-china-e-taiwan-sobre-a-origem-do-virus/
       2 - https://observador.pt/especiais/a-matematica-que-explica-o-tsunami-europeu-e-portugues/
       3 - https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=3374654089216560&id=100000160060056

Continua.....
(1) Georgii Isserson, foi um teórico da “batalha profunda” (sobre a qual escrevi em Deep Battle and the Culture of War (A Batalha em Profundidade e a Cultura da Guerra) e o autor de dois tratados importantes, The Evolution of Operational Art (A Evolução da Arte Operacional) de 1932 e 1937, e Fundamentals of the Deep Operation (Fundamentos da Operação em Profundidade), de 1933.
…..
(2) A tradução do artigo acima citado pelo general Gerasimov foi postada no Facebook por Robert Coalson (o texto original russo também está disponível). É uma obra de grande visão militar, admirável em sua clareza analítica. Nesta tradução lemos:
       “O foco dos métodos aplicados de conflito alterou na direção da ampla utilização de medidas políticas, económicas, informativas, humanitárias e outras não militares – aplicada em coordenação com o potencial de protesto da população. Tudo isto é complementado por meios militares de um personagem oculto, incluindo a realização de ações de conflito informacional e as ações das forças de operações especiais. O uso aberto de forças – muitas vezes sob o disfarce de manutenção da paz e regulação de crise – é utilizado apenas em um certo estágio, principalmente para o alcance do sucesso final no conflito”
.


14 março 2020

Da Guerra - 1

DA GUERRA E OUTRAS EMERGÊNCIAS CATASTRÓFICAS


Nesta sexta feira 13 de Março de 2020, estamos a viver em pleno a primeira grande situação de emergência sanitária, económica e social, planetária deste século, que mais cedo do que se pensa, se tornará uma emergência política global. (Oxalá me engane!)
Quando qualquer emergência se torna política, muita gente, em especial a do círculo do poder, tem a tentação de usar para solucionar os problemas, a extensão da política designada por guerra (Lao-Tse e Sun-Tsu em “ A arte da guerra” ; Von Clauswitz “ Da Guerra”). E debaixo do terror infundido pela situação de emergência a população em geral fica predisposta aceitar um líder salvador que atue em nome de interesses superiores ou divinos. Não é por acaso que as grandes ideologias messiânicas do Sec XX se apoiaram maioritariamente no seguimento de um líder carismático, na maior parte das vezes um ditador que se serviu ou ainda serve, do populismo e da visão simplista e maniqueista do mundo, para dar esperança às massas dos seus países que atravessavam períodos de stress social extremo.
Então se estamos ou nos espera uma situação de guerra o melhor é estarmos bem esclarecidos sobre essa coisa catastrófica que é a guerra.

Em primeiro lugar vamos definir essa coisa que é a guerra.

Não será com certeza a definição canónica de Carl Phillip Gottlieb von Clausewitz, pois a guerra como extensão da política ou uma forma de fazer política por outros meios é aplicável apenas às sociedades humanas organizadas. Complementarmente Von Clausewitz também definiu a guerra como “um ato de violência destinada a obrigar o adversário a cumprir a nossa vontade.” O que não deixa de ser etimologicamente a assunção de que um dos beligerantes, o vencedor, cessa a violência dos atos de guerra, quando os outros se declarem submissos à sua vontade. Isto é jogo político puro, dentro do pressuposto de Lazarus Long personagem de vários livros de SciFi do escritor Robert Heinlein que no seu livro Bloco de Notas de Lazarus Long afirma “ o homem é uma espécie que não tem predador natural em toda a galáxia pelo que tem de ser a própria espécie a fornecer os seus predadores”.

Para o âmbito desde artigo é necessário definir guerra de um modo mais geral. A minha sugestão é que “guerra é todo o conjunto de ações de uma entidade individual ou coletiva destinada a obter para si o controlo de recursos escassos, em detrimento de outras entidades que necessitem dos mesmos recursos”.
A guerra é ela própria uma consumidora de recursos que limitam as disponibilidades globais.  
Na guerra os beligerantes são designados por inimigos.

Assim, em termos biológicos, de acordo com esta definição, existem guerras intraespécie (guerras entre indivíduos ou grupos ou organizações da mesma espécie) e guerras interespécies. 
 
As guerras são o procedimento que implementa a lei da seleção natural de Charles Darwin na evolução das espécies. 

A guerra intraespécie destina-se a propagar os genes mais aptos, através das linhagens mais bem sucedidas no controlo dos recursos escassos. Isso em geral melhora a adaptação das espécies às condições do ambiente, permitindo a maximização do usufruto dos recursos. 

Ao longo da sua existência na terra, a vida encontrou muitas estratégias para cumprir o seu objetivo : - a maximização da quantidade e variabilidade de genes transmitidos à próxima geração. Vou enumerar algumas das mais usadas.

No caso da luta intraespécie:

1- Luta entre machos ou fêmeas dominantes pelo controlo de recursos.
2 – Caça e domínio territorial em grupo (enxames e outras formas de usufruto coletivo de recursos).
3 – No caso da espécie humana, formação organizações sociais: cidades, estados e organizações de estados.

No caso da luta interespécies:

1 – Combate entre indivíduos de espécies diferentes com o objetivo da aniquilação do inimigo sem o utilizar a ele ou aos seus recursos, para suprir as suas próprias necessidades.
2 - Combate entre indivíduos de espécies diferentes com o objetivo de expulsar o inimigo para outros territórios ou outros nichos de recursos.
3 – Exploração cooperativa ou simbiótica assimétrica dos recursos do inimigo passando este à condição de dependente
4 – Parasitismo: roubar para si recursos obtidos ou fabricados por outros indivíduos sem necessidade da sua morte imediata.
5 – Predador em cadeia alimentar: aniquilar o inimigo individual, com o objetivo de o utilizar a ele ou aos seus recursos, como matéria prima da sua alimentação. Na cadeia alimentar, nunca se procura eliminar completamente a espécie inimiga, mas apenas condicionar o número dos seus elementos às necessidades da espécie predadora.

Em suma o objetivo final guerra é terminar a luta com uma paz vantajosa para o vencedor, pois esta, no fundo, atrasa a expansão das espécies beligerantes. Isto é a guerra justificada pela biologia.

Definida a guerra e enumeradas as formas mais comuns, vamos tratar dos objetos e meios usados na guerra. Devido ao seu grande número e diversidade vou apresentá-los agrupados em classes ou níveis.

Nível Zero
Neste nível, os indivíduos lutam utilizando como arma os recursos do seu próprio corpo: energia, membros, e produtos químicos.
Exemplo: dar pancadas, morder, lançar ou injetar venenos, comer os ovos ou as crias etc.

Nível Um
Neste nível os indivíduos lutam utilizando como arma recursos externos ao seu próprio corpo no estado em que eles se encontram na natureza.
Exemplo: dar pancadas com pedras e paus, deixar cair as vítimas para os matar.

Nível Dois
Neste nível os indivíduos lutam utilizando como arma recursos externos ao seu próprio corpo, manufaturando objetos por transformação de matérias que se encontram na natureza.
Exemplo: Espadas, lanças , escudos, veículos, armas de fogo, bombas atómicas, armas químicas, etc.


Nível Três
Neste nível os indivíduos lutam utilizando como arma recursos e internos externos ao seu próprio corpo, manufaturando objetos e procedimentos ou informação atuante (1) que interfiram com a organização das atividades internas ou com a organização social ou coletiva do inimigo, difundindo essa informação atuante (1) ou utilizando máquinas cibernéticas para a sua difusão ou introdução na estrutura dos indivíduos ou das organizações inimigas por forma a manipular atuação, as decisões ou a estrutura funcional do inimigo.
Exemplo: Vírus informáticos ou biológicos, programas ou procedimentos interferentes, notícias falsas, camaleonismo e mimetização de outras espécies.

(1) Chama-se informação atuante ao conjunto de dados ou instruções que possam ser executadas ou processadas por um sistema processador para produzir efeitos pré-determinados pela mesma informação.

Em geral na guerra de nível 3, os custos energéticos, materiais e a quantidade de informação envolvidos, são de valor pouco significativo em relação aos efeitos que produzem no inimigo.
Este é o tipo de guerra mais eficaz e mais barato que os indivíduos, as organizações ou as espécies dispôem para atingir os seus objetivos de aniquilação ou sujeição do inimigo.

Os vírus são a arma de eleição para a guerra entre espécies, ou entre organizações. Na realidade são “drones” biológicos autónomos capazes de atuar sozinhos contra o inimigo remoto levando esse inimigo a reproduzir os soldados que são os carrascos da sua própria destruição. Na guerra com armas de nível três não explodimos o inimigo, fazemo-lo implodir, submetendo-o aos nossos próprios desígnios, sem gastarmos os nossos próprios recursos materiais ou energéticos e quase sem alterar a nossa estrutura funcional.

Continua …..
Na segunda parte deste artigo será analisado em particular, à luz desta visão, o caso do COVID 19

10 março 2020

Tempos perigosos

Procuram-se líderes com coragem para governar em situações de emergência global

Governar em épocas de tensão militar, económica, ou social, causadas pelo homem ou pela natureza, exige dos que detêm o poder, além da capacidade técnica e prudência, uma capacidade de decisão rápida e assertiva.
Nestas situações, não se pode governar esperando que o tempo resolva ou acabe por apontar a melhor solução. Em situações de tensão extrema a janela temporal de oportunidade para tomar a decisão certa é muito estreita: às vezes apenas uma questão de minutos.
Era por isso que já há cerca de 2500 anos, na pátria berço da democracia: a Grécia, se substituía a decisão colegial participada dos cidadãos, pela decisão baseada na genialidade de um chefe todo poderoso, muitas vezes um ditador.
Note-se que eu sou republicano e democrata convicto e não sou adepto de monarquias ou ditaduras. Acredito na bondade genérica da decisão colegial mesmo que esse colégio seja socialmente restrito como um parlamento.
Contudo, em situações de crise, a necessidade de uma decisão assertiva e atempada, já então não se compadecia, nem agora se compadece, com os jogos da negociação política democrática dos tempos de normalidade social, necessariamente morosos a obter decisões por maioria expressiva ou por consenso alargado.
A política é jogada num jogo de interesses de pessoas e grupos que de forma legítima procuram alargar a sua influência ou o seu poder na sociedade. No jogo político tradicional,  cada parte procura obter vantagem imediata, na esperança de a poder conservar a longo prazo. Raramente se planeia a melhoria sustentada das condições de todos a longo prazo. Na cultura popular diz-se que não importa que eu esteja mal, se os outros estiverem pior do que eu. 
A política tradicional joga-se bem quando os adversários são conhecidos e relativamente próximos de nós, em relação aos quais podemos prever ou traçar cenários do seu comportamento, durante um período suficientemente alargado, bem dentro das janelas de oportunidade temporal das das nossas ações.
Quando o decisor se depara com situações imprevistas, com dados que não têm semelhança com a experiência passada, tende na mesma a decidir por analogia, embora possa apresentar alguma criatividade, e, tendo tempo suficiente, pode aprimorar a sua decisão pelo método das aproximações sucessivas, também conhecido por método da tentativa, erro e correção. O grande problema é que nas situações de grande urgência e gravidade, muitas vezes não há tempo para aplicar este método.
Quando se falha morre-se e fora dos jogos virtuais, no mundo real só temos uma vida.
Nesta já pandemia da pneumonia viral COVID-19, estamos numa situação de emergência global, em que se enfrenta um inimigo quase desconhecido, apesar do seu nome genérico ser igual ao de um inimigo bem conhecido: a gripe.
Isto exige decisões rápidas, assertivas e corajosas por parte dos governantes e oposições democráticas. Foi isso que falhou e continua a falhar. A classe política  e as classes economicamente dominantes, continuam a fazer os seus joguinhos, como se tivessem todo o tempo do mundo e fosse possível ganhar ou perder, sem consequências globais e potencialmente fatais para muitas pessoas, setores da sociedade, regiões e países. E isto acontece apesar da única solução possível com resultados favoráveis, ser bem conhecida nos seus efeitos positivos e efeitos colaterais negativos.
A única solução atualmente, e desde o início, sempre disponível para os decisores, chama-se contenção e isolamento, que bloqueia, restringe e atrasa a propagação da onda epidémica, durante o tempo necessário para se encontrar outra solução por intermédio das ciências da saúde.
É claro que esta solução tem efeitos colaterais e custos sociais e económicos elevados, mas mesmo assim muito menores a longo prazo, do que os da solução adotada pelos governantes e políticos europeus incluindo os nossos. Eles optaram por deixar a epidemia difundir-se baseados no princípio cínico de que numa guerra, entre mortos e feridos alguém há de escapar.
Uma das considerações que se ouve até na comunicação social, é que esta epidemia só é mais perigosa para as pessoas de idade e com doenças crónicas, em especial as que causem imunodepressão e que comparada com a gripe normal até tem havido menos mortos. Esta afirmação além de um cinismo intrínseco pelo desprezo manifestado pelas gerações mais idosas, passa subrepticiamente a mensagem de que esta classe de cidadãos já são socialmente descartáveis e por isso a sua morte até pode trazer, a médio prazo, benefício económico para a sociedade pela diminuição dos encargos sociais que se tornaram cada vez maiores devido ao envelhecimento populacional acelerado nos países economicamente mais desenvolvidos.
Esta atitude quer dos governantes quer dos líderes da classe política e dos líderes dos setores económicos mais importantes (grandes empresas), norteou ao ação dos que detêm o poder, desde o início do surto em 31-12 2019, até pelo menos 09-03-2020, data em que num país inteiro: a Itália, foi decretada  quarentena.
Foi este atraso na decisão, esta falta de coragem, esta falta de visão estratégica, esta negligência dos governantes e líderes político - económicos, focados no lucro imediato e na esperança de que a desgraça só batesse à porta dos outros, especialmente dos mais desfavorecidos económica e socialmente, que fez com que um surto localizado e controlável no seu início, se tornasse uma pandemia global que vai atingir toda a humanidade, em todos os lugares deste planeta, causando fatalidades, crise económica, caos social e sabe-se lá o que mais, se no curto período dos 2 a 3 próximos meses, não for encontrada uma vacina ou tratamento eficazes.
Para a classe política, é habitual que a culpa morra solteira ou que seja passada para a globalidade dos cidadãos, isentando das responsabilidades pelos seus atos ou omissões todos os que exercem o poder.
Contudo, eu e muitos outros estudiosos, já demonstramos que o custo da reposição das condições iniciais, ou seja o apagar do rasto das nossas ações sobre a Terra, é um valor que é obrigatório ter em conta em toda a atividade humana, não podendo o seu pagamento ser postergado para um futuro para lá do horizonte temporal dessas atividades, sob a pena de causar grandes catástrofes sociais e ambientais. Este custo de reposição das condições anteriores ao início da epidemia, seria globalmente comportável, se esta ficasse contida num só país, mesmo que este seja economicamente importante em quase todos os setores da atividade económica e financeira. Não pagar esse custo no início, mantendo abertas fronteiras, não iniciando atempadamente medidas de contenção drásticas e e não ativar medidas de solidariedade entre estados, levou à situação de descontrolo atual que terá custos globais milhares de vezes maiores.

Vide http://penanet.blogspot.com/2011/10/reposicao-das-condicoes-iniciais-e.html
(citação):
“… há uma outra classe de custos que é o do apagar a pegada da nossa passagem pelo mundo, repondo as condições iniciais do enquadramento ambiental e social que permitiram a continuidade da produção e a continuidade das gerações humanas e demais seres vivos.
Esse custo é chamado de REPOSIÇÃO DAS CONDIÇÕES INICIAIS. ...”
Ver também  http://penanet.blogspot.com/2018/11/os-custos-escondidos-da-reconstrucao-da.html
e vários outros artigos no mesmo blog onde é abordado o custo dos bens e serviços.

A necessidade de medidas corajosas de contenção, como a restrição da mobilidade de pessoas mercadorias e capitais, advém diretamente das características particulares deste surto e da sua propagação em ambiente de uma sociedade de consumo urbana e globalizada, como passo a demonstrar nos próximos parágrafos, em que analiso um cenário plausível, baseado em dados médios, publicamente aceites para descrever a sociedade e situação atuais.
Infelizmente estão a materializar-se as minhas piores previsões. Esta doença já não é mais um surto local confinado e controlável, mas sim uma pandemia que até pode ficar fora de controlo.
Segundo as informações disponíveis ao dia de hoje 10-03-2020 às 9 h, há 114 544 pessoas doentes confirmadas, com um total de 4026 mortos e apenas 64031 recuperados, o que significa que dos atuais doentes ainda podem morrer mais.
A taxa de mortalidade registada atual é de 3,5 % ou seja cerca de 10 a 30 vezes a taxa média da gripe normal (0,1 – 0,3 %). Na Itália a taxa de mortalidade é muito preocupante mais de 5%. Esta epidemia já está já espalhada por  mais de 100 países com contágios locais iniciados e a crescer.
Devido ao elevado tempo de latência (tempo de incubação médio 14 dias) a onda de expansão do contagio é exponencial, pois mesmo que apenas 5% dos contactos diários de proximidade de uma pessoa urbana (em média cerca de 70) sejam infetados, temos em média arredondada de 4 casos novos por cada doente, em cada 7 dias, se admitirmos que apenas se dá o contágio em metade do tempo de latência ( e nem precisam de ter contacto muito próximo como no caso do professor de música do ISMAI ou da professora da escola da Amadora que vieram da Itália sem notarem que estiveram próximos de pessoas doentes).
A fórmula que nos dá o número de infetados em expansão sem contenção, ao fim de um certo número de semanas, é: Infetados=Novos casos por pessoa por semana Exp (Nº de Semanas).

Exm:
Estamos a 8,5 semanas depois do aviso de novo vírus, portanto o nº total de infetados deveria ser =4x4x4x4x4x4x4x4 ( quatro elevado à oitava potência e meia) = 131 072 . Como apenas temos confirmados 114 544,  significa que  as medidas de contenção já estão a ter os seus efeitos.
Contudo, se a taxa de contágio for um pouco superior, isto é se admitirmos que 10% dos contactos ( sete pessoas por doente por semana, apanham o vírus, teríamos  Infetados=7 Exp 8,5= 15 252 230 pessoas (cerca de 133 vezes mais). Isto significa que tivemos uma forte contenção inicial.
Mas à medida que o contagio vai sendo mais disperso pelo mundo, em especial pelo mundo ocidental, em que há uma tradição de liberdade de circulação, o número real de doentes irá ficar mais próximo do valor teórico mais desfavorável.
Se não houver medidas de contenção corajosas, na segunda semana do quinto mês, já estarão contaminados praticamente todos os habitantes do planeta e já haverá contaminações repetidas ( mais de 10 mil milhões de contaminados e a população humana são cerca de 9 mil milhões).
Se conseguirmos manter a mesma taxa de contenção, mesmo assim, poderemos ter, já a meio de Abril, cerca de 268 milhões de pessoas infetadas e o número incrível de 939 mil mortos.
Estes números não são para assustar ninguém, mas servem apenas para mostrar que individualmente temos todos de contribuir para aumentar a taxa de contenção (a única salvação que temos), já que os políticos por causa da sua subordinação cega aos interesses económicos imediatos, não fizeram, não estão a fazer, e até parece que nem planeiam ações mais drásticas do que as que fizeram até agora.
Nesse sentido considero que o fecho de fronteiras, o recolher obrigatório, a suspensão dos mercados de capitais e o controlo apertado dos movimentos de capitais,  são as medidas mais úteis para bloquear a expansão da doença e conter o caos económico e social que começa a instalar-se, enquanto não aparecer uma vacina ou remédios eficazes.  Terá de haver coragem para as implementar no mundo ocidental em que vivemos ou teremos de enfrentar uma catástrofe social e económica de proporções ciclópicas.
Estou seriamente preocupado com todos nós.
Como se diz na China: “Estamos a viver tempos interessantes!” , e eu acrescento: “Mas muito perigosos!”

29 janeiro 2020

O Gato Schrodinger 1

Schrodinger  -  O gato que atravessa as paredes 


( Conto para crianças e adolescentes que vivem na era da magia. 
Foi escrito para os meus filhos mais novos e para os meus netos, em honra dos gatos que viveram as suas vidas com a minha família e também em honra do físico que imaginou uma experiência célebre com um gato que existia vivo e morto ao mesmo tempo)

O meu gato é extraordinário em tudo. Primeiro: ele não nasceu como os outros gatos. Apareceu simplesmente dentro de casa, quando todas as portas e janelas estavam fechadas. Sei que os gatos conseguem fazer coisas estranhas, mas durante muito tempo não consegui explicar como é que ele apareceu.
Quando surgiu e começou a olhar fixamente para mim, senti-me um pouco assustado, pois era ainda um menino. Mas como ele não miou, não bufou, nem se mexeu,  comecei a  ficar relaxado e a admirar o belo exemplar de animal.
Em segundo lugar:  reparei que trazia uma coleira com um nome escrito - Schrodinger. Quando vi aquilo, pensei quem seria o maluco que deu um nome desses a um gato.  Depois, achei que era um nome nobre e que ficava bem àquele animal de porte altivo e aparência elegante.
Sempre desejei ter um gato e acho que Deus sentiu o meu desejo e me enviou o gato mais lindo do mundo. Era grande e tinha um pêlo brilhante e bem cuidado. Possuía uns grandes bigodes e tinha uns olhos inteligentes como os das pessoas.
Fiquei logo apaixonado por aquele gato. Corri para ele para lhe pegar e, estranhamente, não fugiu e deixou que o agarrasse, como se me conhecesse desde sempre.
Mostrei-lhe o quarto e falei-lhe enquanto lhe apresentava as minhas coisas: os meus brinquedos, as minhas mascotes, os meus livros, a minha consola.
Ele prestava atenção ao que eu dizia como se estivesse a entender tudo. Quando senti a minha mãe no hall, corri a abraçá-la :
"- Que lindo gato que me deste!"
A minha mãe respondeu-me espantada :
"- Que gato? "
Apontei então para o quarto onde o Schrodinger estava majestosamente sentado na minha cama:
"-Anda ver! Aquele! "
A minha mãe arrefecendo o meu entusiasmo disse :
“-Deve ser algum gato vadio que entrou em casa sem ninguém notar!”
 Retorqui:
" -Não pode ser vadio! Tem nome escrito na coleira: é o Schrodinger!"
Apanhei com mais um balde de gelo :
" - Então já deve ter dono! É com certeza o gato de algum vizinho que entrou por alguma janela aberta . Temos de o devolver. Enxota-o para  fora de casa! "
Choraminguei:
" - Mas ele gosta de mim! Até deixou que eu o pegasse ao colo! Deixa-o ficar cá em casa que vou perguntar aos vizinhos se alguém conhece o dono deste gato! "
 A minha mãe concordou e chamei pelo nome do gato que estranhamente me seguiu como um cão e juntos saímos para a rua. Durante horas, percorremos juntos todas as ruas da vizinhança , onde  perguntei em todas as casas, se aquele gato lhes pertencia.
Cansado mas feliz, regressei a casa, com o gato ao sempre ao meu lado e, triunfante, falei à minha mãe:
" - Ninguém o conhece! Por isso é meu ! Andava perdido e fui eu que o achei!”
A minha mãe arrefeceu novamente o meu entusiasmo quando me disse que tinha de pedir autorização ao meu pai para poder ficar com ele. O meu pai observou o bicho, comentou sobre o facto de estar bem cuidado e sobre a  coleira com o estranho nome.
Disse na altura:
"-Esta coleira parece feita de ouro amarelo e de ouro branco! Estranho!"
Contudo, aceitou que eu ficasse com ele em casa até aparecer  o dono. Resolvemos colocar um anúncio no jornal com a foto, o nome do gato e a frase : - É o Schrodinger! Entrega-se a quem provar que lhe pertence .
Publicamos o anúncio todos os fins de semana durante um mês, mas, para minha felicidade, ninguém reclamou o bichano.  Assim, fui ficando com ele em casa. Bem! Ficar é uma força de expressão, pois o Schrodinger desaparecia sem deixar rasto e voltava a aparecer no meu quarto, sem que ninguém desse pela sua entrada.
O meu estranho gato foi sempre um poço de surpresas estranhas. Se disser que o meu gato fala, ninguém vai acreditar e vão pensar que estou doido. Mas a verdade é que ele fala comigo. Bem, falar é uma forma de dizer, na realidade eu sinto as suas palavras como se fossem os meus pensamentos.
A primeira vez que isso me aconteceu achei que estava a ficar maluco. O gato estava a falar para mim, mas da sua boca não saia nenhum som. Nem sequer um pelo do seu bigode se mexia. Isso aconteceu quando estava  no meu quarto a tentar resolver um puzzle difícil e não conseguia. Então, ouvi alguém dizer-me:
" -Aí, serve a peça verde e castanha."
Assustado, olhei em volta e só vi o Schrodinger a olhar-me fixamente que, como de costume, tinha aparecido vindo do nada. Eu tinha fechado a porta e as janelas e estas continuavam fechadas. O gato continuava quieto mas a voz martelava-me os ouvidos:
"- Então não vês que aí serve a peça verde e castanha?"
Coloquei a peça no lugar e serviu. Espantado vi-me a perguntar ao gato:
" - Schrodinger ! Tu falas e sabes resolver puzzles? "
"- Sim!" - respondeu a mesma voz e o gato saltou para a mesa e, para meu espanto, começou a colocar no seu devido lugar, todas as peças do puzzle.
Desde esse dia habituei-me a falar com o meu gato. Mas isso era só quando ele queria. A maior parte das vezes ignorava os meus pedidos e comportava-se como se fosse mais estúpido do que os gatos normais. Uma vez, a minha mãe apanhou-me no quarto a falar com ele em voz alta, como habitualmente fazia e, quando abriu a porta, perguntou :
" -  Com quem estavas a falar? "
Respondi sem pensar :
"- Com o Schrodinger! "
" -Qual Scrodinger? Não vejo aqui nenhum gato!" - perguntou a minha mãe. Só então me dei conta que não havia nenhum gato no quarto e disse-lhe:
"- Deve ter saído quando abriste a porta. Os gatos são muito rápidos!"
Aquele gato com a minha família até entrava e saía pela porta. Comportava-se sempre  como um gatinho bem comportado. O que é certo é que passados alguns dias a minha mãe levou-me a um médico muito chato, que me fez muitas perguntas estúpidas sobre as minhas brincadeiras: sobre se eu ouvia vozes sem ver as pessoas e se via coisas que não existiam. Disse-lhe que não gozasse comigo. Que eu já era bem crescidinho para saber que não existem fantasmas, mas confirmei-lhe que falava com o meu gato, porque ele falava comigo. Disse-lhe que o Scrodinger resolvia puzzles e tinha conversas mais inteligentes do que a maioria dos adultos. Também lhe disse que o meu gato nunca me fez perguntas tão parvas como as dele.
Bem, o homem deve ter ficado muito zangado com a minha irreverência e deve ter dito isso aos meu pais, porque fiquei de castigo sem ver televisão nem jogar na minha consola muitos meses. E também fui proibido de brincar com o gato. O bicho deve ter-se apercebido de que não era bem vindo lá em casa porque passou vários meses sem aparecer.
Ainda vos não falei dos meus amigos. Sempre tive muitos amigos, além do gato, claro. No meu grupo éramos e ainda somos nove amigos. Todos conheciam o meu gato pois quando iam lá a casa encontravam-no muitas vezes no meu quarto.  Ouviam as minhas histórias com ceticismo, pois o bichano nunca foi mais do que gato, quando estavam presentes.
Às vezes, quando não conseguia safar-me nalgum jogo da consola eles gozavam comigo:
" -Porque não pedes ajuda ao Schrodinger ? De certeza que ele é capaz! "
Eu amuava sempre com essas piadas e o meu gato muito compreensivo saltava para o meu colo a confortar-me. Transmitia-me um sentimento de compreensão e conforto mesmo sem falar. Então, passado pouco tempo, passava-me o amuo e continuava a brincadeira.
Quando tinha dez anos, na véspera de do Dia de Pão por Deus (a festa do Halloween) aconteceu uma grande desgraça: o Hugo adoeceu de súbito e foi para o hospital. Ouvi os meus pais dizerem que ele estava mesmo muito doente e até podia morrer.
Isso aconteceu logo naquele dia em que tínhamos combinado ir juntos pelas portas pedir: - Pão, por Deus! ou -Doce ou travessura!
Fui para o meu quarto chorar e o Schrodinger como sempre apareceu de repente. Como sentiu que eu estava triste saltou para o meu colo e perguntou :
"-O que tens?"
Respondi:
"- O Hugo está no hospital e vai morrer! Tu que és um gato mágico, podias curá-lo!"
Schrodinger então disse:
"- Se me deres dez anos da tua vida eu dou-os ao Hugo e ele vive até aos vinte!”
“ Mesmo assim vai morrer tão cedo! " - respondi-lhe.
“ -Se cada menino do vosso grupo oferecer dez anos da sua vida ao Hugo, todos vós ides viver juntos até aos noventa. Achas que os outros concordam? " disse o gato .
"-Acho que sim! Vou chamá-los!”
Telefonei aos meus amigos e em menos de meia hora estávamos todos no meu quarto, onde lhes expus o plano do gato. Acharam que era mais uma das minhas maluqueiras e o gato dava-lhes razão: estava placidamente a observar-nos.
De repente a voz do Schrodinger gritou na minha cabeça:
"- O coração do Hugo parou! "
Ao ouvir isso gritei: " - O Hugo está a morrer!"
Nesse momento as paredes do quarto ficaram transparentes e nós estávamos a ver o Hugo na cama do hospital, ligado a muitos aparelhos estranhos a apitar e os médicos e enfermeiras a correr para ele.
Gritei para o Schrodinger:
"- Dou metade da minha vida.  Faz qualquer coisa!”
Os outros ainda abismados com o que viam disseram em coro :
"-Nós também! Schrodinger salva o Hugo! "
O Gato falou e então todos nós o ouvimos :
" - Vou tirar dez anos da vida de cada um e vou dá-los ao Hugo! Sois bons meninos.  Todos vão viver até aos noventa anos! "
As paredes tornaram-se outra vez opacas e nós começamos todos a pular e a gritar:
“ -Salvamos o Hugo! Salvamos o Hugo! "
Alarmada com aquela algazarra a minha mãe bateu à porta e perguntou:
" -  Que se passa? Abram a porta? "
O Schrodinger disse-nos:
 "- Ide visitar o Hugo!"  - e, à vista de todos, saltou através da parede e desapareceu.
Quando a minha mãe entrou\ contei-lhe que o Schrodinger curou o Hugo e perante o espanto dela, saímos a correr para a paragem do autocarro que passa no Hospital. Quando lá chegamos pedimos para visitar o Hugo, mas os rececionistas não queriam deixar-nos entrar. Ficamos retidos até que apareceu um médico que disse:
"-São vocês os amigos do Hugo? Ele está à vossa espera! ponham a máscara, vistam a bata e calcem as sabrinas, para entrar nos cuidados intensivos. "
Fizemos isso num ápice, subimos de elevador  e entramos na sala onde havia muitos médicos espantados. Aquele que nos acompanhou desde a receção disse para os outros:
"-São estes os meninos que o Hugo diz que lhe emprestaram dez anos das suas vidas . Parece inacreditável, mas  depois da crise, ele está milagrosamente curado. Acho que no fim do dia podemos mandá-lo para casa. Podem ir todos mendigar os bolinhos do Halloween!"
Não tínhamos a certeza de como é que o Hugo sabia o que tinha acontecido, mas desconfiávamos.   Ninguém se referiu ao gato que atravessava as paredes. Era o nosso segredo.